segunda-feira, 27 de abril de 2015

Se não correr o bicho pega

Deslocamento para atendimento de acidente que a equipe PRF anterior não atendeu. Rádio chama, informa novo acidente ali próximo (quem vê pensa que aqui no trecho existe alguma coisa próxima da outra) envolvendo 4 veículos, vítimas feridas, condutores sob suspeita de ingestão de bebida alcoólica; perímetro urbano da maior cidade da região.
Imprensa, curiosos com crianças no colo para ver a desgraça alheia, ladrões de objetos em interior de veículo acidentado, tudo isso e mais um pouco... Ops, Concessionária no local sinalizando e removendo os veículos do leito da via para evitar novo acidente (trecho pedagiado é outra realidade).
Dentro da Viatura a apreensão toma conta da equipe! Mentira, estamos acostumados com essas aberrações nesse país que tinha tudo para ser um dos melhores do mundo, mas a sua gente faz dele essa Casa da Mãe Joana que é!

Passando pelo local do primeiro acidente, poucos vestígios, ausência de veículos e vítimas envolvidas. Por que será?

Segue-se para o segundo acidente e... Começou a palhaçada! 3 veículos retirados da pista, 4º veículo evadido do local. Por que será?

Tentativa de localização dos condutores e ocupantes dos veículos? Continua a palhaçada! Ninguém no local.
- Um condutor recebeu socorro médico (Atendimento pré-hospitalar) e encontrava-se no Hospital Regional.
- Segundo envolvido (cujo veículo teve perda total) misteriosamente abandonou o veículo e tomou rumo incerto. Por que será?
- Um terceiro envolvido, ferido, negou atendimento da Concessionária e evadiu-se do local. Por que será? Equipe PRF recebe informação de que ele se apresentara no Hospital Regional e ao chegar lá: evadiu-se novamente. Por que será?

Doses de impunidade com teor alcoólico acima de 90% não fazem mal a ninguém, não é, sociedade hipócrita brasileira? Vivemos no país do garantismo, onde todos reclamam seu Direito de Ir e Vir, mas ninguém é obrigado a Permanecer, nem que seja para prestar esclarecimentos aos agentes da autoridade de modo a elucidar um evento excepcional quanto ao bom funcionamento da sociedade da qual ele faz parte. Ora, mas é só um acidente de trânsito e acidentes acontecem. Não, não é "só" um acidente de trânsito: é um ACIDENTE DE TRÂNSITO!

Ninguém deve ter o Direito de ludibriar o Estado, ninguém pode ter a cabeça alisada pela Lei ao decidir invocar Direito individual quando isso gera prejuízo para terceiros de forma direta e à coletividade de forma indireta. Esse protecionismo gera custos ao Estado, provoca danos sociais. Até quando vamos aceitar isso?

Balanço Geral

Condutor do veículo 1 (causador do acidente) estava embriagado, o que foi corroborado por sua declaração e pelo teste de ar alveolar (Etilômetro) que acusou 0,50mg/L. Boletim de Ocorrência encaminhado a autoridade policial, sem prejuízo das infrações administrativas anotadas.

Condutor do veículo 2 (o fujão metido a esperto) estava embriagado conforme Avaliação Clínica/Médica. Boletim de Ocorrência encaminhado a autoridade policial, sem prejuízo das infrações administrativas anotadas. Ganhou alguns "pontos" na cara porque não usava cinto de segurança. Perdeu a caixa térmica cheia de latas de cerveja ainda geladas que transportava, além de ter o veículo com danos de média monta que lhe custará uma bagatela, perto do valor que seria um funeral (saiu no lucro).

Condutor do veículo 3 (fujão atordoado) muito provavelmente estava embriagado, pois não teria outro motivo para abandonar o local e o veículo com todos os seus pertences no interior. Não foi autuado, mas perdeu o veículo (Grande monta = Perda Total). Também saiu no lucro, visto que quando conseguir vender o carro para o "ferro velho" pouco lhe sobrará para pagar o pátio para onde foi removido após o acidente; com certeza também mais barato que um funeral.

PRF retorna para sua Unidade Operacional para procedimentos administrativos e continuidade da fiscalização. Chuva de multas e um Boletim de Acidente de Trânsito "chatinho" para fazer, visto que foi difícil entender a dinâmica do acidente avaliando-se somente pelos sinais na pista de rolamento, além dos danos nos veículos.

Seguimos na luta, fazendo muito com o pouco que nos é dado. Remédio amargo da sociedade doente desde o cerne. Orgulho de voltar para casa com a certeza do dever cumprido, mesmo sendo árdua a batalha contra as forças ocultas.

PRFoxxx

Spirytus Rektyfikowany

Polaco, o aventureiro, pretendia fazer um voo solo do campo para a cidade, mas mal poderia imaginar que no meio do caminho tinha um Posto PRF; tinha um Posto PRF no meio do caminho!
Mas por que Polaco não percebeu? Efeito do Spirytus Rektyfikowany, claro...

Polaco era tão azarado, que teve a sorte grande (ou vice-versa?) de ter sido interceptado por uma equipe PRF num fim de plantão. Antes um fim de intermináveis 24 horas para nós, do que o fim da vida para ele.

Polaco era tão sortudo, que nessa equipe, enquanto um torcia o nariz para o risco de encontrar uma "alteração" no fim do plantão, outros dois estavam doidos para que essa alteração acontecesse. Polaco, sorria! O senhor foi mais um sortudo a ganhar um par de algemas (que nada, o Gilmar Mendes proibiu a gente de algemar preso porque "fere a dignidade da pessoa humana") em vez de um paletó de madeira. O efeito do Spirytus Rektyfikowany é tão incipiente que você, Polaco, não conseguia sequer ver que não rodaria mais poucos quilômetros até ser atingido por outro veículo, que interceptaria a sua Polonesie em cima de uma moto!

Agora Dentro Da Viatura você sorri sem graça enquanto eu te falo da bênção que incidiu sobre você quando decidimos abordá-lo. Agora você se abre e mostra o quão ingênuo foi ao querer pilotar uma motocicleta sem CNH e embriagado. Polaco, das poucas vezes que senti pena de alguém nesses meus anos de polícia, essa foi uma delas... porque você é um trabalhador rural semi-analfabeto? Não, porque você é uma amostra num universo de condutores que não fazem noção do perigo que é utilizar nossas rodovias, ao mesmo tempo em que vocês são o perigo ao qual estamos sujeitos.

Dessa vez você vai voltar para casa (após pagar uma fiança ridícula, claro) e poder abraçar sua mãe novamente; não precisa nos agradecer por isso. Só o fato de não fazer novamente, como você me prometeu, já terá merecido meu respeito e justificado o tempo que parei aqui na frente do computador para escrever essa história para você, cara. Por incrível que pareça, dentre as dezenas de condutores embriagados que prendo por ano, sua história me tocou exatamente pela sua humildade em admitir que errou e reconhecer nosso trabalho em função da segurança da sociedade. Obrigado pela contrapartida!

PRFoxxx