quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Mudança

Vamos conjugar o verbo mudar:

- Eu estou mudando de casa (e isso tem me tomado tempo de publicar no Blog).
- A escala do Mato Grosso está mudando de 24x72 para um modelo amorfo que ainda não tenho condição de explicar para vocês, visto que ela começa a funcionar no início de Outubro.
- O efetivo está mudando, visto que uma turma nova chegou há alguns meses e alguns colegas foram removidos para outras regionais.
- A única coisa que não está mudando é nossa remuneração, que há anos ficou congelada/atrelada a uns pífios reajustes (diferente de aumento, tá) inferiores a 5% a.a. e desde meados do ano passado, quando começamos a campanha salarial, conseguimos que a Dilmandona canetasse uma correção escalonada em 4 anos, dando em média 5% a.a. também (diante da inflação subdimensionada de 10%), descumprindo o previsto na Constituição Federal. Para piorar, agora o Temeroso nem isso deve dar, nos deixando a míngua. Aí o que muda? O empenho, os números; o ânimo de continuar fazendo milagre na pista.

Aí quando a gente cruza os braços e deixa que a sociedade se ph*da, começa o mimimi clamando pelo super-herói dos filmes americanos. A (pouca) grana cai na conta do mesmo jeito e o servidor ainda minimiza os riscos de se estrumbicar.

PRFoxxx

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Uma luz no fim da ignorância

Acenda a luz; alerte-se.

Poderia ser uma luz no fim do túnel, mas é apenas um passo dado no combate a ignorância do pobre brasileiro.
Não é meia-luz, não é farolete, não é farol de milha ou neblina: qual a dificuldade em entender que é "farol baixo", oh aborígenes?
Sim, aborígenes! Que rechaçam qualquer medida que seja (ou pelo menos se tente) em favor do aumento da segurança viária. Que gravam áudio patético para divulgar no Whatsapp com autor se intitulando “ex-comandante de operações de multas e recursos do Estado do Paraná”, que nunca foi e nunca será polícia, pois nem sabe usar termos técnicos/jargão policial; que nunca foi ou não será homem de falar a verdade para o povo, mas se presta a ficar por aí pregando falácias para manipular o já tão pobre (de recursos) brasileiro, que é rei do mimimi no que diz respeito às medidas de combate aos abusos no trânsito.
Pior é que esse tipo de gente ainda acha plateia, acha sósias (vi um vídeo de uma loira metida a polemiquinha no Facebook), que não tem senso crítico e saem difundindo as bravatas.
Enumeremos os argumentos alarmistas do gurizão metido a Zorro do Whatsapp, que tenta derrubar o efeito da nova lei que obriga o uso dos faróis acesos mesmo durante o dia nas rodovias:

1- “Eles inventaram a desculpa que é pra aumentar a segurança, aumentar a visibilidade, mas na verdade não existe nada disso. Nenhum outro país do mundo é obrigatório utilizar os faróis ligados. Pode ver: Alemanha, Estados Unidos, Japão, nenhum é obrigatório usar, ou seja, só aqui no Brasil que é perigoso. Lá nos outros países que têm velocidades ainda maiores não é perigoso”. Ao contrário do que parece, na verdade aqui no Brasil toda medida em prol da segurança é que vira muleta para os infratores. Obrigaram o uso de cinto de segurança: os rebeldes não usam. Obrigaram o uso de capacete de segurança, os rebeldes quando o usam, é vencido e sem a cinta jugular. E por aí vai... para cada conduta reprovável, há sempre um imenso rol de desculpas e argumentos (Leia mais em Desculpêndio e Justificário). Quem disse que em nenhum outro país o uso de luzes de posição ligadas durante o dia é obrigatório? O autor do "áudio-bomba" fez uma revisão bibliográfica no quase 200 países que existem? Não, preferiu lançar isso como uma verdade, considerando inclusive que os "ouvintes" também não o fariam (só pra variar, todo mundo só recebe uma informação sem checar a veracidade, a fonte e a procedência). O paraquedista chega a comparar a república das bananas com Alemanha, EUA e Japão, como se a configuração do trânsito de lá fosse como o daqui, como se os condutores de lá fossem kamikazes como os daqui, como se os veículos de lá tivessem a (in)segurança dos daqui. Ô PQD, talvez você devesse citar, por exemplo, que nesses países, pode até ser que não tenha lei que obrigue o condutor a fazer isso ou aquilo, mas lá os condutores sabem se portar; sabem que todo excesso é condenável e que só há 2 tipos de punição: a morte ou multa/cadeia pesada. Lá eles pensam 1000x antes de infringir as regras pensadas na coletividade. Já aqui, o antro do garantismo, todo bêbado é inocente até que mate inocentes que estavam no lugar errado na hora errada. Todo mundo é "trabalhador e cumpridor dos seus deveres" até que seja arremessado pela janela num capotamento em que não esteja usando o cinto de segurança.

2- “Os radares móveis nas rodovias têm um erro de cerca de 40 a 50% na detecção da alta velocidade. Com os faróis ligados, o farol funciona como uma espécie de ponto de referência pro laser conseguir detectar. Então o erro cai pra 2% ou seja, o faturamento de multa nessa época de crise vai aumentar cerca de 40 a 50%, vai aumentar porque agora vai ser muito difícil deixar escapar algum carro. Esse é o verdadeiro motivo da utilização dos faróis altos”. Mais uma lorota sem tamanho. Há 3 anos recebi capacitação específica e sou operador de radar (Trucam) e com absoluta certeza sei que a detecção do veículo não sofre influência de luz de posição ligada, sobretudo porque o "feixe de Laser" não é dirigido ao ponto iluminado do veículo, mas sim ao seu centro (preferencialmente, pois quem seria o idiota de tentar mirar o farol, que é posicionado nas extremidades do veículo?). Ah, e tem mais: porque um órgão de metrologia aprovaria um equipamento que tem erro instrumental de 40-50%? Pelo amor de Deus, só quem nunca pisou num laboratório de metrologia em universidade acharia que isso é plausível. Só falta agora esse espertão falar que o etilômetro (tão ignorante ele é, chamaria de "bafômetro") também não é um aparelho de medição confiável e tem erro instrumental bizarro como esse que ele inventou. Encerra apelando para a arrecadação (ah, a massa adora rebater fiscalização de trânsito falando em "fábrica de multas", quando na verdade vivemos em um criadouro de infratores). Nesse ponto até que ele tange o palpável, visto que os radares fixos (de instalação e manutenção caras) geralmente estão desativados ou foram destruídos pelos "justiceiros das rodovias". Sim, o radar móvel é tão eficiente que "pega geral": arrecada muito! (Ops, mas não era um equipamento ineficiente, com alta imprecisão???). Arrecada e poupa: poupa cofres públicos quando reduz o índice de acidentes. Reduz os custos sociais dos acidentes de trânsito, logo, se paga rapidamente.

3- “Então divulguem esse áudio da verdadeira sacanagem que é isso daí. Dentro da cidade parece que não é perigoso porque não é obrigatório utilizar os farois ligados. Então dá pra ver aí que é falcatrua isso daí velho”. Precisa dizer qual é o propósito desse infante, senão estar sob os holofotes (ainda que ele não tenha tido a coragem de mostrar a cara)? Mostra mais do que ele realmente queria: ele é tão ingênuo, que não entendeu o propósito da obrigatoriedade: veículo com farol baixo ligado é para ser visto! Por conseguinte, dentro da cidade, onde a perspectiva é absurdamente distinta de uma rodovia, não se faz efetivo o uso da luz de posição durante o dia (até que estudos comprovem o que já se desenha).

Pois bem, leitores. Reflitam mais uma vez se é nessa sociedade de alarmistas que viveremos passivos, sem contestar esse tipo de gente que exerce a anti-cidadania.

PRFoxxx

quarta-feira, 25 de maio de 2016

A heroína

Histórias de Rodovia: a heroína

Plantão anterior estávamos eu e meu parceiro retornando de atendimento de uma demanda próxima a Unidade Operacional PRF quando recebemos acionamento da Central informando acidente com vítima, a poucos quilômetros de onde estávamos.
Bem rápido chegamos ao local e logo visualizamos o cenário: 1 automóvel atravessado sobre a pista; outro veículo, uma caminhonete, fora da pista, próxima a uma árvore. Várias pessoas do local ajudavam a sinalizar, outros auxiliavam uma técnica em enfermagem e o condutor da ambulância da cidade próxima que haviam chegado antes de nós. Ah, não há Corpo de Bombeiros próximo! Esses 2 "socorristas" transportavam em uma prancha uma jovem senhora desacordada, enquanto ao lado caminhava seu também jovem esposo com uma criança de idade não superior a 2 anos, com seu corpo todo ensanguentado. Não só caminhava, como gritava: "foi aquele cara do Gol, culpa dele, policial!".
O "cara do Gol" logo foi localizado, ainda assustado e reportou sua versão do acidente para essa equipe PRF. Versão que posteriormente revelou-se consoante com a do condutor da caminhonete, bem como foi avaliada coesa com os vestígios observados no pavimento, caracterizando a dinâmica do acidente de trânsito.
Descrevendo o cenário: o veículo Gol realizava uma ultrapassagem sobre um caminhão (evadido do local), quando foi seguido pela caminhonete S10 (o que chamo de ultrapassagem cega); após concluir a ultrapassagem o condutor do Gol perdeu o controle da direção em virtude de irregularidades no pavimento (a pista está em reforma, sinalizada e eles já vinham nessa situação a aproximadamente 3 Km), quando a caminhonete S10 foi atingida lateralmente, fazendo com que seu condutor também perdesse o controle da direção, vindo a derrapar e sair de pista, capotando.
Ao descrever o cenário e acabar indo pra dinâmica, tento fazer com que imaginem o capotamento de uma caminhonete cabine dupla, carregada, com 3 ocupantes e numa velocidade provavelmente acima de 100 Km/h (uma vez que realizava ultrapassagem sobre um caminhão em declive)...
Conseguiu imaginar?
Não, tenho certeza que você não pode dimensionar o poder da inércia! A passageira do banco dianteiro Sra Sierra Fox e seu marido (e condutor) Sr Romeu Dobrado também não poderiam prever seu poder! Essa palavra inércia, cujo significado no contexto trânsito é sinônimo de tragédia, se fez prevalecer como nunca; se fez absoluta como sempre; se fez um Trebuchet para lançar mãe e filha pela janela da porta dianteira direita por meio da copa de uma árvore e repousarem a aproximadamente 10m da posição final do veículo. Repousar?!? A mãe repousou o sono eterno, enquanto a filha não dormiu, de tão assustada estava com o poder da alavanca da ignorância; com a ingenuidade de uma criança de menos de 2 anos que ainda não estudou física como seus pais (será que estudaram mesmo?); com a proteção divina. Divina é a mão que deve receber aquela jovem senhora no plano espiritual, pois aqui na Terra, restará sua filha a crescer precisando da mão de terceiros (com quem ela não tem laço umbilical) para seguir a caminhada.
É choro! Choro de criança que viajava sentada na cadeirinha (há muito estudada pelos técnicos para que pudesse oferecer segurança para esses seres tão frágeis) que fez com que a mãe se desprendesse de seu cinto de segurança logo depois de passar pelo posto PRF (enganação que atinge grande parte dos usuários da via) e retirasse do dispositivo de retenção/cadeirinha (com o veículo em movimento) aquela criança para acalentar. Bem, não deu muito certo... Aquele choro poderia ser evitado de diversas formas, poderia ter sido controlado de diversas outras, mas como a vida é feita de escolhas, Sra Sierra Fox preferiu fazer do jeito menos racional. Esse apontamento nem sou eu que estou fazendo, foi seu marido em depoimento horas depois do ocorrido, ainda sem ter a real noção do estrago irreversível da escolha de sua companheira. Pode até ser que aquela criança tenha parado de chorar ao ser retirada da cadeirinha, mas quantas vezes mais vai chorar sem sua mãe ao longo da vida??? Essa pergunta martela na minha cabeça continuamente desde aquele dia.
E onde é que entra a heroína na história, PRFoxxx? No discurso do Sr Romeu Dobrado, que ainda no hospital ao saber da morte de sua esposa (politraumatizada) começou a bradar que ela era uma heroína por ter se agarrado à criança quando na iminência do capotamento... Pode até ser que o instinto materno tenha feito diferença naquele voo de 2 corpos inertes no Trebuchet e a armadura daquela mãe tenha protegido a criança na queda, mas eu sinceramente acho improvável.
Considerada a distorção no termo heroísmo atualmente (depois que Pedro Bial chama BBBs de heróis, lascou tudo), para muitos pode até soar plausível o sr Romeu Dobrado pregar que sua esposa foi uma heroína, sobretudo porque ele deverá criar a filha falando que a mãe sacrificou sua vida por ela, MAS para mim (sem julgar), acho que irresponsabilidade não combina com heroísmo. Tivesse ela pedido para parar o carro em local seguro (neste trecho, em 18 Km há no mínimo 4 locais para isso, incluindo o posto PRF) e resolvido aquele choro, acalmado a criança e evitado o mal maior lá na frente. Tivesse ela doutrinado sua criança a viajar na cadeirinha sem resistência. Tivesse ela utilizado fatores de distração (só quem é pai/mãe sabe o poder de um vídeo infantil no celular, por exemplo). NUNCA tivesse ela optado por retirar sua filha daquele sítio seguro e transportado no banco dianteiro. NUNCA tivesse ela tirado seu cinto de segurança e virado uma estatística, deixando órfã aquela linda garotinha.

Heroína mesmo é minha mãe, que mesmo sem estudo e mesmo sem saber conceito de inércia, me ensinou que o correto deve sempre prevalecer! Ainda que as leis de trânsito não sejam perfeitas, nunca se deve negligenciar critérios de segurança, pois neste caso o detalhe (menosprezado por muita gente) faz diferença entre vida e morte.

PRFoxxx

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A toalha caiu

Há algum tempo publiquei um texto em que eu falava sobre ter jogado a toalha, estava apenas aguardando ela cair (baita eufemismo, de um brasileiro que toma porrada todo dia, mas "não desiste nunca").


Caiu!



Caiu que chegou a fazer barulho. Bateu pesado no chão. Peso do comodismo e do medo!



Do comodismo

Desde que entrei na PRF, há 7 anos, sempre bradei que não estudaria para outro concurso... que tinha entrado no emprego da minha vida... que eu tinha nascido para fazer isso. Não menti! Aqui me acertei, amo a atividade sem rotina, adoro trabalhar na escala (mesmo sabendo que ficar sem dormir e me alimentar incorretamente vai me tirar anos de vida lá na frente). Porém, ao afirmar essa aceitação, me fechei para outras possibilidades, mesmo sabendo que se eu continuasse estudando teria chance real de passar em outro cargo e, inclusive, com carreira/remuneração mais atrativos. Me acomodei não só no cargo, mas no cenário em que me encontrava. Minha lotação inicial (e única) me fez vir morar numa excelente cidade, trabalhar num bom trecho (sem histórico de corrupção, com chefia que me dava e ainda me dá liberdade de ação = autonomia) e enquanto estava solteiro a grana rendia bem. É quase inevitável a gente dar aquela "relaxada" e achar que tudo está tranquilo, está favorável. Mas as coisas mudam. O cenário muda. A cabeça muda!
Vi a minha remuneração estagnar, meu poder de compra reduzir, as despesas aumentarem, enquanto outras carreiras até menos expressivas (não digo menos importantes) e de leque menos amplo de atribuições terem um salto no Plano de Cargos, Carreiras e Salários graças aos seus sindicatos com articuladores sagazes enquanto na PRF há um sistema sindical manso, às vezes covarde, e sobretudo ingênuo. Vi até PRF sair para o DEPEN, quando antes era sempre esse departamento que perdia servidores para a PRF... é o poste mijando no cachorro!!!
De uma coisa não posso reclamar (chega a ser contraditório): ter ficado aqui neste cargo, nesta cidade, mudou muito minha vida para melhor. Talvez em outro órgão e em outra lotação eu estivesse ganhando mais, mas será que eu estaria tão realizado como estou agora? Ficará sempre a dúvida.


Do medo

O que é um policial com medo: É a mesma coisa de um médico que treme? De um jornalista gago? De um professor sem didática?
A cada plantão que coloco meu uniforme, me equipo e vou para a pista, vou com medo!
1) Medo de tomar uma invertida do infrator: depois que recebi um processo de recurso de autuação e revisão de boletim de acidente de trânsito que fiz, em que o impetrante imputava crime à minha conduta com o simples ânimo de alterar os apontamentos e dar o golpe na seguradora usando o agente público para isso, passei a trabalhar com medo. Medo dessa ética nojenta de advogados inescrupulosos, que por conta de uns trocados do seu cliente, podem (inclusive blindados pela OAB) imputar crime à conduta do agente público, que pode culminar inclusive em sua demissão (além de implicações na esfera penal).


2) Medo de tomar uma invertida do bandido: depois que o seu advogado apontou no MPF a mim e mais 3 colegas como supostos "invasores de residência" numa ocorrência de flagrante, com a mesma ética nojenta do "profissional" do exemplo anterior, forjando conduta reprovável e tornando assim o flagrante nulo (manobra porca); passo também a combater o crime com medo de a qualquer hora "ir para a rua" porque algum advogado de porta de cadeia me sacrificou para salvar seu "cliente".



3) Medo de tomar uma invertida do parceiro: por incrível essa é minha atual preocupação no serviço, pois nos outros 2 exemplos anteriores, de certa forma já aprendi a me precaver. Mas essa nova modalidade de acuar o policial vem de dentro da própria instituição. Vem de uma doutrina de ensino que pega jovens entrando no serviço público, grande parte formados em faculdades de direito, e os forma teóricos medrosos. Fui novato, senti receio em alguns procedimentos, fiquei inseguro ao fazer algumas autuações, mas NUNCA fui um cagão que deixaria meu parceiro na mão. Hoje estou sujeito a dividir equipe com colegas que, mesmo com a ocorrência "pulando no colo" (indícios de autoria de crime ou flagrante explícito), ainda pensem em montar um conselho deliberativo, juntar jurisprudência, avaliar mérito, discutir rito processual e etc para poder encaminhar a ocorrência a autoridade policial. Autoridade policial essa que é o primeiro filtro jurídico da coisa. Tem base para levar a ocorrência? Encaminha, p*rra! Se o delegado não receber, terá que fazê-lo com motivação e deverá ser explicitados os motivos. Não cabe ao policial ostensivo ficar fazendo "considerandos" lá na pista. Não cabe ao agente advogar em causa do infrator. Tem gente que confunde o in dubio pro reo com o ser advogado do diabo! Estamos aqui para aplicar a lei, mas se essa lei deixa dúvidas de interpretação, não cabe a nós ficar com ponderações quando a tomada de decisão requer segundos. Nessa ótica, aquele colega que saiu da academia como um cagão com diploma na mão, será o que me deixará na merda na hora do confronto. Ele não será capaz de atirar primeiro, pois ele acha que polícia só pode revidar injusta agressão, pois o perigo iminente não o deixa agir. Se ele chegar a sacar a arma e atirar, dará somente 2 tiros, pois ficará com medo de dar mais e ir contra o que prega a doutrina (mesmo que tenha recebido uma rajada de fuzil 7.62). Esse colega vai tomar um pau de um manifestante, mas não usará o Dispositivo Condutor de Energia (Taser), pois terá medo de haver alguma câmera ligada e ele ser tachado de torturador. Ele não fará uma autuação de trânsito por ultrapassagem em faixa contínua, pois terá medo de o infrator impetrar recurso (protelatório) e ele responder PAD por abuso de autoridade.



Desculpem, mas o sistema me leva a operar na lei do mínimo esforço.



PRFoxxx

sábado, 30 de abril de 2016

Estamos de volta

Prezados e fiéis leitores, primeiramente gostaria de pedir desculpa pela ausência por esse longo período.
Fatores pessoais e profissionais causaram esse afastamento, porém isso não pode servir de "muleta" para eu me escorar ao pedir vossa atenção novamente. Os problemas de ordem pessoal, acredito não ser conveniente detalhar, porém os de cunho profissional, ah, esses sim dariam um livro nesse meio tempo de afastamento das publicações.
Num primeiro momento, parei de escrever por puro desgosto acumulados em longos meses de negociação salarial (correção). Desde o ano passado o governo intransigente vem travando uma dura queda de braço com o funcionalismo público, em especial o Executivo Federal (já que o legislativo e o judiciário meio que tem "vida própria" nesse sentido). Proposta pífia (para não dizer infantil e desrespeitosa) com vários dos órgãos que pleitearam o reajuste (não entenda como aumento) previsto na Constituição Federal. O governo simplesmente divulgou um índice de inflação subestimado (inferior a 9% em 2015) e para piorar, ofereceu uma contrapartida de 4,5% que, além de não chegar perto sequer de compensar a perda do poder de compra, ainda funcionaria como um "cala boca" por mais 4 anos. Sinceramente, não tem como considerar isso como uma chacota com aquele que se propôs a jogar a regra do jogo, estudou e passou num concurso disputado, serve à sociedade e de uma hora para outra vê a regra do jogo mudar unilateralmente para satisfazer os caprichos de uma chefe do Executivo Federal que toca uma carroça morro abaixo, sem rédea e se freio, apoiada por um Ministro da Justiça que sempre subjugou essa força de segurança pública, além de um Ministério do Planejamento que mais parece uma cuia de chimarrão, passando de mão em mão num piscar de olhos. Sinal claro desse jogo de empurra é a tática de marcar reuniões para agendar reuniões, para receber a proposta, para agendar nova rodada de negociações que no fim das contas não decidem nada; pura protelação.
Chega! Todo trabalhador cansa de ser enrolado, sobretudo quando o "embromador" é uma pessoa como J.E. Cardozo, o mentiroso (ah, o famoso vídeo em que brada que a PRF deixaria de ser a prima pobre no Ministério da Justiça); que no auge (até então) de sua pirraça institucional chegou a criar um documento intitulado Ordem Interna ameaçando os servidores (principalmente os que estão no estágio probatório) de demissão caso não trabalhassem mantendo as médias históricas de produtividade; ao passo que o serviço sempre foi executado muito além do "previsto na cartilha". O que o nobre Ministro quis com isso: evitar um movimento paredista. Mas que movimento paredista? Desde quando evitar dar o sangue na pista sem ter minimamente condições de fazê-lo é movimento paredista? Desde quando trabalhar sem Instrumentos de Menor Potencial Ofensivo (obrigatórios pela legislação vigente) é movimento paredista? Desde quando evitar fazer abordagem com inferioridade numérica é movimento paredista? Por aí vai...
Tem gente que vive fora da casinha eternamente; precisava parar o carrossel no Olimpo e dar uma pisadinha aqui no mundo real para ver como a banda toca!
Não bastasse o chilique do chefe supremo ultra power, ainda veio fogo amigo de onde nunca deveria ter vindo, mas claro, para se manter na cadeira, tem gente que também não sai do país das maravilhas para lutar o bom combate com seus pares. Fica lá, com as estrelinhas querendo pular do ombro e num dos últimos suspiros chega a querer usar setores da própria PRF para dissuadir o efetivo na luta por justiça e derrocar o movimento de efetivo nunca antes visto na história dessa polícia.
Nesse furacão chamado campanha salarial, onde entra esse pobre (em ambos os sentidos) servidor? Não sou sindicalista (e se algum dia inventasse de ser, não ia dar coisa que presta, hahaha) nem tampouco estava no corpo a corpo. Participava somente de grupos internos nos quais vi muita união, mas também o lado podre de muitas pessoas. Li muito, briguei bastante (novidade, hahaha), aprendi muita coisa, mas me afastei. Me desliguei de tudo porque estava adoecendo. Minha vida social estava afetada pelo momento e pela imersão em que eu acabei me acometendo, mesmo sem querer.
Decidi então fazer uma introspecção e decidir o que seria melhor para mim. Estava praticamente decidido a não escrever mais no Blog (inclusive porque tem agente duplo/leva-e-traz doidinho para ver rolarem cabeças como a minha); saí de quase todos os grupos de discussão (sindicalismo, policiamento especializado e etc), mas (in)felizmente não consigo largar a polícia: primeiro porque é meu emprego e dá sustento à minha família; segundo porque mesmo tomando na cara todo dia e toda hora como um cachorro de rua, quem escolhe polícia é porque tem polícia no sangue e mesmo com a remuneração defasada, não deixa de honrar o uniforme que veste (a administração pública superior conta com isso para pisar na gente).
Inevitavelmente o Blog está atrelado a isso e não posso deixar de vir escrever, ainda mais porque recentemente recebi algumas cobranças a respeito desse afastamento. Só para constar apesar de não estar publicando mais, eu sempre lia os comentários e bolava novas publicações; infelizmente abortei algumas histórias legais de plantões recentes - não é porque parei de escrever que o serviço parou também, muito pelo contrário, a demanda só aumenta, pois como diz um amigo: "o crime não pára, parceiro".
É isso aí, desculpem me alongar, mas é que fica difícil dar uma satisfação sendo vago ou sucinto demais.
Mais uma vez obrigado pela fidelidade!

PRFoxxx

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Botas, pra que te quero!

Desabafo de uma esposa de policial (Texto adaptado)

Estas aqui são as botas do meu marido. Coloquei-as na área para secar, não porque lavei, mas porque chegaram encharcadas após um plantão noturno abaixo de chuva.
Bom, meu marido chegou em casa as 10:00 da manhã, estraçalhado por um sistema inoperante e pela sobrecarga de atividades. Apesar de sua experiência profissional lhe permitir um “certo” equilíbrio emocional, muitas vezes chega psicologicamente abalado e fisicamente cansado. Cansado de passar horas em uma delegacia, cansado de correr atrás de vagabundo, cansado de se envolver em conflitos com bêbados ao volante, cansado de atender acidentes com vítimas fatais, onde ele mesmo na maioria das vezes é quem dá a triste notícia para a família. Às vezes até médico ele tem que ser fazendo primeiros procedimentos para tentar salvar uma vida antes que o socorro chegue.
Geralmente essas tragédias acontecem em épocas festivas de maior movimento nas estradas, como Natal, Ano Novo e Páscoa, o que contribui ainda mais para que chegue em casa acabado.
Somos nós, os familiares que o "recuperamos" depois de um plantão. Mas voltando às botas, são elas que resolvem os problemas no caminho garantindo a segurança para que você possa passear tranquilo com sua família. Mesmo assim nunca está bom, sempre recebe críticas da sociedade.
Esta noite eu não tive meu marido deitado ao meu lado, e aí a sociedade me entrega ele ao amanhecer molhado, cansado e com os pés calejados dentro desta bota.
Às vezes o vagabundo que foi preso durante o plantão chega em casa antes que meu marido... E ainda tem gente que fala mal de polícia: "Esses aí ganham para não fazer nada”. Primeiramente ninguém os colocou lá; foram horas, dias, meses e até anos estudando para alcançar o tão sonhado cargo de servidor público. E outra... Você sabe quanto custa uma bota desta aí? Quanto custa um jogo de farda? Vou trocar a pergunta. Sabe quanto pesa vestir uma farda? São quase 10 Kg de farda no corpo. Uma blusa de malha, um jogo de fardas, um par de meião, um cinto de couro, um colete balístico, um coldre com arma na cintura, um boné e, claro, as “Botas”... Tudo isso abaixo de sol e chuva!! Mas vou reformular a pergunta novamente. Sabe quanto pesa na alma vestir uma farda desta?
Não sei se eu me sinto feliz em não ser uma policial ou desonrada em não ser. Há quem diga que polícia não presta. Sinceramente quem não gosta de polícia é vagabundo. Eu não tenho medo de polícia! Não tenho medo de ser parada em uma blitz, nem de ter o carro revistado, nem a bolsa olhada. Quem não deve não teme!
Existem os hipócritas que não gostam, que dizem que são truculentos, mas quando precisam, querem que a polícia venha e coloque ordem no pedaço. Mas só eu e os familiares de um policial sabemos como é triste a sociedade tão hipócrita, nos devolver eles assim...estraçalhados pelo sistema!

Ass: Michela B. Mariano – casada com PRF Papa Sierra.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Carta Aberta - PRF

Carta de um Policial Rodoviário Federal ao Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto, presidente do Superior Tribunal de Justiça.

Nobre Ministro, permita-me a apresentação:

Tenho 87 anos de existência e tenho certeza de que o senhor não me conhece adequadamente.

Sou um trabalhador diferente dos demais, pois trabalho a noite, mas não faço jus à remuneração do trabalho noturno superior à do diurno, como garante a Constituição Federal a todos os trabalhadores;

Trabalho rotineiramente acima da jornada de trabalho prevista para o meu cargo, mas não recebo remuneração pelo serviço extraordinário, conforme dispõe o Art. 7, XVI da CF;
Trabalho na fronteira, mas não recebo a indenização pelo exercício de atividade penosa em área de fronteira, conforme determina a Lei 12.855/2013 e apesar de ser servidor público civil, o Supremo Tribunal Federal entende que por ser policial não tenho direito subjetivo à greve, como se militar fosse.
Muito prazer, sou Policial Rodoviário Federal.
Escrevo esta carta destinada a Vossa Excelência, pois acaba de conceder medida liminar determinando que as entidades sindicais que me representam abstenham-se "de deflagrar o movimento paredista, inclusive na forma de "operação padrão" ou outra ação organizada que, direta ou indiretamente, venha a interferir nas rotinas, condutas e protocolos estabelecidos e normalmente adotados, no âmbito interno e no tratamento ao público, sob pena de multa de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil Reais) por dia de descumprimento".
Tenho certeza de que o senhor proferiu a presente decisão liminar por desconhecer a realidade atual dos policiais rodoviários federais.
Não existe, como  quer fazer parecer o Governo Federal, iminente ameaça de suspendermos a prestação de serviços a sociedade, através de movimento grevista, ou qualquer movimento de omissão coletiva de cumprimento das nossas obrigações.
Infelizmente, os policiais rodoviários federais estão sendo acometidos por um surto epidêmico desmotivacional que está afetando consideravelmente o seu desempenho laboral, conforme passo a expor detidamente:
Nos últimos oito anos, o policial rodoviário federal tem se desdobrado de maneira sobre-humana no desempenho de suas obrigações, especialmente diante das péssimas condições de trabalho a que está subjugado. Apesar das imensas dificuldades que enfrenta, conseguiu oferecer a sociedade um serviço público de qualidade, tornado-se o policial mais eficiente do Brasil.
Só a título de exemplo, os PRFs representam apenas 1% (um por cento) de todos os policiais brasileiros, mas a Polícia Rodoviária Federal é a polícia que apreendeu a maior quantidade de drogas do país no ano passado e conseguiu reduzir, nos últimos quatro anos, 20% dos acidentes e 22% das mortes nas rodovias federais, o que rendeu ao Brasil um prêmio internacional de segurança viária concedido pela ONU.
Esses resultados expressivos  da PRF foram alcançados mesmo possuindo o menor orçamento e o menor efetivo policial dentre as instituições de segurança pública do país, o que demonstra a eficiência e o esforço surreal de seus policiais.
O Policial Rodoviário Federal conseguiu atingir tamanhos resultados, destacando-se dos demais, não apenas por sua capacidade multitarefa e sua abnegação, mas especialmente por  ter se tornado um servidor policial proativo e não ser simplesmente mais um ser reativo. Essa proatividade não foi algo plantado e germinado deliberadamente pela instituição, ela brotou espontaneamente dos policiais e foi contagiando a todos de maneira positiva e gradual ao longo desses últimos anos, o que nos fez alcançar tamanha eficiência.
Mesmo com tanta dedicação e empenho, os policiais rodoviários federais amargaram a redução de quase 50% dos seus vencimentos, considerando a correção do IGPM nos últimos nove anos, o que faz com que estes servidores não consigam mais prover uma sobrevivência digna a sua família.
Apesar do sofrimento que vem passando, em virtude da depreciação dos seus salários, os PRFs acreditavam que, de forma meritocrática, em reconhecimento a abnegação, dedicação e eficiência alcançadas, teriam os seus proventos recompostos minimamente, pelas perdas inflacionárias sofridas, na negociação salarial deste ano, o que não ocorreu. 
Com a frustração dessa expectativa coletiva, disseminou-se rapidamente um sentimento comum de consternação profunda, principalmente ao verificarmos a recomposição salarial de outras carreiras, restando aos policiais rodoviários indiferença e desprezo por parte do Governo.
O ser humano policial é a essência da instituição. Dessa forma, quando os homens adoecem, a organização perde produtividade e qualidade nos seus serviços prestados. Imagine, então, o impacto que essa enfermidade generalizada está causando em um órgão que baseia  seu bom desempenho na proatividade do policial.
Apesar disso, podemos assegurar que não houve e nem haverá qualquer alteração nas rotinas, condutas e protocolos adotados pelo policial rodoviário, pelo profissionalismo e comprometimento demonstrado durante os seus 87 anos existência.
Vislumbramos, apenas, uma mudança no sentimento interno do PRF que deixou de ser um trabalhador proativo e passou a ser um indivíduo completamente reativo. Para percebermos isso, basta observarmos detidamente qualquer policial rodoviário e notaremos facilmente um olhar atônito, uma aura carregada de tristeza, seguramente o mesmo semblante de uma pessoa quando; perde um ente querido.
Cumpre-nos destacar que não somos paredistas, desordeiros, nem tampouco deixaremos de cumprir nossas rotinas e protocolos orgânicos, pois nunca vacilaremos no cumprimento da nossa missão institucional.
Diante do exposto, gostaria que vossa excelência se sensibilizasse ao compreender que no momento sofremos de uma enfermidade generalizada cujo tratamento depende da valorização do Policial Rodoviário Federal, para que nele subsista motivação e ele possa voltar a ser o guerreiro proativo de outrora.
Assim, a eminente decisão proferida por este douto julgador aprofunda ainda mais a epidemia desmotivacional que acomete os policiais rodoviários, já que estes batalhadores incansáveis diuturnamente zelam pela ordem, mantendo a paz social em nosso país, mesmo sendo negado a eles direitos fundamentais dos trabalhadores (como os mencionados na apresentação inicial) sendo a decisão desproporcional, uma vez que esses profissionais jamais cogitariam colocar a segurança da sociedade brasileira em risco.


Votos de apreço e estima,
Do singelo Policial Rodoviário Federal, Delta Romeu.