quarta-feira, 11 de maio de 2016

A toalha caiu

Há algum tempo publiquei um texto em que eu falava sobre ter jogado a toalha, estava apenas aguardando ela cair (baita eufemismo, de um brasileiro que toma porrada todo dia, mas "não desiste nunca").


Caiu!



Caiu que chegou a fazer barulho. Bateu pesado no chão. Peso do comodismo e do medo!



Do comodismo

Desde que entrei na PRF, há 7 anos, sempre bradei que não estudaria para outro concurso... que tinha entrado no emprego da minha vida... que eu tinha nascido para fazer isso. Não menti! Aqui me acertei, amo a atividade sem rotina, adoro trabalhar na escala (mesmo sabendo que ficar sem dormir e me alimentar incorretamente vai me tirar anos de vida lá na frente). Porém, ao afirmar essa aceitação, me fechei para outras possibilidades, mesmo sabendo que se eu continuasse estudando teria chance real de passar em outro cargo e, inclusive, com carreira/remuneração mais atrativos. Me acomodei não só no cargo, mas no cenário em que me encontrava. Minha lotação inicial (e única) me fez vir morar numa excelente cidade, trabalhar num bom trecho (sem histórico de corrupção, com chefia que me dava e ainda me dá liberdade de ação = autonomia) e enquanto estava solteiro a grana rendia bem. É quase inevitável a gente dar aquela "relaxada" e achar que tudo está tranquilo, está favorável. Mas as coisas mudam. O cenário muda. A cabeça muda!
Vi a minha remuneração estagnar, meu poder de compra reduzir, as despesas aumentarem, enquanto outras carreiras até menos expressivas (não digo menos importantes) e de leque menos amplo de atribuições terem um salto no Plano de Cargos, Carreiras e Salários graças aos seus sindicatos com articuladores sagazes enquanto na PRF há um sistema sindical manso, às vezes covarde, e sobretudo ingênuo. Vi até PRF sair para o DEPEN, quando antes era sempre esse departamento que perdia servidores para a PRF... é o poste mijando no cachorro!!!
De uma coisa não posso reclamar (chega a ser contraditório): ter ficado aqui neste cargo, nesta cidade, mudou muito minha vida para melhor. Talvez em outro órgão e em outra lotação eu estivesse ganhando mais, mas será que eu estaria tão realizado como estou agora? Ficará sempre a dúvida.


Do medo

O que é um policial com medo: É a mesma coisa de um médico que treme? De um jornalista gago? De um professor sem didática?
A cada plantão que coloco meu uniforme, me equipo e vou para a pista, vou com medo!
1) Medo de tomar uma invertida do infrator: depois que recebi um processo de recurso de autuação e revisão de boletim de acidente de trânsito que fiz, em que o impetrante imputava crime à minha conduta com o simples ânimo de alterar os apontamentos e dar o golpe na seguradora usando o agente público para isso, passei a trabalhar com medo. Medo dessa ética nojenta de advogados inescrupulosos, que por conta de uns trocados do seu cliente, podem (inclusive blindados pela OAB) imputar crime à conduta do agente público, que pode culminar inclusive em sua demissão (além de implicações na esfera penal).


2) Medo de tomar uma invertida do bandido: depois que o seu advogado apontou no MPF a mim e mais 3 colegas como supostos "invasores de residência" numa ocorrência de flagrante, com a mesma ética nojenta do "profissional" do exemplo anterior, forjando conduta reprovável e tornando assim o flagrante nulo (manobra porca); passo também a combater o crime com medo de a qualquer hora "ir para a rua" porque algum advogado de porta de cadeia me sacrificou para salvar seu "cliente".



3) Medo de tomar uma invertida do parceiro: por incrível essa é minha atual preocupação no serviço, pois nos outros 2 exemplos anteriores, de certa forma já aprendi a me precaver. Mas essa nova modalidade de acuar o policial vem de dentro da própria instituição. Vem de uma doutrina de ensino que pega jovens entrando no serviço público, grande parte formados em faculdades de direito, e os forma teóricos medrosos. Fui novato, senti receio em alguns procedimentos, fiquei inseguro ao fazer algumas autuações, mas NUNCA fui um cagão que deixaria meu parceiro na mão. Hoje estou sujeito a dividir equipe com colegas que, mesmo com a ocorrência "pulando no colo" (indícios de autoria de crime ou flagrante explícito), ainda pensem em montar um conselho deliberativo, juntar jurisprudência, avaliar mérito, discutir rito processual e etc para poder encaminhar a ocorrência a autoridade policial. Autoridade policial essa que é o primeiro filtro jurídico da coisa. Tem base para levar a ocorrência? Encaminha, p*rra! Se o delegado não receber, terá que fazê-lo com motivação e deverá ser explicitados os motivos. Não cabe ao policial ostensivo ficar fazendo "considerandos" lá na pista. Não cabe ao agente advogar em causa do infrator. Tem gente que confunde o in dubio pro reo com o ser advogado do diabo! Estamos aqui para aplicar a lei, mas se essa lei deixa dúvidas de interpretação, não cabe a nós ficar com ponderações quando a tomada de decisão requer segundos. Nessa ótica, aquele colega que saiu da academia como um cagão com diploma na mão, será o que me deixará na merda na hora do confronto. Ele não será capaz de atirar primeiro, pois ele acha que polícia só pode revidar injusta agressão, pois o perigo iminente não o deixa agir. Se ele chegar a sacar a arma e atirar, dará somente 2 tiros, pois ficará com medo de dar mais e ir contra o que prega a doutrina (mesmo que tenha recebido uma rajada de fuzil 7.62). Esse colega vai tomar um pau de um manifestante, mas não usará o Dispositivo Condutor de Energia (Taser), pois terá medo de haver alguma câmera ligada e ele ser tachado de torturador. Ele não fará uma autuação de trânsito por ultrapassagem em faixa contínua, pois terá medo de o infrator impetrar recurso (protelatório) e ele responder PAD por abuso de autoridade.



Desculpem, mas o sistema me leva a operar na lei do mínimo esforço.



PRFoxxx

10 comentários:

  1. Finalmente de volta...para nossa alegria!
    Mais uma vez, você nos traz a triste realidade a que estamos impostos. Uma sociedade "ingênua", hipócrita, mal alimentada de informações e, para nossa tristeza, de valores totalmente invertidos.
    Aliás, foxxx, isso daria um texto interessante.

    Abraço, e não suma mais! (hahahah)

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  2. Infelizmente essa é a realidade, mas mesmo com ela serei PRF e irei dizer,orgulho de Pertencer!

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  3. Infelizmente essa é a realidade, mas mesmo com ela serei PRF e irei dizer,orgulho de Pertencer!

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  4. Grande Foxxx
    que bom vê-lo postar novamente, espero que supere as dificuldades e gostei do que disse: "quando nasce pra ser polícia...". Com isso espero encontra-lo em breve, ou numa operação....mas vai demorar um pouco, espere....rsrs
    Abraço!!

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  5. Ainda bem que vc voltou (rsrsrs) sabe talvez a grande parte da (nova prf) não tenha sangue de policia, talvez apenas concurseiros que foram aprovados e tomaram posse apenas para não ficarem esperando outro concurso.

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  6. Não seria tanta dificuldade pra mim, pq uma vez policial militar no Rio de Janeiro, o resto vc tira de letra.

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  7. Não seria tanta dificuldade pra mim, pq uma vez policial militar no Rio de Janeiro, o resto vc tira de letra.

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  8. Respostas
    1. Eduardo, Blog ainda está ativo. Tô aqui na luta, passando por uma turbulência pessoal, mas logo mando novidades no Blog. As dúvidas podem ser colocadas aqui nos comentários e assim que possível eu respondo. A dúvida de uma pessoa pode ser idêntica à de outra; aí a gente já mata tudo de uma vez. Obrigado!!!

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