sábado, 25 de outubro de 2014

Eu não matei e não roubei...

Eu não matei e não roubei... por que estou sendo preso?

Eu também não matei nem roubei, cidadão! Eu estudei a minha vida inteira (e não deixei de estudar depois de ter conseguido meu tão sonhado cargo público), trabalhei o quanto pude, juntei cada centavo que consegui e nunca precisei agir como bandido para chegar onde cheguei!

Por falar em bandido, de onde será que vem essa ideia bizarra de que só pode/deve ser preso quem matou ou roubou? Porque falo isso: chega a ser um clichê quando prendemos alguém que não seja especificamente um homicida ou ladrão, sobremaneira quando se trata de condutor alcoolizado na direção de veículo.

A última palhaçada dessa ocorreu quando uma "super equipe" de 2 Policiais Rodoviários Federais realizava ronda numa rodovia qualquer num canto esquecido desse país que faz fronteira com o Brasil e com o Pará. Ao passar por uma cidadezinha qualquer, produtora incessante de incautos e bandidos de toda natureza, eis que surge um VANI (Veículo Automotor Não Identificado - ia ficar estranho chamar de OVNI) similar a uma motocicleta transitando sobre somente sua roda traseira e conduzido por um "anjo" símbolo da sociedade das garantias e dos direitos na qual vivemos hoje - a mesma que trata a polícia como o câncer de hiperplasia irremediável dos estigmas desse país que tem um universo jurídico cheio de buracos negros propositais.

Esse tipo de VANI com toda sua carga de energia negativa, meio que atrai uma abordagem, se é que me entendem. Característica de veículo roubado/adulterado, tripulado por um cidadão com atitude que levantou suspeição quando visualizou a viatura e teve a infeliz ideia de empreender fuga (Crime #1: direção perigosa caracterizado). Abordagem realizada, cidadão apresenta resistência passiva e tenta embaraçar a fiscalização. Apresenta um rol de características psicomotoras suficientes para ser enquadrado no Art. 306 da Lei 9.503/97 - CTB, sobretudo ao admitir que havia feito o consumo de bebida alcoólica instantes antes da abordagem (Crime #2). Algumas casas adiante do ponto da abordagem, situava-se a residência do infrator, digo, anjo social. Seguiu-se até lá de modo que apresentasse documentação pessoal e da motocicleta, momento em que a resistência passiva, como num passe de mágica (presença de mãe e pai), se tornou resistência ativa e vias de fato com os agentes da autoridade quando da voz de prisão (Crime #3), seguido de urros repetitivos de "eu não vou preso nem a pau, eu não matei e não roubei".

Não, cidadão, não matou: porque foi interceptado antes que o perigo de dano se tornasse concreto. Não, cidadão, não roubou aquela motocicleta, mas poderia muito bem ter sido, uma vez que antes de fazermos a abordagem não visualizamos em sua testa um display de led indicando que aquela motocicleta (com licenciamento atrasado, sem iluminação, sem CRLV/CRV, sem condutor habilitado) havia sido comprada por sua irmã em uma outra cidade da região, conhecida pelo elevado número de furtos desse tipo de veículo.

Anjo, digo, infrator, o senhor está recebendo voz de prisão primariamente por 2 Crimes de Trânsito. Depois pelo espetáculo que o senhor deu no meio da rua quando enfrentou os agentes da autoridade e lesionou um deles. Quando tentou fazer declinar do ofício aqueles que estão ali para cuidar da sua vida e da de terceiros. Se houvesse crime para punir especificamente a conduta do menino mimado, recorrente no envolvimento em confusões de toda ordem nesse município onde (infelizmente) você reside, que acredita que a redoma virtual criada pela sua mãe chiliquenta ao passar a mão na sua cabeça a cada ato reprovável que você comete, com certeza ali estaríamos para agir.

Até quando estaremos inseridos numa sociedade hipócrita que tenta minimizar a gravidade das condutas capituladas na (porca) legislação atual como CRIME? Se é crime de trânsito, é crime! Se é crime tributário, é crime! Se é crime ambiental, é crime! e por aí vai. O povo sedento de sangue e naturalmente vingativo, só quer acreditar que um homicida ou ladrão merece cadeia.
Quem dirá que alguém que mata no trânsito ou gera risco iminente a terceiros é menos lesivo ao bom convívio social?
Quem dirá que alguém que passa a vida inteira desmatando (para manter sua ganância) não é um genocida?
Quem dirá que alguém que agora comete um crime "leve" não poderá adiante partir para um mais "pesado", inclusive por conta da impunidade e do "garantismo" da sleis e julgados no Brasil?

É aquela história, a polícia é muito boa quando fiscaliza (autua, prende, apreende): OS OUTROS!

PRFoxxx

2 comentários:

  1. Reflexo de um povo que não recebe uma educação básica, um povo que muito mal sabe ler e escrever o próprio nome. Esse é o nosso país.

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  2. Grande PRFoxxx......
    Cada conto uma história e uma demonstração de paciência.
    Quero com sua permissão, deixar um comentário breve que vi neste último final de semana na TV, especificamente na reportagem sobre o aumento dos valores ($) das infrações graves e gravíssimas; quando um cidadão na reportagem diz a seguinte frase: "...acho bom esse aumento, mas seria melhor se 'eles' educassem os motoristas" ......kkkkkk, desculpa mas não tinha como não rir. Ele quer que eduquem os motoristas, ai pergunto, como ele tem habilitação? Será que ele literalmente "tirou" a CNH?....Enfim, PRF em todos os crimes e pronto.
    Abraço PRFoxxx

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