"Vovô, vovó, chegamos para brincar com vocês! Podemos passear de caminhão?"
Não, meus netinhos, hoje não! Respondeu Astrogildo.
Vovó Astrogilda acolheu com bondade seus 3 netos e começou a contar a história pela qual passara essa semana.
Casalzinho Astrogildo e Astrogilda (nomes fictícios) são um inseparável casal de septuagenários que vivem pra lá e pra cá no seu Mercedinho 65 (M.Benz/1111 ano modelo 1965) fazendo uns fretes para complementar a aposentadoria. Dia desses este guarda que vos conta essa linda história de amor, fez a abordagem desse veículo defronte a Unidade Operacional PRF na qual labuta e dentre as observações, verificou que aquela senhora que viajava como passageira utilizava um tirante velho e quase imprestável tido como cinto de segurança. Ocasião em que alertou sobre o correto uso do dispositivo, reforçando a necessidade de ter aquele equipamento obrigatório em condições de funcionar caso fosse acionado (frenagem severa ou acidente). Sem maiores alterações, veículo liberado para seguir viagem.
Dois meses depois, na mesma Unidade Operacional PRF, acionamento via central para atendimento de acidente de trânsito há 80Km de distância, de madrugada, informando colisão entre 2 caminhões com derramamento de carga sobre a pista de rolamento. No local, observou-se que a colisão traseira causada por um "cochilo" do motorista do bitrem, atingiu a traseira de um Mercedinho 65 e, por coincidência, os ocupantes deste era seu Astrogildo e dona Astrogilda; graças ao bom Deus, ilesos (apesar do grande estrago averiguado no veículo).
Sinaliza, corre daqui e de lá, conversa com um e outro até que o acidente começa a se desenrolar (guinchos acionados, determinada limpeza da pista e etc). Nesse ínterim seu Astrogildo se aproxima e comenta com este desmemoriado "guarda" sobre sua abordagem há 2 meses na Unidade Operacional PRF e frisa: "acho que foi o senhor que me atacou (aqui eles falam abordar = atacar) e falou do cinto de segurança". Demorei alguns minutos para lembrar, mas quando tive aquele estalo, pude constatar que aquele casalzinho que ali estava íntegro, era aquele para quem eu tinha discursado (rs) há algum tempo; consequentemente concluímos que foi fundamental para o resultado do acidente (no que diz respeito às condições físicas) o uso do cinto de segurança. Dona Astrogilda fez questão de destacar que após a minha abordagem (ou ataque, hahahaha), seu Astrogildo fez questão de comprar um dispositivo novo e instalar em seu veículo para que pudessem usá-lo corretamente e, por conseguinte, manterem-se vivos.
Presunçoso não, mas tenho absoluta certeza que se hoje os netinhos podem chegar na casa de seu Astrogildo e dona Astrogilda para abraçá-los, é porque minimamente minha intervenção teve um resultado. Se recebem o "não" do vovô Astrogildo para passear de caminhão, é sinal que a informação passada a ele sobre a lotação do veículo (capacidade de passageiros - com cinto de segurança, inclusive) foi considerada e o conceito absorvido.
Obrigado por provarem mais uma vez que o saber não ocupa espaço e que nunca e tarde demais para aprender (e ficar vivo por mais tempo).
PRFoxxx