quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Para os netos

"Vovô, vovó, chegamos para brincar com vocês! Podemos passear de caminhão?"
Não, meus netinhos, hoje não! Respondeu Astrogildo.
Vovó Astrogilda acolheu com bondade seus 3 netos e começou a contar a história pela qual passara essa semana.

Casalzinho Astrogildo e Astrogilda (nomes fictícios) são um inseparável casal de septuagenários que vivem pra lá e pra cá no seu Mercedinho 65 (M.Benz/1111 ano modelo 1965) fazendo uns fretes para complementar a aposentadoria. Dia desses este guarda que vos conta essa linda história de amor, fez a abordagem desse veículo defronte a Unidade Operacional PRF na qual labuta e dentre as observações, verificou que aquela senhora que viajava como passageira utilizava um tirante velho e quase imprestável tido como cinto de segurança. Ocasião em que alertou sobre o correto uso do dispositivo, reforçando a necessidade de ter aquele equipamento obrigatório em condições de funcionar caso fosse acionado (frenagem severa ou acidente). Sem maiores alterações, veículo liberado para seguir viagem.
Dois meses depois, na mesma Unidade Operacional PRF, acionamento via central para atendimento de acidente de trânsito há 80Km de distância, de madrugada, informando colisão entre 2 caminhões com derramamento de carga sobre a pista de rolamento. No local, observou-se que a colisão traseira causada por um "cochilo" do motorista do bitrem, atingiu a traseira de um Mercedinho 65 e, por coincidência, os ocupantes deste era seu Astrogildo e dona Astrogilda; graças ao bom Deus, ilesos (apesar do grande estrago averiguado no veículo).
Sinaliza, corre daqui e de lá, conversa com um e outro até que o acidente começa a se desenrolar (guinchos acionados, determinada limpeza da pista e etc). Nesse ínterim seu Astrogildo se aproxima e comenta com este desmemoriado "guarda" sobre sua abordagem há 2 meses na Unidade Operacional PRF e frisa: "acho que foi o senhor que me atacou (aqui eles falam abordar = atacar) e falou do cinto de segurança". Demorei alguns minutos para lembrar, mas quando tive aquele estalo, pude constatar que aquele casalzinho que ali estava íntegro, era aquele para quem eu tinha discursado (rs) há algum tempo; consequentemente concluímos que foi fundamental para o resultado do acidente (no que diz respeito às condições físicas) o uso do cinto de segurança. Dona Astrogilda fez questão de destacar que após a minha abordagem (ou ataque, hahahaha), seu Astrogildo fez questão de comprar um dispositivo novo e instalar em seu veículo para que pudessem usá-lo corretamente e, por conseguinte, manterem-se vivos.
Presunçoso não, mas tenho absoluta certeza que se hoje os netinhos podem chegar na casa de seu Astrogildo e dona Astrogilda para abraçá-los, é porque minimamente minha intervenção teve um resultado. Se recebem o "não" do vovô Astrogildo para passear de caminhão, é sinal que a informação passada a ele sobre a lotação do veículo (capacidade de passageiros - com cinto de segurança, inclusive) foi considerada e o conceito absorvido.
Obrigado por provarem mais uma vez que o saber não ocupa espaço e que nunca e tarde demais para aprender (e ficar vivo por mais tempo).

PRFoxxx

Hoje é dia de Joaquim

Bastaram 10 minutos para aquele garotinho marcar minha história na polícia, deixar sua expressão na minha história de vida (tenho que segurar o choro para continuar a digitar).


Contextualizando

Depois de 2 anos sem participar de operações/de viajar (por opção própria), agora no mês de Outubro fui convidado e tive a oportunidade de atuar como monitor numa Operação Temática de Combate aos Crimes Ambientais. Como entusiasta da causa, fiquei extremamente empolgado em poder operar novamente com grandes parceiros e conhecedores do assunto, difundindo/trocando conhecimento sobre o tema e compartilhando experiências com colegas da turma nova (que acabou de virar semi-nova com a nomeação de vários policiais esta semana).
Foram 10 dias incríveis tanto na parte teórica quanto na prática. Visitei uma delegacia que eu tinha muita curiosidade em operar, revi amigos, tive uma excelente estadia na cidade e ainda fiz preciosas fotos e vídeos (grande parte da experiência da viagem deve ser registrada).
Nada muito excepcional até o dia de ir embora, quando nos foi passada uma missão de trocarmos a viatura disponível por uma que acabara de ficar pronta numa oficina especializada. Ao sair do local, percebemos que a viatura necessitava de uma revisãozinha para iniciar a longa viagem de 500Km. Passamos num auto posto para abastecer, verifica condições do motor e, claro, calibrar os pneus!

O encontro
Foi aí que conheci o Joaquim. Um garotinho tímido de 6 anos de idade que na borracharia encontrava-se acompanhado de seu avô (que tinha veículo passando por reparo). Enquanto aguardava o borracheiro calibrar os pneus, desembarquei do viatura ao ver aqueles olhinhos curiosos e fui até ele, que de imediato quase que encolheu-se e postou-se ao lado do avô, que o confortou e falou: "não precisa ter medo, filho". Joaquim comentou: "polícia, briga".
Não formou uma frase, mas foi compreendido, sobretudo porque observei que ele usava aparelho de surdez e imediatamente concluí que tem limitação na fala. Seu avô então começou a se justificar para mim (como se fosse necessário), alegando que o receio do garoto era fruto de uma doutrinação de seus pais, que o fizeram associar o policial a figura do medo, do temor irracional. Como eu não me surpreendo com isso me aproximei e fiz o contato, apertei sua mão, o deixei confortável, troquei algumas palavras e o fiz sorrir.
Acredito que naquele momento da aproximação e da quebra do estereótipo do "polícia que briga", que agride, consegui ganhar um aliado na construção de uma sociedade melhor. Não por acreditar que aquele garotinho um dia vá querer ser policial (quem sabe... melhor não), mas sim por sonhar que a geração do meu filho surgirá com conceitos melhores, com senso crítico para saber que o mal da sociedade é o bandido/infrator, não a polícia (que teve lá seus deslizes históricos); crescerão sabendo que somos aqueles da sociedade que escolheram como emprego/fonte de renda, a nobre ocupação de cuidar do coletivo, de dar a vida pelos ingratos.

O adeus
Saí dali com a grata satisfação de saber que atingi a inocência de uma criança para desmistificar uma máscara que eu nunca usei, que destruí um rótulo que nunca aceitarei. Desculpe seus pais pelo mal que te fizeram na tentativa de acertar. Obrigado Joaquim.

PRFoxxx

Uns mais que os outros

Índios, MST e caminhoneiros quando invadem a rodovia para mim são todos iguais! Entra mês, sai mês, é a mesma p*taria que enfrentamos frequentemente.
Não vou nem entrar no cerne da coisa porque senão vou ter que conduzir um raciocínio sobre cultura e política que eu estou longe de ter capacidade de desenvolver, mas falemos de direitos, já que estamos no país onde muito provavelmente essa palavra foi inventada (ao passo que desinventaram o dever).
O Direito de Manifestação na Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente

- Pacificamente: índios não sabem o que é ato pacífico (não porque desconhecem o conceito, apenas o ignoram), dominam a arte de querer ganhar no grito. MST aprendeu com os índios e aperfeiçoou a cartilha com o histórico dos comunistas baderneiros de centrais sindicais e demais movimentos classistas a arte de ganhar no grito, mesmo sem ter pauta plausível. Caminhoneiros análogos aos índios, sem ordem, sem pauta, e o pior: sem liderança; acham que vão parar o Brasil pelo Whatsapp.

- Sem armas: índios? ouse apontar uma arma letal para um índio (mesmo que esteja sob a mira de dezenas de flechas; alternadamente às flechas verá câmeras digitais (fornecidas pelas ONGs) prontas para um flash, ou melhor, um vídeo em 4k para visualizarem cada letrinha do seu nome no uniforme para levar ao MPF suposta denúncia de abuso policial (só não captam a vergonha e o medo aqui dentro dessa fantasia de super herói). MST e suas poderosas foices procurando incansavelmente um pescoço (já que em mato/capoeira elas nunca atingirão). Caminhoneiros e suas naves de 74 toneladas (desconsiderando o excesso de peso que TODOS eles trazem) prontos para patrolar qualquer um que ouse afetar seu intento (de para o Brasil, de depor presidente, de qualquer coisa, eles não sabem o que querem da vida...)

- Em locais abertos ao público: o Brasil tem um grave problema cultural de base, que é confundir o bem público como bem de ninguém, quando na verdade deveria ser o bem de todo mundo; por conseguinte, a ser valorizado como sagrado por ser da coletividade. Índios, MST e caminhoneiros não podem ser diferenciados nesse ponto. Abertos ao público: a todos aqueles que precisam usar a rodovia (e a motivação de nenhum é maior/mais valorosa ou importante que a do outro).

- Independente de autorização: autorização está dada pela própria Constituição e pela construção do Direito garantista brasileiro. Índios, MST e caminhoneiros tripudiam na cara do trouxa usuário da rodovia!

- Prévio aviso a autoridade competente: Índios brotam de dentro do mato e jogam pedras na rodovia; MST vem de pau de arara e jogam móveis velhos sobre a pista, ateiam fogo e, quando apresentam algum ofício comunicando interesse de manifestar o "seu direito", é intempestivo, mal e porcamente redigido num pedaço de papel de pão (pior, assinado por um detentor de OAB - que mal vale o pão sujo o qual era embrulhado por esse papel). Caminhoneiros não pedem autorização, pois eles são biltres e vão consertar o Brasil na marra (pois quase que em sua totalidades são oriundos dos estados separatistas) - prepotência pouca é bobagem.

Onde eu quero chegar? Estou envergonhado de viver num cenário onde todo mundo pode chegar na minha casa e bater barraca na porta, cagar e urinar no meu quintal e quando resolve sair, larga o seu lixo fétido.

Sou um policial rodoviário federal que trabalha num posto isolado no extremo de um estado que faz fronteira com o Brasil e o Pará, que tem efetivo frequente de 2 policiais/plantão para cuidar de 280Km de rodovia federal com demandas diversas, mas que não está aguentando mais ver uma aberração institucionalizada: bloqueio de rodovia.
"Ah seu guarda, mas eles tem autorização para fazer isso?" Não tem, senhor. Muito pelo contrário, isso é ilegal, senhor. "E por que vocês não fazem nada, não tem ordem para isso?" Não temos ordem, muito pelo contrário, a desocupação da rodovia é ato auto-executório, independe de autorização, senhor, mas não temos os meios necessários para fazê-lo; faltam recursos, primariamente humanos, depois materiais para ao menos tentar.

Temos uma chefia regional que esgota as tratativas no âmbito político, quando na verdade deveria ser extremamente técnico/legal. Temos que engolir o discurso de que o diálogo deve prevalecer sobre o Uso da Força. Com essa postura covarde e politicamente correta, abre-se (arreganha-se) uma porteira para que qualquer meia dúzia de zé ruelas por capricho/vaidade invada a rodovia para levar seu pleito para a mídia, ainda que para isso toda uma região seja prejudicada, ainda que isso abra espaço para terrorismo midiático (desabastecimento e etc).
Até quando? Para que?
Ficam as perguntas.
Já tratei disso aqui anteriormente, mas volto a bater na tecla: quando os caminhoneiros fizeram a "onda de protestos" ha alguns meses, por que houve uma judicialização da causa do dia para a noite? E por que agora, mais uma vez ao apagar das luzes, o governo fez uma manobra legal para "entubar" os caminhoneiros que protestam e os que coordenam? O CTB é arrombado de falhas, mas de repente, sem uma discussão prévia e amplo estudo, implanta-se uma mudança para atingir interesse específico, deixando de lado causas mais urgentes e impactantes no trânsito.

Sinceramente, me recuso a acreditar que o executivo um dia teve algum interesse em trabalhar em função da sociedade. Não que eu esteja com dó dos caminhoneiros, mas se é para ferrar, que se faça com os índios e o MST também! Ops, como vão multar esses 2 grupos?

PRFoxxx