Bastaram 10 minutos para aquele garotinho marcar minha história na polícia, deixar sua expressão na minha história de vida (tenho que segurar o choro para continuar a digitar).
Contextualizando
Depois de 2 anos sem participar de operações/de viajar (por opção própria), agora no mês de Outubro fui convidado e tive a oportunidade de atuar como monitor numa Operação Temática de Combate aos Crimes Ambientais. Como entusiasta da causa, fiquei extremamente empolgado em poder operar novamente com grandes parceiros e conhecedores do assunto, difundindo/trocando conhecimento sobre o tema e compartilhando experiências com colegas da turma nova (que acabou de virar semi-nova com a nomeação de vários policiais esta semana).
Foram 10 dias incríveis tanto na parte teórica quanto na prática. Visitei uma delegacia que eu tinha muita curiosidade em operar, revi amigos, tive uma excelente estadia na cidade e ainda fiz preciosas fotos e vídeos (grande parte da experiência da viagem deve ser registrada).
Nada muito excepcional até o dia de ir embora, quando nos foi passada uma missão de trocarmos a viatura disponível por uma que acabara de ficar pronta numa oficina especializada. Ao sair do local, percebemos que a viatura necessitava de uma revisãozinha para iniciar a longa viagem de 500Km. Passamos num auto posto para abastecer, verifica condições do motor e, claro, calibrar os pneus!
O encontro
Foi aí que conheci o Joaquim. Um garotinho tímido de 6 anos de idade que na borracharia encontrava-se acompanhado de seu avô (que tinha veículo passando por reparo). Enquanto aguardava o borracheiro calibrar os pneus, desembarquei do viatura ao ver aqueles olhinhos curiosos e fui até ele, que de imediato quase que encolheu-se e postou-se ao lado do avô, que o confortou e falou: "não precisa ter medo, filho". Joaquim comentou: "polícia, briga".
Não formou uma frase, mas foi compreendido, sobretudo porque observei que ele usava aparelho de surdez e imediatamente concluí que tem limitação na fala. Seu avô então começou a se justificar para mim (como se fosse necessário), alegando que o receio do garoto era fruto de uma doutrinação de seus pais, que o fizeram associar o policial a figura do medo, do temor irracional. Como eu não me surpreendo com isso me aproximei e fiz o contato, apertei sua mão, o deixei confortável, troquei algumas palavras e o fiz sorrir.
Acredito que naquele momento da aproximação e da quebra do estereótipo do "polícia que briga", que agride, consegui ganhar um aliado na construção de uma sociedade melhor. Não por acreditar que aquele garotinho um dia vá querer ser policial (quem sabe... melhor não), mas sim por sonhar que a geração do meu filho surgirá com conceitos melhores, com senso crítico para saber que o mal da sociedade é o bandido/infrator, não a polícia (que teve lá seus deslizes históricos); crescerão sabendo que somos aqueles da sociedade que escolheram como emprego/fonte de renda, a nobre ocupação de cuidar do coletivo, de dar a vida pelos ingratos.
O adeus
Saí dali com a grata satisfação de saber que atingi a inocência de uma criança para desmistificar uma máscara que eu nunca usei, que destruí um rótulo que nunca aceitarei. Desculpe seus pais pelo mal que te fizeram na tentativa de acertar. Obrigado Joaquim.
PRFoxxx
Difícil lhe dar com uma situação em que as crianças já "aprendem" esse julgamento. Eu como adoro criança, me vi na sua cena e espero em breve ter muitas tarefas assim, apesar que sei que vou encontrar pedreira...
ResponderExcluirAbraço!!