Os acidentes, ah como são trágicos... Não, não são! Se a eles fosse atribuída a gravidade, o risco e o impacto social (além do financeiro para os cofres públicos), as pessoas dirigiriam com mais cautela, com mais cérebro.
Nas minhas não raras divagações acerca do tema, procuro a cada dia as respostas para alguns questionamentos, eis:
- Quando a rodovia está com pavimentação ruim/danificada, por que as pessoas não redobram o cuidado?
- Quando a rodovia está com o pavimento bom, asfalto novo e bem sinalizado, por que as pessoas correm tanto?
- Quando as condições meteorológicas são adversas, por que as pessoas não reduzem a velocidade e, por conseguinte, aumentam o nível de atenção?
- Quando a viagem exige um tempo relativamente curto, por que as pessoas não se preocupam em antecipar a saída e otimizar o percurso, por exemplo, realizando paradas curtas o suficiente para descansar e prover demais necessidades?
- Quando há incidentes/acidentes, por que as pessoas não aceitam que haverá atraso não previsto e que reclamar, furar fila, buzinar e cometer demais grosserias não vai mudar o quadro do evento?
- Ainda em relação aos atrasos imprevisíveis, por que essas possibilidades não são consideradas, por precaução, no cálculo do tempo/percurso de uma viagem?
Não sei se é porque lido com essas questões diariamente, mas acho que são perguntas óbvias e que cada pessoa/condutor poderia/deveria se fazer. A conduta imediatista não se aplica ao trânsito, que é um sistema complexo e depende sobremaneira de previsibilidade aliada a precaução.
Estou tentando desenvolver um raciocínio e, como sempre, provocar o senso do leitor para a importante questão que é realizar uma viagem segura, pensada, sem pressa. Há um ditado que diz: "devagar para chegar". O "devagar" nesse contexto não quer dizer necessariamente ir a 40Km/h durante toda a viagem, mas sim alertar que a pressa e a falta de precaução são determinantes para cumprir o objetivo, que é sair de um lugar e ir para o outro, pouco importa o motivo (turismo, trabalho, etc)
A motivação dessa publicação surgiu de um acidente que atendemos logo no início do plantão, quando um veículo de carga que transitava de Rondônia para o Pará sofreu um capotamento. Local plano, sem restrição de visibilidade, veículo em bom estado de conservação, condutor habilitado, ocupantes utilizando cinto de segurança, mas um detalhe foi determinante para o evento: condições adversas de clima+pavimento; na pista molhada um veículo comporta-se diferentemente como sem em pavimento seco estivesse. Não precisa ter estudado física para saber os conceitos de atrito, inércia e etc, basta apenas pensar. Ainda que nem todos vejam nas auto escolas explanações sobre dirigibilidade em condições adversas, não custa ao condutor trazer para frente do volante uma experiência empírica adquirida nos seus anos de volante. No caso em questão, o condutor deslocava-se em velocidade incompatível para a situação (fluxo mais lento que o de costume, inclusive por conta da chuva, que era fraca) e ao se aproximar de veículos em comboio realizou frenagem mal sucedida, vindo a perder o controle do veículo por aquaplanagem, saindo de pista e capotando, imobilizando-se sobre o teto.
Resumo da ópera: mais um que virou estatística, mas poderia ter virado uma saudade para a família. Ocupantes ilesos, sobretudo pelo uso do cinto de segurança, veículo com danos de média monta, conforme imagem a seguir.
PRFoxxx