quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Desconte na polícia!

Uma prática recorrente da imprensa medíocre sempre foi a de descer a lenha na polícia quando não tinha notícia. Hoje, com a cultura dos smartphones controlados por zumbis sem senso crítico, indivíduos-produtos da massificação do consumo de imagens (fotos e vídeos) denuncistas, atrelado ao garantismo do ilegal (já tratado em outra publicação), a sociedade (inclusive a polícia, que não é parte disjunta) vive um Big Brother da vida real. Criou-se uma paranóia de que todos devemos viver em função de estarmos sendo gravados ou não. Lado bom é a inibição daquele que anda à margem da lei, mas ruim é a sensação de estarmos sendo vigiados continuamente por sujeitos perfeitos, que nunca cometeram erros, que vivem a nos espiar e esperar pelo momento da falha para ir a forra.

O que isso significa no meio policial: quem trabalha na ilegalidade, mais do que antes, deverá se preocupar e mais cedo ou mais tarde será flagrado. Muito bom que isso aconteça! Quem trabalha na legalidade, procurando ser um policial-padrão, não deverá se incomodar, pois terá sempre a consciência tranquila de estar fazendo o previsto em lei e cumprindo com a finalidade do seu ofício.
Nisso tudo há um PORÉM: imagens, principalmente fotos, não dão a real dimensão do fato, apenas indicam situação fática que deverá ser melhor esclarecida com informações relevantes e de natureza fidedigna, por exemplo, testemunhos, documentos e etc.

Essa análise se aplica tanto para o bom uso como para o interesse desvirtuado de imagens. Exemplos recentes foram o julgamento sumário promovido pela sociedade do policial militar de SP que atirou num vendedor ambulante que atentou contra sua pessoa e ofereceu risco à abordagem policial. Imagens veiculadas na TV que continham apenas uma perspectiva do evento, levando a uma convicção distorcida da realidade. Alguns dias depois (não se sabe o porquê de não terem sido veiculadas antes) surgiram novas imagens, de outros ângulos, mostrando o fato e dando margem para avaliação ampla sobre o ocorrido e seu resultado. Após isto, resta excluído de imediato o dolo do agente público.
Outro exemplo é a manipulação midiática num episódio mais recente ainda, envolvendo novamente a PMSP, cujos agentes estavam sendo acusados por testemunhas (descomprometidas com a verdade) de terem empurrado um cidadão de cima de um viaduto, que veio a falecer na sequência. Ao aparecer um vídeo de uma câmera de segurança, a verdade veio à tona.

É (ou deveria ser) responsabilidade daquele que se presta a emitir opinião sobre uma ação (nesse caso a policial), que tenha o mínimo de propriedade acerca do assunto. Da mesma forma, aquele que realiza registros fotográficos/áudio/vídeo, tem o compromisso com a verdade quando expõe o registro, devendo evidenciar seu contexto, impreterivelmente!

Do que estou falando? Recebi hoje no Whatsapp uma foto de uma viatura PMGO supostamente realizando uma infração de trânsito. Por que "supostamente"? Uma foto de forma isolada não é/não pode ser bastante para conclusão acerca do fato aludido. Nela aparece, como podem ver abaixo, um veículo policial transitando com duas rodas na faixa de rolamento do sentido oposto. Primeiro ponto: quem poderá afirmar que isso é uma ultrapassagem (ver definição na Lei 9.503/97 - CTB)? Quem garante que estaria transitando na contramão de direção (idem)? O fato de não aparecer luz no giroflex não necessariamente indica que ele estaria desligado; simplesmente poderia a foto ter sido feita na ocasião em que ele se apagava, uma vez que é dispositivo intermitente (acende - apaga).

Mais do que qualquer uma dessas situações, supondo que a viatura estivesse realizando uma ultrapassagem; na foto (sem o contexto) é possível verificar estar a viatura em deslocamento de emergência? Aí vem o teórico de plantão: "mas a legislação não diz que o agente deve CUMPRIR e FAZER CUMPRIR as leis de trânsito?"
Sim, claro Sr. Teórico do mundo paralelo! Está coberto de razão; aí quando houver uma emergência, por exemplo, médica, não espere que o Corpo de Bombeiros saia da sua Unidade Operacional e vá até o local da ocorrência em velocidade acima daquela prevista na placa R19 só para reanimar uma vítima com PCR - Parada cardiorrespiratória, pois estaria infringindo a lei. Espere que um sinal vermelho seja obedecido, sobretudo porque o tempo de resposta num AVC ou no caso de um sequestro é crucial; tenha calma e peça para o bandido ser compreensivo para com toda essa situação. Na rodovia, quando a viatura policial estiver atrás do seu veículo, não dê passagem pela esquerda (infração de trânsito cometida de forma indiscriminada), pois o seu orgulho é mais importante que a vida daquela vítima de acidente de trânsito que está ali encarcerada agonizante e esperando pela chegada de atendimento. Quando estivermos num Acompanhamento Tático (que você chama de perseguição), o faremos a 80Km/h, mesmo que o seu veículo (que acabara de ser roubado) não tenha seguro e seja seu único patrimônio, afinal de contas, é só um carro de R$ 100.000,00 mesmo... ou então, só está cheio de entorpecentes que afetarão centenas de milhares de usuários (que te assaltarão para conseguir o dinheiro para comprar).

Tudo bem, teórico, já entendemos que o importante é garantir que quem está errado tenha a chance de concluir seu intento com êxito. O seu leigo conceito de LEGALIDADE é mais importante do que a nossa noção de EMERGÊNCIA. Seu ânimo individual de descontar suas frustrações na polícia é mais importante que o bem da coletividade. Sabemos que você gosta de polícia: quando é para os outros; quando é para você, invoca direitos que nem tem só para se ver livre de estar sujeito ás leis que você mesmo criou quando elegeu esses ladrões asquerosos travestidos de legisladores. Sim, o remédio amargo chamado polícia só existe porque você, cidadão, comete desvios de conduta. Não tente inverter o ônus, não somos o estigma da sociedade, somos a tentativa de consertar o que você faz de errado e tornar nosso meio um lugar melhor para se viver.

Use a polícia como espelho, não para ser igual, mas sim para refletir sua imagem e ver primeiro os seus defeitos antes de nos apedrejar e ter um reflexo distorcido.


Detalhe: condutor cometendo infração de trânsito para tirar a foto

PRFoxxx

4 comentários:

  1. Muito bom!! Também gostei muito da postagem "Só um #rolezinho". Muito bom mesmo.
    É um pena, pois esse "discurso" não chega no ouvido de quem precisa ouvir tal verdade.
    Abraço.

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  2. É meu amigo.
    Estou um pouco receoso de me tornar vidraça. Ainda mais que somos pré-julgados por todos sempre. Mesmo antes de qualquer defesa. Cruel.
    Mas eu tenho uma leve desconfiança que nasci para isso.
    Que venha nomeação para a PRF.
    Grande abraço.

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    1. Então PRF do Norte, não vou negar p você que já pensei em pular fora, até porque tenho certeza de que quem passa em um concurso da PRF passa em qualquer outro e eu me sinto plenamente capaz de passar para outro cargo e ganhar no mínimo o dobro da defasada remuneração inicial deste cargo. Mas aí vem a questão: eu estaria feliz fazendo outra coisa? Certeza que não. Eu estaria dentro de um gabinete, com rotina, com jornada de trabalho xarope (escala de 24x72h é uma coisa incrível). Você pode achar incoerente, pois uma boa parte das minhas publicações é contundente e de crítica, mas é aí o pulo do gato: eu só faço isso porque ainda acredito que isso aqui pode melhorar. Muitos rapidamente pulam fora do barco e eu até gosto, pois esses não merecem estar aqui. Serviço policial é viciante, só quando a gente alcança é que dá pra entender o sentido de "nasci pra isso". Boa sorte na nomeação e lotação.

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  3. É futuro Parceiro, mais uma vez "fica a dica" de que polícia não é pra qualquer um, quer ganhar dinheiro vai prestar banco do Brasil, receita,etc., porque como vc mesmo falou, quem nasceu pra isso (e sabe muito bem disso), só quem já esteve na ativa ou fez treinamento,enfim.....Até mais brave.
    Abraço!!

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