domingo, 20 de setembro de 2015

De muita fé

História de Rodovia - A obreirinha
 
Fiscalização em frente a Unidade Operacional, eis que vem um automóvel em velocidade incompatível e, obviamente, foi parado para verificação. Jovem senhora, bem aparentada, veículo em seu nome e alegava não estar portando sua CNH; no mais, sem alteração.
Consulta aos sistemas de informação, verificou-se tratar de condutora não habilitada, que ao ser desmentida, caiu no choro e começou a proferir lamúrios típicos de evangélicos (lembrando, a autoria é agnóstica), que são bem peculiares. Pouco depois, já conformada com a traulitada de R$ 574,62, sentou-se para aguardar o seu salvador (não Jesus, o condutor habilitado para levar seu veículo), começou a questionar várias coisas, como por exemplo: "por que vocês abordam uns veículos, outros não?". Respondido de pronto que há critérios objetivos e subjetivos para a fiscalização que ela não saberia para não estragar o efeito surpresa (claro que não, é para não comprometer a segurança orgânica); obviamente tive que falar a frase clássica: "senhora, na fiscalização nada é por acaso". Adiante ela ia entender...

Algumas abordagens depois, eis que um casalzinho de moto (estilo V1d4 L0k4) se apresenta, a mocinha um tanto expansiva fala alto e pela voz é reconhecida pela obreirinha do parágrafo anterior. A obreirinha, de forma bem discreta, se aproxima de mim com cara de espanto e diz: "seu guarda, essa moça está fugindo de casa, ela é menor de idade e tenho certeza que a mãe dela não deixou ela viajar; somos irmãs da mesma igreja". Levantamos então junto a família da jovem que ela tinha 15 anos e realmente viajava sem o consentimento da mãe/responsável legal e demos viabilidade a intervenção baseada no ECA e suas nuances (agora tentei falar bonito). Ao passo que um dos policiais estava em contato com a mãe da "vítima", outro fazia levantamento da vida pregressa do jovem maior de idade, condutor da motocicleta e suposto namorado da adolescente. Eis que ele figura como réu em processo de violência doméstica contra uma jovem de 15 anos de idade, cuja sentença parcial prevê medidas protetivas devido ao apontamento de violência e ameaça do réu.

Aquela carinha de adolescente descoladinha, agora olhando para a tela do computador (que fiz questão de apresentar o inteiro teor do processo) revestia-se de espanto e perplexidade. A pergunta é: seria ela uma próxima vítima? Da nossa parte não! Ocorrência apresentada ao Conselho Tutelar do seu município de origem, instituição que já faz o acompanhamento da adolescente, inclusive pelo histórico de problemas familiares e uso de drogas.

Somente 15 anos e acreditando ser adulta, visual de mulher e cabeça de criança inocente (alheia ao fato de que bandido não anda com display de led na testa), a jovem produtinho Charlie Alfa seguiu para o carro de sua mãe cabisbaixa e reclamando de não poder, acompanhada de seu pretendente a príncipe encantado (que adora dar umas porradas em "novinha"), aproveitar a festa na cidade vizinha. Sua mãe retornará para a vigília da igreja (negligenciando a vigília constante da porta de sua casa para a entrada de vagabundos de todo gênero) e com ela a obreirinha que saiu bradando "Deus é fiel" (a bíblia fala em Deus é Fiel e Justo, mas não sei por que cargas d'água - mentira, sei sim - eles resistem em proclamar a palavra Justo) e entendendo porque eu disse a ela que "nada é por acaso"; se ela foi abordada e retida ali, é porque o Deus dela (cada fanático gosta de falar "o meu Deus", como se cada igreja tivesse o seu próprio) assim quis/permitiu. Na verdade ela saiu foi se achando a escolhida por Deus para interceder na vida daquela jovenzinha V1d4 L0k4 e com absoluta certeza utilizará nossa intervenção como "testemunho" no altar de igreja no próximo culto para ganhar holofotes (enquanto pragueja mentalmente essa equipe que a fará gastar quase 600 Dilma$ para pagar aquela multa).

PRFoxxx

2 comentários:

  1. rsrsrs seus textos são muito bons

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  2. kkkkk....cada um no seu "mundo"....

    Vou resumir uma situação comigo, da pergunta igual a senhora fez pra ti.
    Certa vez, bem mais novo, e nem imaginava que seria concurseiro e muito menos pra PRF, eu e um amigo(cada um no seu carro) fomos abordado pela PM. Eu fiquei quieto e começou a abordagem de "praxe", mas meu amigo perguntou ao tenente da PM que nos abordou:
    - " porque o senhor para a gente que é nítido não termos nada e nem demonstrar nada, sendo que vemos passar carro ao lado de 'playboyzinho' fumando ou qualquer outro motivo para ser abordado?"
    Ele simplesmente respondeu assim (claro que hoje sei que tem outros motivos e meios do por quê, mas deixa isso pra lá) :
    "- meu amigo, sorte de uns, azar de outros, hoje foi vcs, amanhã será ele. Na hora em que passava com a vtr, escolhi vcs e foi isso!"
    Fica uma das respostas pra ela tb.....rs
    Ou seja, pra este Tenente da PM, foi o motivo de parar uns e não outros. Mas Como tenente da reserva do EB, e com amigos tenentes na PM, já descobri o verdadeiro motivo de por que ele nos parou.....rs.....te conto um dia...rs.
    Abraço!!

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