domingo, 30 de março de 2014

Guerra Civil - Parte II

Talvez um bom texto de um PRF (Policial Rodoviário Federal, que é diferente de PF - Policial Federal, ainda que muita gente não saiba) narrando seus sentimentos após os 05 anos de atividade operacional no estado que faz fronteira com o Brasil e o Pará.
Ao escrever, tentarei sintetizar o turbilhão de emoções (e bota emoção nisso) que é vir encarar a "mãe preta" (rodovia) todos os plantões sem ter a certeza de voltar para casa, como aconteceu com muitos colegas e com meu grande amigo Felipe Amaral.
Como já dito na publicação anterior, farei um texto análogo ao do colega da PMERJ num tom de desabafo realista e tentarei ser sintético, apesar de a realidade nunca permitir síntese concreta do que é essa Firma tão nobre (mesmo não sendo assim vista pelos gestores) chamada PRF - Polícia Rodoviária Federal.

Em 24 horas, 4 PRFs feridos, 1 PRF feminina sofreu assédio moral, 1 PRF morto.
- Para  a corporação: estar ferido em serviço são ossos do ofício (não tem guincho conveniado para realizar remoções e não tem equipamentos de primeiros socorros para prestar APH às vítimas de acidente de trânsito; o uniforme não protege de eventos adversos, EPIs não são fornecidos). Sofrer assédio moral ao ser "convidada" a sair da pista (serviço operacional) para trabalhar no serviço administrativo (pois não há quadro efetivo de servidores dessa natureza) em troca de ser removida para onde quiser ou estar sempre entre os preteridos para viajar (e ganhar diárias) também estão entre as medidas nada tangentes à meritocracia e gestão voltada para as pessoas como se quer pregar. Ser morto em serviço então, ah, isso acontece... da profissão de policial infere-se o risco (mesmo sem receber adicional de periculosidade, por exemplo) de "morrer" pela sociedade (essa mesmo que o vê como algoz da anarquia, digo, democracia brasileira).
- Para a sociedade: "eles ganham para isso". Sim, ganhamos para executar um trabalho de excelência, de eficiência, de salvar vidas. Não somos mercenários e não estamos aqui para "ganhar bem até o dia que morrer e acabou". Ganhamos muito melhor que um PMRJ sim, mas não somos nós a elite do serviço público brasileiro como o governo quer que você acredite, muito pelo contrário, são as PMs que são mal remuneradas. Ganhar melhor que outra categoria não necessariamente implica estar a contento. Nosso serviço exige responsabilidade e o pagamento deveria ser a altura, mas o governo guerrilheiro revanchista não cumpre sequer o previsto na Constituição Federal, que é a correção da remuneração em função da inflação (que o governo também te faz acreditar que não existe). Sobre os que sofrem assédio moral... isso a sociedade não viu e nunca verá.
- Para a família: o ferido é um problema a mais em casa; o que sofreu assédio moral nem sequer terá coragem de contar para seus pares; o morto será uma saudade eterna e receberá uma "homenagem" dos seus gestores quando o recém reformado Posto PRF (que recebeu só uma pintura, mas consta no orçamento algumas dezenas de milhares de Reais empenhados) receber um letreiro com o seu nome. Ah, que linda essa homenagem, coisa que nenhum vivente em sã consciência pode prever como seu destino.

Aqui na pista também são criados monstros, mas não como os "faca na caveira" do BOP/RJ: aqui viramos "caneta na caveira". Simples: eu explico! Como digo sempre: cada condutor tem o "guarda" que merece. Enquanto a caneta estiver leve, o consciente coletivo instalado é de que ao "pegar leve" (por causa da confusão do conceito de Polícia Cidadã), a conduta permissiva da PRF implica necessariamente em não agir conforme manda o CTB. Uma multa que se deixa de fazer ao constatar uma infração, gera na cabeça do condutor um dos piores males humanos: a impunidade.
No nosso caso a TV e as ONGs não tem muita parcela na "forja do monstro", na verdade as ONGs nem sabem que nós existimos (só se lembram da gente pra flertar com o enfrentamento ao Tráfico de Pessoas) e a TV gosta mesmo é da PF - ultimamente só para cutucar o PT. As ações e apreensões da PRF são contabilizadas/divulgadas pela imprensa como se fôssemos um batalhão rodoviário da co-irmã (que diz estar em crise - como se todas as polícias não estivessem nesse governo guerrilheiro!?!).

Quanto aos "especialistas" em segurança pública, ninguém nunca saberá o que é passar 12 horas ininterruptas em atendimento de acidente com produtos perigosos (bitrem de combustível incendiado, por exemplo) sem ter o que comer ou beber e ainda sinalizar/preservar o local para evitar uma catástrofe; nunca saberão o que é se deparar com vítima de acidente de trânsito politraumatizada e ter que fazer o APH, pois o Corpo de Bombeiros Militar mais próximo está a 200Km; não saberão ainda o que é ser uma equipe de 2 policiais para cobrir um trecho de 250Km de rodovia e ter como armamento somente uma pistola calibre .40 e uma espingarda calibre 12 (quase um bacamarte) para enfrentar quadrilha de roubo a banco com 12 bandidos, com fuzis/carabinas .762 e .556, além de quilos de dinamite, tripulando 4 veículos.
Esses iluminados, inclusive gestores que andam de "fardinha" estilo chip americano, NUNCA SERÃO policiais (mesmo se gabando de um passado de uma nostalgia fantasiosa).

Não trabalhamos esperando holofote da sociedade, apenas combateremos toda e qualquer injustiça, inclusive aquela que nos atinge. Não sucumbiremos a inversão de valores da sociedade manipulada pela imprensa, que quer uma polícia acuada, trabalhando no fio da navalha num cenário onde os direitos individuais suprimem os da coletividade; onde o humano direito está trancado dentro de casa enquanto os que escolheram viver à margem das regras (por isso são marginais) estão ganhando espaço e criando um mundo cruel de medo e afronta a liberdade. Não seja condescendente com tudo isso: quem odeia polícia é bandido!



PRFoxxx

sábado, 29 de março de 2014

Guerra Civil - Parte I

Um bom texto de um PMRJ narrando seu sentimentos após o ocorrido esta semana no Rio de Janeiro.
Ao ler, transpus todo esse turbilhão de sentimentos para a minha realidade, que vou relatar para vocês em breve. Na verdade já estou a escrever o texto, mas publicarei adiante para que possam fazer o paralelismo entre as situações e ver se chegamos às mesmas conclusões que apontarei.

"Em 48 horas, 4 PM feridos,1 PM Feminina Morta e 1 Masculino. Pra Corporação: Morreu cumprindo o seu dever. Pra Sociedade: eles ganham pra isso. Pra família: um buraco no peito, e muito remédio tarja preta. Pra mim: ódio. Será que só quando uma JUÍZA morre que tem Direito a Matéria Exclusiva no Fantástico? Eis o Monstro que vocês criaram, Direitos Humanos, ONGs que protegem Vagabundo, espero que provem do próprio veneno um dia. A certeza da impunidade, acaba com a nossa esperança de um Rio melhor.
Sofremos tanta cobrança, mas ninguém nos serve de exemplo. Podem dizer que somos truculentos, podem dizer que a bala perdida saiu da arma dos Policiais, podem dar Entrevista nos difamando, mas vocês nunca poderão dizer: Que nos falta coragem pra enfrentar essa merda de Guerra no RJ.
Agora entendo a parte do Hino da Polícia Militar que diz "ser Policial é algo que nem todos podem entender". Pra finalizar, faço um Convite ao Especialista em Segurança Pública: Eu Gostaria de Convidar você a passar uma Madrugada no Complexo do Alemão, já que são chamados de "Especialistas", gostaria de ver sua reação debaixo de uma Rajada de 7.62 m num beco escuro, e gostaria que fizesse um Relatório em 2 segundos.
Pois esse é o tempo que tenho pra identificar se é um guarda chuva ou fuzil, um homem ou uma criança, uma furadeira ou uma Pistola, um Nextel na Cintura ou uma Granada...ao contrário das horas que vc tem dando Replay nas Câmeras de Segurança, sentado no Ar Condicionado."

"Quem poupa o Lobo sacrifica a ovelha"

sexta-feira, 14 de março de 2014

Dia de enxugar gelo


Sociedade... Ah a sociedade da Ordem e Progresso, que orgulho!

Manchete do dia 10 de Março de 2014 (não é 1514!)
"MT: Adolescente de 15 anos é flagrado dirigindo carreta carregada de soja na BR-163"
Leia mais clicando aqui.

Espantado com a manchete? Eu não fiquei quando li; na verdade quando recebi os dados da ocorrência via Whatsapp para fazermos a divulgação para a imprensa, já comecei a pensar no tema. Fiz lá minha filosofia portátil e reafirmei minhas convicções de que estamos vivendo numa terra sem lei aqui nesse país que faz fronteira com o Brasil e o Pará. Porém quando "filosofei", nunca pude imaginar que ia ler os comentários que transcrevo abaixo, que foram extraídos na íntegra da página do site Cenário MT no Facebook. Leiam e vejam se tem a mesma impressão que tive e descreverei adiante:

_________________________________________________
1- Robson Ramos Gomes Irresponsabilidade é o pai deixar o filho virar bandido, tá certo que noticia publicada é um erro do responsavel, mais vem aqui no bairro jardim imperial mostrar a quantia de menores perdido na droga e roubando a população.
2-
Roberta Silverio concordo, com 15 anos pode pula carnaval, 16 pode vota, mais trabalha não pode....
3-
Ana Maria Fandaruff Acho que se ele tivesse roubando td mundo acharia melhor né? ??? Dexa trabalha meu povo !!!!!!!
4-
Alisson Alemao Matar roubar se drogar se prostituir tudo normal, mas se trabalhar aí é anormal. Por isso tá cheio de vazio nesse Brasil.
5-
Marcos Adriane Antonelli Assim como a maioridade penal a idade para se estar apto a capacitação a condução de veículos de menor porte também deveria ser lei a muito tempo. Errado são nossos legisladores e seus milionários digníssimos maus advogados que se valem do cargo apenas para beneficio próprio e muito pouco da população, com certeza este pai não teria que cometer um ato fora da Lei no intuito do sustento se sua família!
6-
Cleomar Jose Immich Imprensa sensacionalista ......se tivese um pouco de respeito com o yrabalhador elogiava .Eu tenho um pia de 11 ano e ja ta dirigindo caminhao .....pega ele pega seus ipocritas
7-
Luciano Da Cas Um pia desses coloca muito marmanjo no bolso, pode ter certeza que não bebe e nem fuma, e por isso e penalizado. Esse e nosso Brasil.
8-
Vanessa Merlin Verdade roubar matar se droga pide agora trabalhar não pode
9-
Juliano Paulo Bagetti não entendi a imprudência, vcs queriam que ele estivesse fumando. craque ou roubando ou algo de ruim seus hipócrita idealista .
10-
Renato Scariote "o crime é considerado de menor potencial" Brincadeira isso né...

Temos aqui um prato cheio para uma ampla discussão, mas vou tentar me prender ao cerne da coisa: Legalidade.
Primeiro ponto acho que todos tem o direito de se expressar, e se é direito, o cidadão tem o dever de exercê-lo, quase que como na famosa frase de Rui Barbosa: "Quem não luta pelos seus direitos não é digno de tê-los.". Concomitante a tudo isso, qualquer ser pensante deve ter a ciência de um ditado popular, de autoria desconhecida, que aprendi com minha mãe: "bobo calado se passa por civilizado".
Em geral, acho que tentar saber de tudo um pouco é legítimo, mas hoje as pessoas tem preguiça de pensar, preguiça de pesquisar um tema para poder expor seus argumentos numa discussão pública. Acima citei 10 exemplos disso e não é nenhum exagero, é só uma amostra não viciada do sociedade na qual estou inserido.
Lembrei-me agora de uma publicação que vi há algum tempo que falava que o Facebook estava sendo "Orkutizado". Voltei a pensar nisso quando li os 5 primeiros comentários (muitos deles com erros gramaticais/ortográficos grosseiros, mas nesse momento isso está em segundo plano): adiante li os outros comentários de leitores diferentes, pessoas de realidades distintas umas das outras, superficialmente analisando. A conclusão é que o Facebook não está sendo Orkutizada, mas sim a sociedade está alienada a ao ponto de parecer que quaisquer impressões ou convicções que um ser pensante tenha diferente dessa massa acéfala, estará vivendo num mundo paralelo (que deveria ser o real).
Ok, sei que viajei, mas vou tentar ser mais direto: tenho me sentido um E.T. pelo simples fato de pensar, de ter senso crítico, de ter estudado e involuntariamente me diferenciado do extrato médio (e que "média medíocre") brasileiro. Para muitos pode soar como prepotência (quem me odeia virtualmente - e não são poucos - agora têm certeza), mas basta cada um de nós dar uma olhada ao redor e ver que o meio no qual estamos inseridos o comportamento, as vestimentas, o linguajar, as músicas, enfim, o pensamento está massificado e a sociedade tem se nivelado por baixo! É duro, mas se a gente aceitar, dói menos (rs).
Outra ótica da Legalidade para o caso, é ver a falta de percepção da realidade por má interpretação do teor da matéria jornalística. Os "cidadãos" não se deram conta de que o "menor" não cometeu crime, sim o seu pai. (Crime capitulado no Art. 310 da Lei 9503/97 - Código de Trânsito Brasileiro).
Um terceiro ponto, a distorção de conceitos. Como podem perceber, os "cidadãos" acreditam que o conceito de Crime é restrito a alguns tipos penais como Matar, Roubar, Traficar, Fazer uso de substância entorpecente (este está quase se tornando fato atípico, infelizmente). Para esses cidadãos "supra-sumo da juridicância internetística", crimes como os de trânsito, contra a saúde pública, fiscal e etc simplesmente não são (ou não deveriam ser) crimes. Simples de entender, não é? Nem tanto, apesar de que eu tenho convicção de que todo ser pensante sabe discernir uma conduta reprovável de uma aceitável desde criança (a não ser que tenham pais bandidos, que fazem perpetuar valores sociais deturpados), mesmo que nunca tenha lido um artigo do Código Penal ou tido aulas sobre isso.
Quarto e penúltimo ponto, penso na legalidade ante a barganha, ou seja, "eu podia estar matando, roubando, traficando, mas estou trabalhando". Chegaram a levantar a hipótese de que o adolescente estaria a aprender um ofício e que seu pai estaria correto ao mostrar esse caminho para ele. De certa forma, sim, o pai está correto (e isso é obrigação paterna) em expor ao filho que só o caminho do trabalho dignifica; porém ele pecou ao fazer isso em cima do mote "os fins justificam os meios". O fim "trabalho" nunca pode suprimir regras sociais, não pode tanger um perigo abstrato, que foi o que esse pai criou ao permitir que uma pessoa sem condição psicológica (e física) tomasse posse de um veículo de, no mínimo 48,5 toneladas quando carregado. O crime do Art. 310 do CTB é considerado de mera conduta, ou seja, não precisa que o perigo real ou o dano venham a acontecer... ou seria preciso que um desses "seres brilhantes" (ou talvez sua família inteira, como ocorre em muitos casos) que comentaram na notícia viessem a ser vítimas de acidente de trânsito com um menor de 15 anos dirigindo (ou tentando) uma arma de quase 50.000 Km?
Quinto e último ponto (sei que o texto está longo e cansativo), mas falemos da legalidade do serviço policial. Não há espaço hoje para dúvidas de como funciona um serviço de fiscalização (seja ele de trânsito, criminalidade e etc) senão o estritamente ligado a lei. Não cabe espaço ao agente da autoridade julgar condutas, sobretudo quando está evidente um tipo penal como o caso em tela. O agente que toma ciência do fato e tem, no mínimo, a convicção da materialidade e indícios de autoria, DEVE (veja bem, dever é diferente de poder) apresentar o fato a autoridade policial (Delegado de Polícia Judiciária Civil ou Federal), que acolherá a denúncia e abrirá inquérito de ofício. É mais do que uma questão de avaliar conveniência e oportunidade de encaminhar a ocorrência ou não. Quem deixar de fazer o ofício, um Ato Administrativo Vinculado, por qualquer motivação que seja, incorre em Prevaricação... em suma: diante de um crime, se o servidor é inerte, passa ele a cometer um crime. Como digo sempre: entre o criminoso de fato ir para a delegacia ou eu, o agente da autoridade, ir para a rua (demissão), que vá ele!

Como diriam os antigos: o mundo vai de mal a pior! Quando a polícia não trabalha, o povo reclama. Quando trabalha, inclusive preventivamente, reclamam mais ainda.
Cito um saudoso colega: Todo usuário quer a aplicação das lei, PARA OS OUTROS!

Estamos vivendo num mundo de inversão de valores, onde quanto mais se tenta fazer pelo coletivo, mais levamos porrada! Parabéns sociedade, está cavando a própria cova.

Imagem ilustrativa - CenárioMT

PRFoxxx