Talvez um bom texto de um PRF (Policial Rodoviário Federal, que é diferente de PF - Policial Federal, ainda que muita gente não saiba) narrando seus sentimentos após os 05 anos de atividade operacional no estado que faz fronteira com o Brasil e o Pará.
Ao escrever, tentarei sintetizar o turbilhão de emoções (e bota emoção nisso) que é vir encarar a "mãe preta" (rodovia) todos os plantões sem ter a certeza de voltar para casa, como aconteceu com muitos colegas e com meu grande amigo Felipe Amaral.
Como já dito na publicação anterior, farei um texto análogo ao do colega da PMERJ num tom de desabafo realista e tentarei ser sintético, apesar de a realidade nunca permitir síntese concreta do que é essa Firma tão nobre (mesmo não sendo assim vista pelos gestores) chamada PRF - Polícia Rodoviária Federal.
Ao escrever, tentarei sintetizar o turbilhão de emoções (e bota emoção nisso) que é vir encarar a "mãe preta" (rodovia) todos os plantões sem ter a certeza de voltar para casa, como aconteceu com muitos colegas e com meu grande amigo Felipe Amaral.
Como já dito na publicação anterior, farei um texto análogo ao do colega da PMERJ num tom de desabafo realista e tentarei ser sintético, apesar de a realidade nunca permitir síntese concreta do que é essa Firma tão nobre (mesmo não sendo assim vista pelos gestores) chamada PRF - Polícia Rodoviária Federal.
Em 24 horas, 4 PRFs feridos, 1 PRF feminina sofreu assédio moral, 1 PRF morto.
- Para a corporação: estar ferido em serviço são ossos do ofício (não tem guincho conveniado para realizar remoções e não tem equipamentos de primeiros socorros para prestar APH às vítimas de acidente de trânsito; o uniforme não protege de eventos adversos, EPIs não são fornecidos). Sofrer assédio moral ao ser "convidada" a sair da pista (serviço operacional) para trabalhar no serviço administrativo (pois não há quadro efetivo de servidores dessa natureza) em troca de ser removida para onde quiser ou estar sempre entre os preteridos para viajar (e ganhar diárias) também estão entre as medidas nada tangentes à meritocracia e gestão voltada para as pessoas como se quer pregar. Ser morto em serviço então, ah, isso acontece... da profissão de policial infere-se o risco (mesmo sem receber adicional de periculosidade, por exemplo) de "morrer" pela sociedade (essa mesmo que o vê como algoz da anarquia, digo, democracia brasileira).
- Para a sociedade: "eles ganham para isso". Sim, ganhamos para executar um trabalho de excelência, de eficiência, de salvar vidas. Não somos mercenários e não estamos aqui para "ganhar bem até o dia que morrer e acabou". Ganhamos muito melhor que um PMRJ sim, mas não somos nós a elite do serviço público brasileiro como o governo quer que você acredite, muito pelo contrário, são as PMs que são mal remuneradas. Ganhar melhor que outra categoria não necessariamente implica estar a contento. Nosso serviço exige responsabilidade e o pagamento deveria ser a altura, mas o governo guerrilheiro revanchista não cumpre sequer o previsto na Constituição Federal, que é a correção da remuneração em função da inflação (que o governo também te faz acreditar que não existe). Sobre os que sofrem assédio moral... isso a sociedade não viu e nunca verá.
- Para a família: o ferido é um problema a mais em casa; o que sofreu assédio moral nem sequer terá coragem de contar para seus pares; o morto será uma saudade eterna e receberá uma "homenagem" dos seus gestores quando o recém reformado Posto PRF (que recebeu só uma pintura, mas consta no orçamento algumas dezenas de milhares de Reais empenhados) receber um letreiro com o seu nome. Ah, que linda essa homenagem, coisa que nenhum vivente em sã consciência pode prever como seu destino.
Aqui na pista também são criados monstros, mas não como os "faca na caveira" do BOP/RJ: aqui viramos "caneta na caveira". Simples: eu explico! Como digo sempre: cada condutor tem o "guarda" que merece. Enquanto a caneta estiver leve, o consciente coletivo instalado é de que ao "pegar leve" (por causa da confusão do conceito de Polícia Cidadã), a conduta permissiva da PRF implica necessariamente em não agir conforme manda o CTB. Uma multa que se deixa de fazer ao constatar uma infração, gera na cabeça do condutor um dos piores males humanos: a impunidade.
No nosso caso a TV e as ONGs não tem muita parcela na "forja do monstro", na verdade as ONGs nem sabem que nós existimos (só se lembram da gente pra flertar com o enfrentamento ao Tráfico de Pessoas) e a TV gosta mesmo é da PF - ultimamente só para cutucar o PT. As ações e apreensões da PRF são contabilizadas/divulgadas pela imprensa como se fôssemos um batalhão rodoviário da co-irmã (que diz estar em crise - como se todas as polícias não estivessem nesse governo guerrilheiro!?!).
Quanto aos "especialistas" em segurança pública, ninguém nunca saberá o que é passar 12 horas ininterruptas em atendimento de acidente com produtos perigosos (bitrem de combustível incendiado, por exemplo) sem ter o que comer ou beber e ainda sinalizar/preservar o local para evitar uma catástrofe; nunca saberão o que é se deparar com vítima de acidente de trânsito politraumatizada e ter que fazer o APH, pois o Corpo de Bombeiros Militar mais próximo está a 200Km; não saberão ainda o que é ser uma equipe de 2 policiais para cobrir um trecho de 250Km de rodovia e ter como armamento somente uma pistola calibre .40 e uma espingarda calibre 12 (quase um bacamarte) para enfrentar quadrilha de roubo a banco com 12 bandidos, com fuzis/carabinas .762 e .556, além de quilos de dinamite, tripulando 4 veículos.
Esses iluminados, inclusive gestores que andam de "fardinha" estilo chip americano, NUNCA SERÃO policiais (mesmo se gabando de um passado de uma nostalgia fantasiosa).
Não trabalhamos esperando holofote da sociedade, apenas combateremos toda e qualquer injustiça, inclusive aquela que nos atinge. Não sucumbiremos a inversão de valores da sociedade manipulada pela imprensa, que quer uma polícia acuada, trabalhando no fio da navalha num cenário onde os direitos individuais suprimem os da coletividade; onde o humano direito está trancado dentro de casa enquanto os que escolheram viver à margem das regras (por isso são marginais) estão ganhando espaço e criando um mundo cruel de medo e afronta a liberdade. Não seja condescendente com tudo isso: quem odeia polícia é bandido!
PRFoxxx
Periodicamente é necessário desabafar, como uma válvula de escape...para não ficar maluco vivenciando tantas coisas que são explicitamente erradas mas que alguns(ou muitos) finjam não existir.
ResponderExcluirMas por incrível que possa parecer isso me dá mais garra para realizar meu grande sonho.
Parabéns pelo artigo!!
Fábio Lima, obrigado pela análise e compreensão.
ExcluirAqui tem um amigo torcendo para que gente como você possa estar do lado de cá lutando por um ideal.
PRFoxxx, estou quase chegando.
ResponderExcluirMas sei que agora deixarei de ser pedra e me tornarei vidraça e que a mídia e a sociedade não perdoam a polícia, tratando-a como o mal a ser combatido numa inversão de valores preocupante e sem lógica.
Você parece muito com os instrutores da academia quando escreve. Mostra o Orgulho de Pertencer, mostra que gosta do que faz, mas as condições e o não-reconhecimento estão minando seu fôlego.
Por favor não desanime. A sociedade precisa de nós!
Grande abraço.
Colega, desculpe, mas até pouco tempo atrás eu tinha orgulho de ser PRF, quase que esse slogan que a atual diretoria criou para nos ludibriar que o salário baixo e a falta de contrapartida do poder público diante de nossa importância são razoáveis/suficientes.
ExcluirSonhei em ser PRF, hoje sou, mas os únicos orgulhos que tenho são de conseguir voltar vivo para casa e de ter feito nessa polícia amigos p o resto da vida. Amo o que faço, me dedico ao máximo (porque isso é coisa de índole). O fôlego já era, o desânimo é fruto da inversão de lógica pela qual estamos passando, como se fôssemos os culpados pelos estigmas da sociedade (que é podre e não quer se curar).
Abraço e obrigado pela consideração.