segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Educação Física Institucional

Estava agora mesmo a responder um comentário de leitor e pensando: daqui a pouco vou embora mais cedo; o plantão nem vai render tanto e muito provavelmente irei pra casa sem uma "ocorrência daquelas" pra contar para a esposa quando chegar em casa.

Por que vou embora mais cedo para casa? Porque depois de muitos anos a PRF enfim regulamentou um programa de Educação Física Institucional.
A Portaria Interministerial Nº 02 de 15 de Dezembro de 2010 estabelece as Diretrizes Nacionais de promoção e Defesa dos Direitos Humanos dos Profissionais de Segurança Pública, e, por sua vez, o item 25 de seu anexo determina que se deve "Estimular a prática regular de exercícios físicos, garantindo a adoção de mecanismos que permitam o cômputo de horas de atividade física como parte da jornada semanal de trabalho".

Acontece que essa regulamentação, não sei se de forma proposital ou amadora, prevê que o servidor fará jus a 1 hora de "dispensa" do expediente para que possa desenvolver atividade física. Até aí tudo bem, razoável e justo; PORÉM, na redação da norma interna foi colocado que a dispensa é para cada jornada laborada pelo servidor. Fácil ver então que criou-se uma diferenciação entre os servidores do quadro administrativo e os da atividade-fim (que trabalham em regime de plantão).
Caso 1: servidor administrativo no mês de Agosto/2015
- 21 dias úteis = 168 horas que deveria trabalhar
- Desconto de 21 horas (01 hora/jornada)
Total 147 horas

Caso 2: servidor da atividade-fim no mês de Agosto/2015
- 07 plantões = 168 horas que deveria trabalhar
- Desconto de 07 horas (01 hora/jornada)
Total 159 horas

Onde está a justiça nesse cálculo? Princípio da Isonomia? Carreira única?

Não adianta uma boa intenção e uma péssima execução. Não serve uma medida para "promoção da saúde" se no fim das contas quem mais tem sua saúde afetada/degradada, que é o servidor da atividade-fim, (que não dorme, que trabalha ao sol, que enfrenta o desgaste da lida com infratores/acidentes/crimes) não recebe de fato essa oportunidade de buscar a contento o recurso que minimize as condições adversas a que está submetido.

Eu aderi ao programa justamente porque já desenvolvia atividades físicas regulares (fico pagando de aprendiz de triatleta) e não "gozava" o direito, quando pensei: estou perdendo essas preciosas 07 horas ao mês, então vou usar!

É injusto, mas é mais uma das esmolas que a gente acaba aceitando pra não ficar mais atolado na m*rda que já estamos... é assim com a falta de regulamentação de escala, remuneração defasada, ausência de EPI e por aí vai...

PRFoxxx

Apoio irrestrito

Discurso proferido no plenário da Câmara dos Deputados na Mobilização da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais - FENAPRF em Brasília, Distrito Federal, pela reestruturação e valorização da carreira - 11/08/2015


Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na manhã de hoje, a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais - FENAPRF iniciou um movimento no sentido de centrar esforços nesse semestre nos interesses dessa importante categoria. Neste instante, centenas de policiais rodoviários participam de um movimento em frente ao Congresso Nacional.
Dentre as várias reivindicações dos policiais rodoviários federais está a inclusão na ordem do dia do Plenário da Proposta de Emenda à Constituição nº 339, de 2009, além, é claro, da valorização dessa categoria de um modo geral.
Os policiais rodoviários federais exercem uma atividade fundamental para a sociedade. São eles que cuidam da vida dos usuários nas estradas, atuam cotidianamente em diversas ações, fazem cumprir o Código de Trânsito Brasileiro e auxiliam as comunidades próximas às rodovias, quando necessário.
Os policiais rodoviários federais combatem o tráfico de drogas e de armas, a prostituição infantil, o contrabando e o descaminho, o trabalho escravo ou o análogo à escravidão, e trabalham na prevenção do ilícito. Os policiais rodoviários federais de todo o Brasil apoiam outros órgãos federais, como a Receita Federal, o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal, o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis , a FUNAI - Fundação Nacional do Índio, a ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres e o DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
A Campanha Salarial 2015 dos policiais rodoviários federais traz reivindicações justas e expectativa de avanços para a categoria. No acordo celebrado com o Governo em 2012, com muita união e luta, os policiais rodoviários federais conquistaram o nível superior para a carreira.
Agora, é o momento de dar mais um passo, adequando a estrutura remuneratória para a média das demais carreiras típicas de Estado que têm atribuições similares às dos policiais rodoviários federais. Atualmente, os policiais rodoviários federais estão no patamar mais baixo de remuneração, quando comparados a servidores de outras carreiras.
Sr. Presidente, esta realidade precisa mudar.
O Presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais - FENAPRF, Pedro Cavalcanti, enumera ações dos policiais rodoviários federais e critica a disparidade sofrida por eles. "O policial rodoviário federal desempenha atribuições de gestão, fiscalização, policiamento, prevenção, atendimento de acidentes de trânsito, confecção de termo circunstanciado de ocorrência e perícia nos acidentes de trânsito com vítima. Dentro dos estudos que realizamos, constatou-se que nada justifica tamanha discrepância em relação às demais carreiras de nível superior", afirma Cavalcanti.
Ele enfatiza a discriminação existente quando comparada a carreira do policial rodoviário federal à dos servidores federais. "Chega a ser discriminatória até, a diferença entre a carreira dos policiais rodoviários federais e a as demais similares. Trata-se de uma injustiça que precisa ser corrigida, por isso a reestruturação é o nosso foco", acrescenta o Presidente da FENAPRF.
Ainda, para Cavalcanti, melhorar as condições de trabalho dos policiais rodoviários federais se faz necessário para a segurança da sociedade brasileira. "Investir na valorização dos policiais rodoviários federais é investir na segurança pública que a sociedade tanto precisa".
O trabalho do policial rodoviário federal é uma atividade perigosa e desgastante. Além dos perigos decorrentes do enfrentamento ininterrupto à criminalidade, os policiais rodoviários federais correm riscos de atropelamento durante fiscalizações ou atendimentos e até de envolvimento em acidentes de trânsito durante os deslocamentos com viaturas.
O enorme desgaste físico e psicológico causado por essas situações podem colaborar com a baixa expectativa de vida dos policiais rodoviários federais, uma das menores dentre todas as demais profissões existentes no Brasil: apenas 57 anos. Por isso, neste ano, a luta da categoria é também para melhorar as condições de trabalho, assim como ampliar os direitos sociais dos policiais rodoviários federais.
Na iniciativa privada, Sr. Presidente, existem normas regulamentadoras que as empresas devem seguir. As normas ditam as regras das condições de trabalho que garantem um ambiente mais seguro e adequado. O policial rodoviário federal também necessita de normas que regulamentem e assegurem condições de trabalho adequadas. No entanto, o Governo Federal não implementa tais normas aos servidores públicos.
A NR 07, que regula o serviço de apoio médico e psicossocial, é um exemplo. O policial, após uma ação de grande impacto emocional, deve ser acompanhado por tratamento preventivo e, se for o caso, afastado das atividades operacionais até estar plenamente recuperado. A somatização dessas ações ao longo dos anos contribui sobremaneira para a menor sobrevida dos policiais rodoviários federais.
Os policiais rodoviários federais aposentados estão sendo injustiçados com a contribuição previdenciária sobre seus proventos. Trata-se de contribuição feita sem a devida contrapartida. Não faz sentido contribuir para uma nova aposentadoria que nunca existirá. A FENAPRF e os SINPRFs defendem a Proposta de Emenda à Constituição nº 555, de 2006, que visa diminuir o efeito nefasto dessa contribuição que retira dos aposentados uma fatia de seus orçamentos cada vez mais apertados pelos aumentos dos preços dos remédios e dos valores dos planos de saúde.
O trabalho noturno através de escala de revezamento faz parte da rotina dos policiais rodoviários federais. Contudo, o direito ao adicional noturno garantido pela Constituição foi retirado pelo Governo Federal em 2008. Para que esse direito seja restabelecido, temos que aprovar a Proposta de Emenda à Constituição nº 339, de 2009.
O adicional noturno, o adicional por atividades penosas, insalubres ou perigosas são outros direitos comuns a todo trabalhador brasileiro, mas, também, é negado aos policiais rodoviários federais. Assim como todo trabalhador é merecedor dessas compensações, nada mais justo que os policiais rodoviários federais também recebam o benefício.
O adicional de fronteira é outro item indenizatório pelo qual lutam os policiais rodoviários federais. A lei que o criou já foi aprovada e sancionada, porém está aguardando regulamentação do Executivo Federal desde setembro de 2014, há mais de um ano.
O contrabando e o descaminho passam pelas fronteiras. As apreensões de drogas, de armas e de explosivos poderiam ser ainda maiores caso fosse ampliada a presença da PRF nesses locais. A implementação do adicional de fronteira para fixação desses policiais se faz fundamental. Assim, o Governo Federal ajudaria muito os serviços de segurança pública no restante das Unidades da Federação e a população seria a maior beneficiada.
Os policiais rodoviários federais lutam para corrigir uma discriminação inaceitável: o pagamento diferenciado dos valores dos auxílios alimentação e creche, e, per capita, dos planos de saúde para os servidores dos três Poderes.
Os servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário praticamente recebem o dobro desses valores quando comparados aos recebidos pelos servidores do Executivo, do qual os policiais rodoviários federais fazem parte. É preciso tratar com igualdade as necessidades dos servidores públicos, sejam eles do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário.
Os policiais rodoviários federais lutam por postos com melhores condições de trabalho e atendimento à sociedade; proteção quanto à exposição aos ruídos; uso de água potável e em condições de utilização; banheiros para todos os gêneros e em condições adequadas de uso; acessibilidade, com ambiente interno protegido do sol e da chuva, livre de umidade, sem rachaduras, livre de choques elétricos e da possibilidade de incêndio e alagamentos.
Nos 3 últimos anos, cerca de 30 Postos de Fiscalização foram fechados. Os policiais rodoviários federais são contrários a essa política. É a sociedade que perde, pois não terá mais a referência policial fixa nas rodovias. Sem o posto, o cidadão não terá como pedir socorro ou informar alguma ocorrência, além de não ter mais aquele ponto de apoio seguro nas viagens. O fechamento de postos da PRF facilita e amplia a ação da criminalidade.
Todo profissional tem equipamentos de proteção individual regulamentados, mas os policiais rodoviários federais, não. Por isso, muitas vezes trabalham sem os equipamentos necessários, como colete balístico dentro do prazo de validade, rádio comunicador, lanterna, capa de chuva e taser. Os policiais rodoviários federais são obrigados a trabalhar debaixo do sol e não recebem sequer um protetor solar. Tudo isso aumenta ainda mais os riscos da profissão e, por conseguinte, prejudica o atendimento adequado à sociedade.
Como os serviços de urgência e emergência, dentre eles o policial, devem ser prestados ininterruptamente à população brasileira, os policiais rodoviários federais trabalham no regime de escala de revezamento ou de plantão, como é normalmente chamado.
Porém, Sr. Presidente, os policiais rodoviários federais sofrem com a falta de uma regulamentação nacional da escala de serviço, que prejudica muito sua vida profissional e familiar. Além de ser uma arma de pressão contra o servidor, que nunca sabe como será a sua rotina de trabalho no mês seguinte, a falta dessa regulamentação nacional dificulta a programação de vida social junto à família e à comunidade.
Apesar de ter que atender uma frota que saltou de 2.179.398, em 1998, para a 5.989.921 de veículos, em 2014, e uma malha rodoviária mais extensa, o efetivo da Polícia Rodoviária Federal é o mesmo há 20 anos. Aumentar o efetivo significa prestar um melhor serviço à sociedade.
Hoje, mesmo com quantidade de policias rodoviários federais abaixo do necessário para atender um país com extensas dimensões continentais como é o Brasil, os policiais rodoviários federais conseguem entregar resultados fantásticos para a sociedade.
Vejamos alguns números de 2014, segundo dados do Departamento de Polícia Rodoviária Federal:
- Redução de 66,45% do índice para acidentes por milhão de veículos - foi de 2 mil por milhão, quando a projeção apontava para 3.329;
- Redução do número de vítimas fatais nos acidentes para 98 por milhão de veículos, quando a projeção apontava para 128;
- Redução do número de acidentes com feridos para 1.190 por milhão de veículos, quando a projeção apontava para 1.571;
- Apreensão de 177,3 toneladas de drogas;
- Redução de 15,3% nos acidentes em rodovias federais.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, os policiais rodoviários federais, com sua dedicação e seu trabalho, contribuíram para a redução nos índices de acidentes com mortos e feridos e geraram uma economia de R$ 1,10 bilhões e R$ 2,97 bilhões aos cofres públicos respectivamente.
A sensação de segurança, o combate ao tráfico de drogas, as apreensões de dinamites, o combate ao trabalho escravo ou análogo à escravidão, o combate à prostituição infantil, o combate ao contrabando e ao descaminho, a prevenção do ilícito, a preservação da vida, dentre outros tão importantes serviços típicos de Estado, fazem do policial rodoviário federal um profissional qualificado e reconhecido pela sociedade.
Eu gostaria, mais uma vez, Sr. Presidente, de reiterar no plenário desta Casa, minha disposição de continuar defendendo a valorosa categoria dos policiais rodoviários federais. Mais um semestre que se inicia, e a certeza que continua: valorizar os policiais rodoviários federais é preciso para o bem da sociedade brasileira.
Dep. Gonzaga Patriota (PSB-PE) em 11/08/2015 (Lei o original clicando aqui)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Desdobramento

Correndo os olhos por umas publicações antigas, acabei de ver aqui uma publicação que contempla uma das centenas de prisões por embriaguez na direção de veículo (Lei mais: Sexta-feira nada santa). Ao ver a foto da publicação e reler o texto, rememorei toda a abordagem e fiz a correlação com a audiência na justiça estadual que tive essa semana (sim, por incrível que pareça, esse tipo de crime tem audiência com oitiva de testemunha, nesse caso o policial, para corroborar o que está escrito no Boletim de Ocorrência).

Como de costume, antes de ir para a audiência eu sempre acesso a consulta pública de processos para ver o teor da ocorrência, a qualificação do envolvido e o enquadramento, visto que as audiências ocorrem muito tempo depois das prisões e não é tão fácil lembrar. Curiosamente vi que em um dos andamentos do processo, o infrator autuado recebeu condenação pelo crime a ele imputado e pela dosimetria da pena recebeu cobrança de valor igual a 1 salário mínimo e suspensão da CNH por 02 meses.

Nossa, me emocionei aqui agora. Negativamente, claro, sobretudo quando vi um colega formado em Direito explanando sobre o vício da justiça brasileira (e explicou o porquê) optar sempre pela pena mínima (sinais da sociedade permissiva). É uma pena (mesmo não sendo pena de lei) que naquela audiência que condenou aquele "pobre motorista trabalhador" a juíza (que mora em cidade distinta do infrator), não possa levar em conta que aquele ébrio contumaz (só depois que o prendi, o vi mais 2x dirigindo embriagado na cidade, sem cinto de segurança e numa dessas vezes conversando tranquilamente ao celular) é um homicida em potencial e que essa suspensão de CNH por 02 meses soa como prêmio a impunidade, bem como o valor pífio de um salário mínimo (que se for multiplicado por 10x não afeta o equilíbrio econômico do autuado) é medida branda de punição para um algoz da sociedade. A autoridade judicial tampouco se deu conta (porque não leu meu Blog, hahaha) de que aquele homem ao ser preso ironizou a ação policial (por conseguinte, descredibilizou o Estado), até porque se a gente colocar isso na narrativa do Boletim de Ocorrência o delegado irá ignorar e não o enquadrará em Desacato a Autoridade (sim, pois o delegado é membro da sociedade permissiva).

Na sala de audiência o senhor foi um gentleman, infrator, reconheceu que bebeu e se fez de santo. Colou! Você ganhou; se fez de coitado como todo brasileiro covarde e continua na rua até matar alguém, como o filho do Ivo Pitanguy, como o Renner e muitos outros...

Seguimos firmes na luta: a polícia prende, a justiça solta e não é por sua culpa exclusiva. É porque a lei é falha. Mas quem faz a lei? Os legisladores colocados lá por nós, cidadãos que exercem o DEVER do voto (voto é DIREITO quando é facultativo), por conseguinte, a culpa dos nossos males vem exatamente de nós, o povo!

PRFoxxx

Empata


A história de rodovia de hoje estou contando a pedido da minha esposa, que ao ouvi-la comentou: por que não escreve no Blog Dentro da Viatura?
Vamos lá então explanar um dos inusitados, mas não raros, eventos do tipo na rodovia.

Um ronda despretensiosa

Mentira, nenhuma ronda é despretensiosa. Não saímos para passear de viatura e gastar combustível que é pago com o seu (e meu) rico dinheirinho arrecadado nesse país que tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo.
Se a gente coloca esse uniforme, se equipa e vem trabalhar, é porque devemos no mínimo fazer jus ao (defasado e cada dia mais vergonhoso) salário que recebemos. E assim foi: ronda noturna para cobrir o trecho e "caçar" o ilícito. Ops, parceiro, olha ali atrás daquela moita de capim colonião: um carro parado com gente dentro. Manobra, ilumina, abordagem padrão!

Eis que desce um sujeito de cueca samba-canção enquanto a outra ocupante do veículo, não menos com cara de "empata" se veste no banco traseiro. Equipe procede a abordagem enquanto a passageira desembarca para que possamos fazer a busca minuciosa no interior do veículo, ao passo que o sujeito questionado responde: "o carro é da minha esposa, que não é essa moça que está comigo. Por favor, não fala alto, ela acha que eu sou solteiro". Nessa hora ao mesmo tempo que dá vontade de falar mil coisas, a ética e postura profissional (nível de alerta) não permite e conclui-se o procedimento da forma mais segura dentro do previsto.

Indivíduo embriagado providenciou em 5 minutos um condutor sóbrio para conduzir o veículo e levá-los em segurança até a cidade. Resultado: um veículo com 2 ocupantes retirados de situação de vulnerabilidade na faixa de domínio da rodovia: sim, assim como a abordagem foi policial, poderia ter sido marginal. E foi exatamente por esse motivo é que fomos cumprimentados e recebemos agradecimento ao final da abordagem. Na hora da empolgação a razão perde lugar, mas quando a gente "empata", logo o sujeito se esperta e entende que nossa intervenção ali foi pela sua segurança.
Ponto para a equipe de ronda; para o casal é 0x0.

PRFoxxx

24/7

- 24/7 é o nome de uma arma letal, pistola semi-automática da Taurus
- 24/7 é também um ícone que representa continuidade, 24 horas por dia, 7 dias por semana
- 24/7 é que o resultado de um plantão PRF qualquer em uma rodovia não muito relevante no país que faz fronteira com o Brasil e o Pará.

24 horas com 7 presos

Arma letal para um policial rodoviário: o veículo.
Continuidade, como dizia um colega (que fez concurso para outro cargo e hoje ganha ao menos 2x o que eu ganho, correndo 20x menos risco): o crime não para!
Resultado: nunca prendemos tanta gente de uma vez só (equipe de plantão + equipe extra) pelo mesmo crime num curto espaço de tempo.

O plantão mal começa e um condutor altamente embriagado é preso pela equipe de serviço ordinário que realizava fiscalização no trevo com uma rodovia estadual. Ao ser levado para a Unidade Operacional para realizar os procedimentos (confecção de Boletim de Ocorrência, autuações e etc), mais 3 motocicletas são fiscalizadas e dos 3 condutores (sendo somente 1 com CNH), 2 embriagados. Excelente, aproveita-se a viagem para a cidade mais próxima e enche logo a cela. Padrão, equipe. Parabéns!

Calma, está só começando...

Equipe extra em fiscalização no perímetro urbano de outra cidade (onde ocorrera Exposição Agropecuária) registram mais 2 prisões pelo mesmo crime. Parabéns equipe, mas está pouco! Após os 2 colegas conduzirem os 2 flagrantes e retornarem a UOP, ainda brinco: amanhã vamos prender mais 3. Um deles ri acreditando ser improvável...

Eis que o dia amanhece e a Central informa acidente a 100Km da Unidade Operacional. Equipe em deslocamento para atendimento daquele evento que tinha informação de 1 óbito, depara-se com um automóvel em zig-zag na rodovia: abordagem feita e condutor altamente embriagado, o que é comprovado com a realização do teste de Etilômetro. Voz de prisão por flagrante e indivíduo conduzido para ser apresentado a autoridade policial. Atendimento de acidente: colisão motocicleta x bicicleta, condutor desta morto no local. Perícia finaliza os trabalhos, equipe PRF desloca-se até a unidade de saúde para verificar estado de saúde e coletar dados do outro condutor envolvido: adivinhem?!? Embriagado! Ocorrência encaminhada a autoridade policial daquele município, que logo requer a sua custódia ainda na unidade de saúde.

Equipe de retorno a Unidade Operacional para concluir as diretrizes de fiscalização e encerramento do plantão com o absurdo número de 7 ocorrências de crime de trânsito capitulado no Art. 306 da Lei 9503/97 - CTB. Ufa, um recorde! Não, um número absurdo que preocupa e incomoda. Seria muita coincidência termos prendido tanta gente no trecho esse dia? Não, a fiscalização de um trecho de quase 280 Km só mostra o quão grande é o espaço amostral de condutores embriagados prontos a usarem suas armas letais 24 horas / 7 dias por semana para fazer vítimas e uma delas pode ser você!


70 anos de vida não mereciam terminar por causa de um bandido que escolheu beber e matar, sabendo que o Código de Trânsito não prevê o Dolo Eventual. Ah, seu Raimundo, o condutor da moto é reincidente e não possui CNH, pois ele vive numa sociedade permissiva onde o sujeito é inocente até que após 30 anos seus inúmeros recursos sejam julgados.
Descanse em paz, seu Raimundo.


PRFoxxx

Nota de falecimento

Mais um pai de família não está mais aqui simplesmente por ser policial, por ter escolhido como missão de vida a nobre tarefa de proteger a sociedade. Não tombou em combate, mas sim na sua preciosa hora de "folga" enquanto estava com sua família. Foi atingido com crueldade em frente aos seus 4 filhos após os marginais terem descoberto sua farda no armário. Atiraram sem dó nem misericórdia; atiraram porque são menores de idade; atiraram porque queriam dinheiro para comprar entorpecentes para manter sua "nóia"; tiraram mais que uma vida...

Tiraram da sociedade daquela pujante cidade do Mato Grosso um oficial da Polícia Militar; um profissional que estava engajado na missão de tirar da vulnerabilidade aqueles mesmos "menores de idade" que poderiam vir a ser recrutados pelo mundo do crime como seus algozes foram. Tiraram da família um filho querido, um pai dedicado, um amigo incrível e um ser humano referência.

Tiraram de mim além de lágrimas quando no velório vi um dos seus filhos (que viu o pai ser atingido por vários disparos) chorar a perda do amigo, do paizão protetor e exemplo de homem. Tiraram-me ainda o resto de ânimo de continuar a missão.


Mais uma vez vem a inevitável condição de me colocar no lugar daquele colega. Ainda que com relativamente poucos pontos em comum entre o cenário em que ele vivia e o meu, o status de pai policial é o que me dá um alerta sobre como estamos vulneráveis e vivendo num cenário de inversão de lógica.
"Estar vulnerável" é que até então eu via na TV a realidade de policiais do Rio de Janeiro que precisam carregar dentro de mochilas seus uniformes da casa ao trabalho para não serem "identificados como policiais" por bandidos, bem como não podiam estender suas fardas no varal para secar evitando, assim, que suas famílias não fossem alvos do crime. Essa fatídica realidade agora me atingiu, ainda que indiretamente e me fez estar atento, preocupado, temeroso e cada dia mais indignado com a inversão de lógica.

Eu cheguei a pensar: "nossa, se eu fosse aquele bandido ao identificar o uniforme do policial que eu estava assaltando, ia fazer de tudo para sair de dentro daquela casa e sumir no mundo por ter escolhido a casa errada". Não só porque policiais devam estar isentos dos estigmas da sociedade, como a violência, mas também porque esses filhos da puta alguma hora estarão de volta às ruas e o próprio "sistema" (como eles dizem) se encarregará de sentenciá-los.
E por que isso não aconteceu? Porque há tempos estamos caminhando a passos largos ao encarceramento da sociedade, onde os hipócritas defensores dos "direitos humanos" e os cegos membros da sociedade brasileira escandalizam as ações policiais e concomitantemente romantizam a escolha (sim, é escolha) pela vida no crime.

Por falar em "direitos humanos", nenhuma comissão/entidade/ONG esteve com a família do policial para ofertar apoio psicológico. O filho de 17 anos está a revolta em pessoa, nutre os mais perigosos sentimentos humanos; o filho de 13 anos apresenta alterações psicológicas preocupantes e chora continuamente, está sofrendo no ambiente escolar e teve suas relações sociais danificadas; a filha de 6 anos só reclama de o céu ser longe e o pai dela (que virou uma estrelinha, em suas palavras) está demorando para voltar e preparar seu leite...
Com isso não há preocupações, afinal de contas, para os DH essa família receberá uma boa pensão por algum tempo, além de já terem carro e casa própria (comprados com dinheiro de muito suor e honestidade), por conseguinte, não são "vítimas da sociedade" e não estão em vulnerabilidade.


Após tudo isso, eu chego a pensar (de novo): "nossa, se eu fosse aquele policial eu também estaria morto?". Para os DH, minha família estaria menos vulnerável ainda, pois sou recém-casado e tenho apenas 1 filho. Para o governo eu seria uma despesa efêmera (com a recente aprovação de um quociente reduzido para pagamento de pensão por morte ao cônjuge) e para a sociedade eu seria mais um na estatística de policiais mortos. Só mais um... nessa realidade onde o marginal atenta contra quem protege a sociedade e ainda assim cada ser energúmeno que a compõe não vê que esse é o mais alto grau de afronta contra sua integridade.

Sinceramente, até vir aqui escrever esse texto (que não dá a dimensão do evento) me faz sofrer.
Desculpem pela ausência no Blog, não é falta de assunto: é falta de ânimo para continuar remando contra a maré.

Descanse em paz amigo Helton.

PRFoxxx