sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Esse país tem jeito?

Não é tão simples responder a essa questão, aliás, é impossível fazê-lo.
Hoje vou tentar passar por 2 pontos críticos do trabalho policial vivenciados na última semana.

Crime ambiental

Já há algum tempo tenho notado uma certa "teoria da conspiração" que toma o estado do Mato Grosso em todos os aspectos de fiscalização. Aqui, com pouco tempo de vivência a gente nota que tudo funciona em razão de "forças ocultas" que, por mais que a gente procure entender, a única certeza é a de que nunca seremos capazes de lutar contra. Trazendo essa "filosofada" para a realidade, deixo claro que o ÚNICO órgão de fiscalização ambiental efetiva do MT é a PRF. É a "maquininha" que está ali trabalhando todos os dias, incessantemente, ininterruptamente pra fazer com que o buraco negro da Amazônia seja menos gravoso. Ah, vem o IBAMA, PF, FNS e fazem um circo como foi em 2010 na Operação Defesa da Vida. E foi bem ali que já deu para ver que o negócio ia desandar. Forças de segurança com agentes de outros estados que não conhecem a região caíram de paraquedas aqui no norte para fazer um "pente fino" que mais pareceu rastel em campo aberto. Não se pode negar que renderam algumas apreensões, mas se formos avaliar o montante de produtos florestais, maquinários e etc apreendidos perto do que foi gasto e alardeado, a operação foi pífia.
Incomodaram uns poucos madeireiros que tentavam a todo custo retirar suas máquinas das áreas de desmate, embargaram umas madeireiras que em pouco tempo já tornavam a funcionar, geraram discursos hipócritas de uns e outros como o Deputado Estadual Dilmar Dal Bosco (nada além do mais demagogo daquela casa, simplesmente um ridículo), mas no fim das contas, o Mato Grosso continuou a "Casa da Mãe Joana" (=baderna).
De lá pra cá a questão ambiental no estado tem regredido tanto, que recentemente veio o golpe de misericórdia, quando os "nobres" deputados estaduais, movidos por um clamor público (de meia dúzia de "trabalhadores do setor florestal", entenda-se como os maiores desmatadores da região norte) removeram a competência do INDEA/MT de fazer a classificação da madeira. Não vou entrar em detalhes, mas afirmo categoricamente que essa é a chave para o esgotamento de toda a madeira nobre (até mesmo as de 2ª linha) da maior floresta tropical do mundo.
Frustração: é essa a palavra que define o sentimento dos servidores aplicados na atividade fiscalizadora, dentre elas e preponderantemente ela, a PRF; formada por servidores interessados e acima de tudo qualificados para a atividade, alguns que até são monitores/instrutores de fiscalização ambiental; que realizam palestras e difundem conhecimento...
Não é fácil um policial estudar, estudar e estudar, depois vir para a pista ralar, escalar caminhão, comprar trena e lupa do próprio bolso para avaliar a carga; estudar (novamente) de forma minuciosa a legislação ambiental estadual e ver que isso tudo se esvai a partir do momento em que o próprio estado joga contra os interesses de um órgão fiscalizador que nele atua por ser FEDERAL. Sendo mais claro: os 2 estados que mais desmatam no Brasil, que são MT e PA, tem um sistema próprio para geração de Documentação de Origem Florestal. Ora, a quem interessa ser diferente de todo o Brasil, que usa a DOF como documento válido? Só aos madeireiros de MT e PA que usam a famigerada GF (Guia Florestal), cuja base de dados/sistema é alimentado pelo madeireiro. Porteira aberta para as fraudes!
Pausa para respirar, não quebrar a segurança orgânica e falar que a PRF, principalmente os agentes que fiscalizam madeira na Delegacia de Sorriso/MT, dominam todo o conhecimento acerca das fraudes documentais e acobertamento de créditos. Chega, se não vai parecer que estou fazendo auto propaganda (mas que a moçada é ninja, é!).

Narcotráfico

Discrepante do assunto anterior, mas na mesma ótica: até que ponto chegaremos em questão de criminalidade?
Mais recente ocorrência do plantão onde foram apreendidos 5Kg de Maconha com apreensão, por conseguinte, de 3 menores de idade e presa uma jovem de 20 anos, todos por associação para o tráfico e tráfico de entorpecentes (ainda não sabemos qual será o enquadramento dado por parte da autoridade policial). O que interessa é que foi feito um brilhante trabalho de policiais comprometidos com o serviço, que dão o sangue por ver o trabalho bem feito e não esmoreceram diante do alto grau de perigo e complexidade das ocorrências.
Ocorre que durante a condução dos detidos foi notado o descaso dos 3 menores de idade, enquanto a jovem de 20 anos sofria de "garganta seca" por saber que "a bronca ia cair no colo dela". Sim, as nossas leis favorecem a criação desses monstrinhos que com 15/16/17 anos já são chefes de quadrilha, como era um dos menores apreendidos ontem. Sabem, sem estudar o Direito, da inimputabilidade e de suas benesses. Quanto à maior de idade, ah, "dane-se, perder, perdeu, senhor", é assim que a gente ouve; isso sem contar a cara porca que uma das "santas" fazia, inclusive quando da apresentação à autoridade policial.
Acontece que o sujeito em questão já é reincidente no crime de tráfico de entorpecentes, tendo "passagem" ainda por porte ilegal de armas em ocorrência diversa. Já dizia minha mãe: "cobrinha criada!"
É esse o tipo de gente inescrupulosa que o país dos "direitos" dos bandidos está forjando, com um arcabouço jurídico penal que só foi feito para "compensar" erros históricos, mas que hoje em dia é uma mina inesgotável de injustiças e degradação social.

A grande questão

Quem desses sujeitos é o bandido mais perigoso da história, o sulista (predominantemente) que colonizou a região há 30 anos, esgotou os recursos naturais (que são pertencentes à coletividade) para ostentar hoje suas caminhonetes de centenas de milhares de Reais e "compram" o Mato Grosso, ou aquele jovenzinho neoescravizado pelos sulistas que julgam inferiores os migrantes nordestinos (predominantemente maranhenses, como era o caso de 3 dos 4 presos de ontem)?
O que mata mais, a Maconha que traz todos os crimes conexos (roubo, furto, sequestro, etc) ou os desmandos dos condutores das poderosas Hilux (dos madeireiros/agricultores Highlanders com sua blindagem mecânica e social) que voam baixo nas rodovias com o mesmo egoísmo e prepotência com que lidam com os que dividem suas vidas com eles, nessas pujantes cidades criadas com dinheiro sujo da madeira e da agricultura extensiva?
Não consigo responder, mas como bom ambientalista que sou e nunca abrirei mão da causa, já devem imaginar o quanto me afetam os crimes contra a coletividade, como os crimes ambientais.
Sou apenas um dos poucos e últimos que tentam com a ínfima oportunidade de 24horas a cada 72 de tentar fazer algo diferente, mas sinto as forças minarem; sinto às vezes vergonha um dia de já ter acreditado que o MT tem conserto e que eu podia fazer a diferença.
Sou novo ainda e quem sabe um dia, longe daqui, eu consiga ver que algo mudou para melhor, pois de momento só consigo acreditar que o PA e o MT são o estigma do Brasil que vende para o mundo a ideia de que aqui há preservação da Amazônia. Na verdade esses 2 estados deveriam se fundir e se apartar do Brasil.

Em relação aos projetinhos de narcotraficantes, continuaremos a fazer nosso trabalho incessante, enquanto houver crença de que podemos mudar algo nesse sentido. Infelizmente ainda nos depararemos com algumas pessoas como a da foto a seguir (menor de 16 anos apreendida ontem) que creem que a ilegalidade é aceitável, que há espaço para viver em paralelo ao regramento jurídico desse país, que por ser tão desigual, abre erroneamente espaço para esse tipo de "vida loka".

A toalha já foi jogada, resta agora cair no chão!







Para ver a matéria completa da apreensão de entorpecentes clique aqui.

PRFoxxx

4 comentários:

  1. É amigo... a rapadura é doce, mas não é mole não. Essa é a realidade de nosso país. Pro lado de cá(Nordeste) não é muito diferente. Talvez a mazela seja outra, mas o sofrimento é o mesmo.

    Graças a Deus que ainda temos pessoas dispostas a lutar contra isso tudo. Ainda que seja uma quase que microscópica contribuição(diante desse mundo de atrocidades).

    Abraço,

    @SagaFederal

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  2. Enquanto isso, no Congresso Nacional...

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  3. Prezado policial,

    Ótima postagem. Realmente são muitas questões a serem resolvidas.
    No que se refere ao tema da maconha, diante de muitas reflexões, creio que cheguei à conclusão que o país ganharia bem mais com a legalização e taxação do que com a proibição. Primeiramente, como droga potencial, a maconha não causa efeitos como o alcool e a cocaína, pois, a pessoa que fez uso não perde a noção de certo e errado, mas, como vem sendo avaliado em algumas pesquisas relacionadas ao uso medicinal, a erva atua como analgésico e também no alívio ao stress.

    Outro ponto interessante é que pela maconha não é possível gerar derivados tóxicos, como acontece com a folha de coca.

    Enfim, tornando a maconha um produto comercializável, arrecadaríamos impostos que poderiam ser aplicados em saúde e educação , reduziriamos o lucro dos traficantes e ainda geraria empregos.

    Claro que o intuito aqui não seria estimular o uso mas, afastar a maconha da criminalidade e enfraquecer o tráfico, este mercado paralelo que existe e causa imensas tragédias em nosso país. No final das contas, quem mais perde com esta política é a própria sociedade, além dos policiais, que acabam por receber a responsabilidade de resolver todo o problema de forma bruta, enquanto que a estratégia legislativa permanece inerte.

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