Triste história de rodovia
Estava aqui essa madrugada olhando algumas fotos de acidentes e fazendo algumas observações/ponderações ao mesmo tempo que lia uma infinidade de notícias de acidentes de trânsito envolvendo jovens com menos de 25 anos; uma coisa me chamou a atenção: as pessoas de hoje não tem o senso de como a vida é efêmera, de como somos frágeis e impotentes no trânsito.
O que quero dizer com isso: que a vida hoje é tão "cheia" de preocupações, tão corrida, tão intensa, que muitas das obrigações inerentes ao ser humano (quando se entende por gente, ou seja, na juventude) estão colocadas como últimas prioridades, mas pior do que isso: estão sendo negligenciadas. Exemplo disso é quando um jovem, afoito por novos desafios, assume a direção de veículo sem ter capacitação mínima para tal feito, ou seja, sem ser habilitado. É fato que ter uma PPD (Permissão Para Dirigir) ou CNH (Carteira Nacional de Habilitação) não é sinônimo de saber conduzir com plenitude um veículo (coisa que poucos conseguem ao longo da vida, a maioria não), quem dirá não ter tais documentos.
A partir do momento em que uma pessoa não habilitada toma posse de um veículo e passa a conduzí-lo, todo um universo de fatores deve ser observado, mas isso não acontece na prática. AINDA QUE essa pessoa em questão tenha breves noções de dirigibilidade e sinalização de trânsito, não o terá de forma ampla, já que não passou por um curso preparatório com teoria e prática, que são essenciais para a consolidação da postura/conduta responsáveis de trânsito.
É exatamente aí que mora o perigo, já que as lições de Direção Defensiva, mecânica, física e atendimento de primeiros socorros, dentre outras matérias, não foram assimiladas por esse "aspirante a condutor". Começa então um efeito dominó, onde geralmente uma sequência de erros/infrações podem culminar em acidentes, como o caso que descrevo a seguir.
Colisão Transversal com vítima fatal
Uma jovem de 18 anos recém completados adquire uma motoneta para facilitar a locomoção entre sua casa e sua faculdade, em cujo vestibular fôra recém aprovada, motivo por si só de comemoração. Num desses trajetos ela opta por cruzar uma rodovia federal numa travessia urbana mal iluminada, mesmo tendo disponível um viaduto a 50 metros, onde a passagem seria livre, sem ter que cruzar a via de maior fluxo, onde geralmente os veículos transitam em velocidades superiores. Acontece que ao se aproximar da travessia, aproveitando o "embalo" da motoneta cruza a rodovia e é atingida transversalmente por um automóvel, que seguia fluxo em sua mão de direção. De imediato cai, é arrastada por alguns metros até que seu corpo ainda com vida seja projetado para a lateral do veículo, que em sua inércia vem a sair de pista, atravessar um canteiro (que separa a via marginal), atinge obstáculos e só para totalmente após travamento de rodas, já na via marginal.
Observações a serem feitas e comentários pertinentes:
- Condutora SEM CNH (o primeiro de uma série de erros cruciais para o resultado morte)
- Opção por travessia em nível da rodovia havendo alternativa mais segura (viaduto a apenas 50 metros iluminado)
- Desrespeito à sinalização de regulamentação [placa R1 - Pare] (Consequência de não ter CNH, o que a daria a possibilidade de saber que sinalização de regulamentação tem cumprimento obrigatório, independente de condicionantes)
- Motoneta de baixa cilindrada e torque (caso tivesse noções básicas de mecânica, saberia sobre "retomada" em aceleração e velocidade suficiente a ser desenvolvida num evento como exemplificado)
- Utilização de Capacete de Segurança em desacordo com o normatizado (cinta jugular desapresilhada, fazendo com que o dispositivo fosse projetado durante a colisão, causando trauma crânio-encefálico imediatamente à queda, subsidiário ao resultado morte posterior. Outro erro em decorrência de não ter CNH)
- Condutor do automóvel em velocidade incompatível com o local (impossibilidade de reação, frenagem e parada em tempo hábil quando do surgimento de obstáculo/outro veículo)
- Automóvel atingiu obstáculo físico (construção de alvenaria na faixa de domínio, que deve estar livre de quaisquer anteparos), causando danos mais gravosos e implicando diretamente no desfecho do acidente.
Ocorrência de grande impacto em função de ser uma jovem relativamente conhecida no município, tendo repercussão na imprensa local (composta por aventureiros que levantaram falso sob a conduta do motorista do automóvel, chegando a supor que estivesse embriagado, o que foi negado pela realização do teste de etilômetro), que preferiu "procurar" culpa no condutor do automóvel a admitir que a irreponsabilidade da condutora da motoneta causou o acidente depois de ter cometido várias infrações simultaneamente.
Voltando ao mote da publicação, acho que é possível observar como a inversão de valores e distorção de prioridades impacta diretamente na juventude. Vidas são perdidas, fica a saudade para a família, um nome e um futuro pela frente agora são sinônimos de estatística para a sociedade, que perde mais do que potencial força produtiva para o país, perde junto todo um plantel de seres humanos que fariam a diferença daqui para frente.
Até quando aceitaremos futuros interrompidos? Até quando o trânsito será tratado como 2º plano numa sociedade que tem mais mortos nas vias urbanas e rurais do que se em uma guerra civil estivesse?
Pais que não ensinam valores sociais dignos aos filhos, ou quando o fazem, é de forma distorcida. Um ato reprovável nas esferas penal e administrativa são tratados com eufemismo, mais tarde se convertem em crimes e todos acham isso normal/aceitável.
Não pode e não vai ser assim! Se a estrutura familiar degradada historicamente não funciona para educar, existe o Estado para fiscalizar e punir, por mais que o remédio seja amargo.
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Automóvel envolvido no acidente, danificado após colidir com motoneta e obstáculos na faixa de domínio. |
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