terça-feira, 16 de abril de 2013

Trabalhar é (mesmo) preciso (?)

Estava aqui a ler o Blog Dentro da Viatura, mais precisamente uma publicação de título "Trabalhar é Preciso" (26/03/2013), e mais uma vez resolvi fazer ilações comigo mesmo: será que aquele título tem fundamento?

Para um sonhador bobo que acordava cedo nas manhãs de 07 de Setembro religiosamente todos os anos com um único propósito, que era ver na TV o desfile cívico com o antigo CMC/PRF - Corpo de Motociclistas Central da Polícia Rodoviária Federal, a título da publicação faz muito sentido¹.

Como assim? Explico.

A partir do momento em que qualquer vivente "se entende por gente", ele forma convicção de que se realizar na vida é fazer o que gosta e ganhar bem para isso. Esmiuçando: de sonhador na frente da TV quando criança, hoje sou um PRF; ganho razoavelmente bem (poderia ser melhor dado o risco e responsabilidade do serviço) para viver com o mínimo necessário à realização dos meus anseios como ser humano.

Presumindo-se que quem trabalha fazendo o que gosta (no meu caso: eu amo) tem melhor rendimento/aproveitamento, acaba-se chegando à lógica de que "trabalhar é preciso", não só por uma exigência legal (não prevaricar), mas acima de qualquer coisa, uma satisfação pessoal. Nem vou considerar aqui que sou um Workaholic, pois isso distorceria o raciocínio do leitor achando que é comum ser "tarado" pelo serviço da pista (rodovia); eu sei que estou fora da média no sentido de "empolgação" com o trabalho. Pudera eu contagiar todos os colegas com esse ânimo de fiscalizar, prender, apreender, autuar, atender acidente (infelizmente), auxiliar os usuários da via e cumprir todas as competências que a legislação prevê para o cargo, mas como eu já disse antes, há forças ocultas no serviço público que dificultam e até mesmo impedem que seus servidores trabalhem de forma otimizada (o que deixa inclusive perdurar o ranço histórico de que servidor público não trabalha).

Ainda nessa linha de raciocínio, parte-se para a negativa da resposta do primeiro parágrafo: não faz sentido². A partir do momento em que os recursos (humanos e materiais) são escassos, a legislação pende sempre para a punição do agente da lei como forma de mitigar erros históricos e a imprensa tem isso como um "prato cheio" para manipular a opinião pública, colocando toda a sociedade contra a polícia, não haverá uma viv'alma sequer que se disponha a trabalhar dando o máximo sabendo que está no fio da navalha. O policial quando acerta: "não fez mais que sua obrigação"; quando erra é crucificado; independente de ter acertado toda uma vida, esse erro, por mínimo que seja, pesará para sua condenação sumária e irrevogável.

Saindo da filosofia e voltando aqui para a realidade, não há palavras para descrever a insatisfação que é chegar para assumir o serviço/plantão e perceber que está sozinho. Sim, não estou falando de exceção, mas da realidade de muitas unidades operacionais Brasil afora em que o número de policiais para cumprir plantão é insuficiente.

Ignoremos agora a escassez e a má gestão dos demais recursos e falemos somente da parte de pessoal. É inadmissível ter 1 ou 2 PRFs para operar 24 horas em uma Unidade Operacional/Posto, independente de onde ele seja ou quão pequeno o fluxo esteja. Não há a mínima possibilidade de fiscalizar, atender acidente, investir em ocorrências de criminalidade ou prestar auxílio a contento para os usuários da via estando com equipe reduzida.

Partindo para o lado financeiro da coisa, que é nesse ponto em que se atinge as instâncias gerenciais do governo, não é preciso apresentar uma conta complexa para ver que um PRF é rentável aos cofres públicos. Cada acidente evitado ou cada auto de infração gerado... Cada arma apreendida ou quantidade de droga que deixa de chegar no seu destino... Esses fatores não podem e não devem ser negligenciados para chegarmos a uma conclusão de que o gasto com um plantão bem sucedido (sem acidentes ou com ocorrências resolvidas) não é custo, é investimento!

Por que então o governo não provê o órgão de servidores e permite que esses servidores trabalhem com o mínimo razoável de recursos? Essa pergunta precisa ser respondida pelas instâncias gerenciais, pois estão fora da nossa alçada.

Ainda em relação à resposta do primeiro parágrafo, que para mim era "faz muito sentido¹", noutra ótica percebe-se que para o governo não faz sentido². Às vezes podemos chegar à conclusão de que não é interessante no Brasil termos órgãos que funcionem, como a PRF. Apesar dos pesares, fazemos muito com o pouco que temos, imagina se fôssemos maiores?! Se pelo menos o efetivo fosse próximo ao mínimo plausível?! É, ia ser um estrago! Íamos "incomodar" muita gente... Mas enquanto quem tá se incomodando são só os carregadores de piano da pista, "tá tudo bem".

Hora que o calo aperta e os relatórios que chegam na mesa do Sr. Ministro da Justiça não apresentam números a contento, é hora de fazer uma reuniãozinha para apertar o efetivo cobrando mais "aplicação", mais "afinco", mas "motivação". Tá, e isso vai vir de onde, do "além"?

Contrapartida! Se já não temos o devido reconhecimento da sociedade (que acredita que somos o Batalhão Rodoviário da Polícia Federal), que pelo menos nos dêem como esmola recursos humanos e materiais. Acho que não é pedir demais... Se no fim das contas nem isso nos restar, façam concursos de remoção interna justos e deixem que fiquemos perto de nossas famílias, pelo menos assim teremos ombro amigo para desabafar as frustrações.

E se ainda tem alguém aí se perguntando: "se está tão ruim assim, por que não pede para sair?". A resposta é: a frase do Capitão Nascimento é na ficção. Aqui onde o sonho virou realidade, isso não se aplica. Não foi fácil para entrar, mas não se pede para sair de um sonho que ainda não acabou (e só ocorrerá com a aposentadoria compulsória, se Deus quiser).
Ser PRF não é para quem pode nem para quem ($ó) quer, é para quem tem no sangue a vontade de mudar a sociedade para melhor. Estamos aqui para fazer a diferença e faremos!


PRFoxxx

5 comentários:

  1. Logo chegarão mais 1.500 Foxx!Vamos torcer para que pelo menos a metade chegue motivada a mudar esse realidade.


    Espera que eu to chegando =DDD

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    1. Na verdade 100% dos "novinhos" chegam "tinindo", motivados ao extremo logo depois do CFP. Aí as forças ocultas vão fazendo minar essa empolgação; para uns isso ocorre rapidamente, mas para outros mais persistentes (ou ingênuos) como eu, demora!
      Estamos esperando ansiosamente por todos vocês para que, quem sabe, possamos mudar mais do que a sociedade, mas também a mentalidade e postura de alguns "gênios" da Adm. Pública brasileira.

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  2. Ler esse seu texto só torna mais fácil ainda minha escolha. SER UM PRF POR OPÇÃO!

    Fica tranquilo aí que o reforço tá chegando.

    Abraço e vamos sustentar o fogo que a vitória é certa.

    At,

    @SagaFederal

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  3. Fala futuro parceiro....

    Mais uma vez leio um tópico dentre outros que li e vejo que realmente é o que quero pra mim. Pois quem sabe do meu sonho e me conhece,sabe muito bem que não ($)$ão os motivos óbvios que todos veem, que quero a PRF,e sim porque sinto a vontade de ajudar e melhorar o convívio das pessoas na sociedade e na equipe,mesmo sabendo das dificuldades que encontrarei...
    Obrigado por mais um tópico e até breve...
    Abraço!!

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  4. Excelente sua postagem inspetor! Tenho irmão PRF, ele me conta que é exatamente assim que ocorre. Como a maioria, tenho fé na melhora dessa realidade e espero estar dentro para ajudar nessa mudança! Um grande abraço e que Deus te abençoe!

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