segunda-feira, 22 de abril de 2013

Continência

Estava eu num belo dia de sol a fiscalizar o trânsito num trecho qualquer de uma rodovia federal qualquer num estado desse país fictício que faz fronteira com o Brasil e com o Pará, quando ao passar por mim um motociclista ergue seu braço direito (absurdamente soltando a direção de sua motocicleta) e toca o capacete com a ponta dos dedos num sinal de continência.
Não raro é o gesto, que pouco tempo depois, de dentro da cabine de seu caminhão, um senhorzinho ergue seu braço, agora o esquerdo, e toca a fronte com a ponta dos dedos, ocasião em que esboça um sorriso.

Entre uma continência e outra, vários veículos passam sem que ninguém acene; uns outros poucos levantam sutilmente a mão cumprimentando, mas o que chama a atenção mesmo é a supracitada saudação militar, empregada até então por civis comuns, que entendo não terem obrigação alguma de saber que ela é empregada somente no meio militar e, por eliminação, não à PRF pelo simples fato de sermos uma polícia de caráter civil (ainda que alguns queiram militarizá-la).

Há de se compreender que esse produto da ignorânica (ignore o sentido pejorativo) das pessoas tem somente conotação positiva, que é cumprimentar aquele "guarda" que está ali cuidando do trânsito (somente autuando, como muitos preferem pensar), como uma questão de respeito, mas acaba sendo engraçado quando estamos do lado de cá e seguimos pela linha de raciocínio de que grande parte da sociedade imagina que "polícia é tudo igual"; não sabem discernir as diferentes forças de segurança pública no seguinte arranjo:

- Forças de Segurança Pública Federais: Polícia Rodoviária Federal (Executivo) e Polícia Federal (Judiciária)
- Forças de Segurança Pública Estaduaus: Polícia Militar (Executivo) e Polícia Civil (Judiciária), analogamente.

Observação aqui referente à Força Nacional de Segurança, que é um grupo paralelo composto preponderantemente por Policiais e Bombeiros Militares destacados de todo o Brasil. Não existe como força de segurança pública na Constituição Federal nem tem delineadas suas atribuições e competências, apesar de muitos discordarem.

Voltando ao que é sério e com seriedade deve ser tratado, veio à cabeça um questionamento: há uma deficiência de identidade da Polícia Rodoviária Federal?
Uma polícia que usa farda, e nisso se aproxima da ideia militar, mas que ao mesmo tempo carrega um nome de Polícia Rodoviária Federal, entendida por grande parte da massa leiga como se um "batalhão" rodoviário da PF fosse, tende a causar uma confusão conceitual que prejudica e muito a consolidação da imagem dessa importante força de segurança.

Para ser mais claro, a legislação delineadora das atribuições/competências (leia mais) prevê espectro muito mais amplo do que o simples "patrulhamento" de trânsito, o que implicou ainda na mudança da designação de seus servidores de patrulheiros para policiais há vários anos (Leia mais: Dec. 1655/95), mas ainda assim ouvimos todos os dias o enunciado "sr patrulheiro".

A passos curtos e lentos caminhamos para a fixação do binômio PRF - 191, estabelecendo para com a sociedade ainda a concepção de "polícia cidadã", prestando serviço com eficiência e profissionalismo.

Continência para quem merece, pois é assim que tem que ser, que o diga o garotinho abaixo. Não deixe de assistir; não tem como não se emocionar. Lembrou meus tempos de criança, quando ao ouvir o ruído ao longe, corria para a janela para ver a tropa do Tiro de Guerra municipal passar na tradicional "corridinha mixuruca" matinal.



Leia mais sobre a continência em Wikipédia e Brasil Escola

PRFoxxx

Um comentário:

  1. Fantastica percepção!
    Triste ver que muitas pessoas ainda nao saibam diferenciar as Policias de nosso país. Mas feliz, em pelo menos, do jeito delas, elas tentam mostrar algum respeito.
    Otima postagem como sempre.
    A respeito do video, realmente emocionante ver o menininho batendo continencia aos militares, e o "comandante" do grupo, dar a ordem para todos olharem para a direita e ve-lo!
    Incrivel!

    Mais uma vez, parabéns!

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