terça-feira, 14 de maio de 2013

Pode isso, Arnaldo?

Transitando por uma avenida principal de uma cidade qualquer no norte de um país vizinho ao Brasil e ao Pará, observo esse siri, digo, caminhão que era tripulado por 5 pessoas (incluindo o mautorista, digo, condutor), e resolvo pegar minha câmera tática para fazer um flagrante de infrações de trânsito no modo "Combo Hard Ultra Awesome".

1- Lotação excedente (veículo comporta somente 3 ocupantes na cabine)
2- Falta de uso de cinto de segurança
3- Equipamento obrigatório em desacordo (faixas refletivas)
4- Mau estado de conservação (pneus carecas, chassi desalinhado)
5- Defeito no sistema de iluminação
6- Transportar criança sem observar as normas de segurança (criança com idade entre 3 e 5 anos viajava no colo)

Essas são só algumas das infrações de trânsito avaliadas superficialmente enquanto eu seguia atrás dessa nave espacial.
Veículo transitava dentro da cidade, cuja competência para fiscalização é da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal. Onde elas estavam que não fizeram a abordagem desse veículo sortido de infrações, algumas delas gravíssimas e que implicam diretamente na segurança dos ocupantes e com risco à vida? [Desconsidere-se o fato de que a fiscalização não é onipresente.]
Essa pergunta só poderá ser respondida pelos políticos desse país à parte, pois aqui impera o voto de cabresto; as instituições de fiscalização estaduais e municipais são amordaçadas; são impedidas de exercer sua atividade-fim, caso contrário receberão o rótulo de causadoras do mal, dificultadoras da sociedade e por aí vai...
É mais fácil um administrador público ser omisso e permitir que o trânsito seja caótico, gerando inclusive prejuízos sociais incalculáveis (em função de acidentes/mortes/criminalidade) do que ele ter pulso firme e ir contra essa "cultura" distorcida de trânsito desregrado, composto por pessoas de mentalidade retrógrada.
É uma tamanha inversão de lógica, que se houvesse investimento na educação e na fiscalização de trânsito, o custo astronômico com acidentes de trânsito seria reduzido a níveis ínfimos perto do que é hoje.
Ainda há uma outra lógica, que nem de perto passa pela Teoria da Conspiração, mas tem sido observada pelos mais céticos, que é no sentido de que quanto menos acidentes de trânsito houver, menos notícias os jornais terão! Parece brincadeira, mas é assim que funciona aqui. Os noticiários televisivos de 3 das 4 emissoras da cidade (SBT/Record/Band) tem como 80% da pauta as reportagens sobre acidentes de trânsito. Chega ao ponto de o apresentador (Cara de Trakinas) em vez de chamar "a próxima matéria", solicita à edição: "o próximo acidente de hoje, por favor", como aconteceu ontem. Seria cômico se não fosse trágico!

Esse mundo paralelo deixa perplexo qualquer vivente pensante. A banalização dos acidentes tem causado prejuízos catastróficos para a população economicamente ativa, pois atinge sobremaneira a juventude. Aquela juventude corajosa, que herdou da geração dos seus pais os vícios insanáveis como dirigir alcoolizado, deixar de usar cinto de segurança e o maior deles: conduzir veículo sem CNH. É inadmissível que com o número crescente de veículos em circulação alguém pense que há espaço para um condutor não habilitado. Se antigamente, quando o fluxo era mais "pulverizado", já se corria um risco imenso de haver qualquer incidente, quem dirá hoje com o inchaço das ruas e rodovias. Preocupante é ainda o fato de que a fiscalização não acompanha o crescimento da demanda. Mais veículos (mais potentes, inclusive); mais vias (novas cidades e as antigas crescendo); menos fiscalização (reduz-se o número de agentes por veículo); mais advogados de porta de cadeia para livrar os criminosos de trânsito; leis que não acompanham a evolução social e a dinâmica do trânsito (CTB está ultrapassado em vários pontos e os "remendos" são ineficientes); tudo isso tem provocado o caos.
Como mudar? Diversas são as formas, mas basicamente cabe ao cidadão exercer cidadania (pode parecer redundância, mas não é!), seja na hora que vai votar, quando deverá escolher legisladores comprometidos com mudanças sociais ao legislar com seriedade, seja ao cobrar do poder público o investimento em educação e fiscalização de trânsito.

Não é uma tarefa simples, mas não se fala em mudança social do dia para a noite, nem tampouco estamos aqui criando uma receita para resolver o problema.


PRFoxxx

Um comentário:

  1. No Brasil precisa de lei para colocar ABS e air bag em um carro. Imagina o que precisa ser feito para tirar essa lata velha das ruas...

    ResponderExcluir