sábado, 30 de março de 2013

Sexta-feira nada Santa

Era para ser "só mais um plantão", mas como não existe isso na PRF, lá vamos nós para mais uma publicação de Histórias de Rodovia.

Fazendo parte dos serviços previstos na Operação Semana Santa, realizamos fiscalização de trânsito com objetivo de coibir infrações e prevenir acidentes, por conseguinte; sem negligenciar o combate à criminalidade, uma vez que uma fiscalização não se segrega da outra.

Logo no início do serviço nos deparamos com uma equipe PRF realizando um atendimento de acidente envolvendo uma viatura da PMMT, que realizava um acompanhamento tático a um Ford/Ecosport conduzido por um Advogado que dirigia embriagado gerando perigo de dano após ter saído de uma situação de "desinteligência familiar". Lá pensamos nós: "o dia vai ser daqueles". A "sexta-feira santa" acaba sendo a dos "santos" de todo gênero (ironia). Sabíamos que, apesar do fluxo reduzido, o serviço tenderia a apresentar as mais diversas situações, desde a mais simples e corriqueira infração de trânsito na região, que é a falta de uso do cinto de segurança, até a mais complexa abordagem/fiscalização, que pode passar de uma simples infração de trânsito a um crime como desacato/desobediência ou coisas ainda mais graves. Por essas e outras é que saímos sempre preparados física e mentalmente para "encarar" o pior.

AS INFRAÇÕES constatadas foram "sortidas", em algumas abordagens/fiscalizações, ocorreu o que eu chamo de "Combo Hard", pois o infrator muitas vezes não se contenta em cometer um pequeno deslize do CTB (Código de Trânsito Brasileiro - Lei 9503/97), ele quer logo é sair com a mão cheia de documentos (Autos de infração, recolhimento de documentos, etc).
Uma dessas situações aconteceu quando em deslocamento ainda no perímetro urbano seguiam a nossa frente 2 motocicletas que resolveram realizar ultrapassagem em local com sinalização nítida (faixa dupla contínua amarela); mesmo estando à frente da viatura, que seguia com giroflex ligado e ainda terem recebido alerta sonoro quando esboçaram início de manobra, insistiram no cometimento da infração, que é gravíssima em ambos os sentidos. Devidamente autuados e liberados.
Nesse ínterim visualizamos uma picape realizar um retorno para evadir-se da fiscalização. Realizado o acompanhamento e constatado que condutor não habilitado transitava com passageiros em compartimento de carga, além de não utilizar cinto de segurança e estar com licenciamento vencido. É a situação que numa tacada só o incauto comete várias irregularidades extremamente impactantes e que atentam contra a vida: Combo Hard! Autuado e liberado após regularização.
Seguindo a fiscalização foram flagradas diversas infrações pela falta do uso do cinto de segurança, veículo sem a placa dianteira (para dar o drible no radar fixo) até que visualizamos um veículo ocupado por 3 homens, digo, 2 e meio, pois quem conduzia o veículo era o "meio homem", pois nem a maioridade tinha atingido. Condutor de apenas 15 anos de idade tinha a anuência do proprietário do veículo, que seguia como seu passageiro. Somou-se o fato de estar com licenciamento vencido e falta de cinto de segurança, gerou um Combo Awesome!
Continuidade da fiscalização flagramos veículo com capacidade 2P (que a gente chama de 2 "pessoas" e não 2 "passageiros" como tem sido interpretado por aí) transitando com lotação excedente (6 ocupantes incluído o motorista). Uma família que "ia só ali" (como se isso fosse justificativa para cometimento de infração), sendo o condutor autuado e providenciada a regularização, além de ter sido alertado sobre a gravidade da conduta e que grande parte dos acidentes acontecem com quem "ia só ali" .
Adiante uma família que viajava entre municípios, porém os passageiros do banco traseiro não utilizavam o cinto de segurança. A observação nesse sentido é que está apontado por estatísticas oficiais que mais de 85% dos passageiros que viajam no banco traseiro NÃO UTILIZAM O CINTO DE SEGURANÇA frequentemente. Cabe ressaltar que em caso de acidente, dependendo da velocidade, um corpo em inércia numa colisão frontal/traseira tende a adquirir 20 vezes seu peso próprio, que será obviamente projetado sobre os bancos/passageiros que estão nos bancos dianteiros. Pode haver o seu esmagamento e morte, ou seja, ainda que quem esteja na frente use o cinto de segurança, poderá vir a ter danos graves ou mesmo ser morto em função de um passageiro do banco traseiro que não utiliza o dispositivo (Exemplo vide acidente com Miss Brasil 2010).
Flagrada a seguir mais uma infração do tipo "sanduíche de criança", onde seguiam o pai, a filha mais velha e um garotinho de apenas 6 anos; além de estarem com lotação excedente, uma vez que motocicleta só comporta 2 ocupantes de forma geral, seguia ainda uma criança com idade inferior à permitida pelo CTB. Autuado e regularizado, além de orientado acerca da gravidade da conduta e dos riscos de tal ato para a segurança direta daquela criança, num eventual acidente, ainda que uma "simples" queda, quem dirá uma colisão. Acho dispensável explanar mais sobre o tema, pois quem tem filho e o ama não deve/necessita o expor ao risco.

O CRIME surgiu de uma abordagem que inicialmente seria somente para autuação de trânsito, mas que, como antecipado na publicação, evoluiu para situação mais gravosa. Veículo Ford/Courier (capacidade 2P) transitava com lotação excedente (3 ocupantes), motivo por si só válido para que fosse realizada a intervenção, mas que somava-se ao fato de não utilizarem cinto de segurança e ainda haver o condutor apresentado notórios sinais de embriaguez, com capacidades psicomotoras alteradas, limitantes para a condução de veículo com segurança; quando em conversa com os agentes envolvidos confirmou ter feito ingestão de bebida alcoólica (aproximadamente 15 latinhas), configurado crime de trânsito conforme norma vigente, condutor encaminhado à Delegacia de Polícia Judiciária Civil para apresentação à autoridade policial para providências cabíveis. Nesse ínterim vem as situações acessórias, quais sejam: condutor ironizando a fiscalização, dizendo não acreditar que estava sendo preso só por ter bebido e dirigido, que havia há pouco ido até um posto de combustíveis e que lá havia presenciado um condutor mais embriagado que ele e que nem por isso havia sido preso (avisado então que a polícia não é onipresente); condutor justificando para a filha (que estava chorando ao ver que o pai estava sendo enquadrado em CRIME) que só ia "detido" à delegacia e que não era bandido. Devidamente esclarecido que o fato era tipificado como crime e como criminoso de trânsito seria apresentado à autoridade policial, sem mais delongas. Condutor causando situação vexatória quando ordenou à sua esposa que retirasse sua camisa para que ele vestisse e não se apresentasse sem camisa na Depol municipal, com intervenção imediata dos agentes envolvidos com o desiderato de não permitir que aquela inocente senhora se apresentasse somente com roupas de baixo na rodovia. Quando apresentado à autoridade policial e conduzido ao setor de custódia, proferia palavras de desaprovação àquele ato, como se descrente fosse da existência de leis que regem o funcionamento harmônico da sociedade, demonstrando um consciente coletivo que já constatamos nesse curto tempo de serviço na pista. É só um reflexo da distorcida educação de trânsito somado à cultura de "minimização" da gravidade dos crimes como forma de esquivar-se da responsabilidade de cidadão, que é resultado das deformidades do ordenamento jurídico (principalmente no sentido de punibilidade) no sentido de criar-se um Estado de Direito em que o cidadão só reclama DIREITOS, mas que esquece que tem DEVERES.

Plantão concluído com êxito: dezenas de autuações, crimes combatidos, prevenção no seu mais alto grau de eficiência refletido em ausência de acidentes ou demais ocorrências policiais. É isso aí, PRF na pista é sinônimo de bom trabalho em função da sociedade, ainda que parte da sociedade não reconheça/aceite (isso só se aplica a quem anda fora da linha), bem como a mais alta instância administrativa/política, que permite que algumas Unidades Operacionais se desintegrem por falta de efetivo, outras sucumbam por falta de demais recursos. O dia que tivermos Isonomia dentro da mesma polícia Brasil afora, talvez tenhamos policiais mais motivados, diferentemente do que a atual gestão tem provocado.

Veículo retido com condutor embriagado






PRFoxxx

segunda-feira, 25 de março de 2013

Placas Curiosas #2

Essa "pérola" vem do meu tão estimado estado de Goiás, se não me engano, do município de Vianópolis, onde eu sempre passava quando ia a Caldas Novas ter excelentes momentos de lazer (recomendo a quem não conhece, é demais).
Registre-se que sua configuração é de sinalização de Regulamentação, ou seja, obriga o administrado (qualquer cidadão) a seguir sua determinação com pena de autuação no caso do descumprimento.
"Ops, mas essa placa não é oficial, seu guarda!"
Exatamente, o cidadão que a desenvolveu o fez com a melhor das intenções do mundo, tentou inclusive dar uma "cara" séria para a placa, que indica uma lombada, que sabe Deus se foi feita de acordo com o normatizado (presumo que não). No fim das contas, serve para evitar que muitos incautos que por ali passam se acidentem ao passar em velocidade demasiada pelo "quebra-molas" e causar até um mal maior àqueles pedestres que por ali transitam.
Fica o registro dessa placa "curiosa" para apreciação e comentários.

Quebra-molas obrigatório - GO

PRFoxxx

Apenas uma viatura #PRF

Dentro da viatura vejo uma viatura da PRF...

(...) mas um dia já a vi de fora, quando estava parado em frente a um conhecido "cursinho" numa cidade satélite de Brasília/DF, enquanto eu era apenas um concurseiro. Não era o meu cursinho, era o da minha namorada na época, que foi quem me ouviu dizer: "um dia ainda estarei numa dessas, eu vejo isso acontecer na minha vida". Essa frase surgiu bem na ocasião em que uma viatura GM/Blazer caracterizada da PRF se aproximava com 2 policiais a procura de um lugar para lanchar no meio da noite.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, policiais também sentem fome, tem necessidades fisiológicas; e para isso eles precisam recorrer aos meios e locais disponíveis para tal, podendo e devendo inclusive adentrar às cidades para fazê-lo, já que nos longos trechos de rodovia nem sempre encontram-se disponíveis esses recursos, principalmente em locais mais remotos Brasil afora.
Mas voltando ao assunto, quando vi aquela Blazer com os adesivos da PRF, linda por sinal (e só, pois hoje sei que ela não presta para o serviço policial), meus olhos chegaram a brilhar e só quem já sonhou um dia em ser da gloriosa saberá o que estou falando. A frase destacada acima só foi um extravasamento daquela ânsia contida dentro do peito de um sonhador.
Dando um pulinho no tempo e indo para o estado do Paraná, onde participei de uma operação durante 4 meses, lembro-me de um fato curioso que vivenciei no 1º mês, quando trabalhei na Unidade Operacional de Cascavel, diga-se de passagem, uma preciosa e inesquecível experiência, tanto pelas ocorrências, quanto pelo aprendizado com os ótimos colegas de plantões intermináveis, seja atendendo inúmeros acidentes, seja combatendo em ocorrências policiais diversas. Sim, mas indo direto ao ponto, a história começou quando 2 dos colegas do plantão precisaram ir até o centro da cidade buscar 2 motocicletas (Harley Davidson 1600cc e Kawasaki 1000cc - absurdamente fantásticas) que estavam na manutenção. Como estávamos com a Blazer, obviamente alguém ia ter que voltar dirigindo, enquanto eles conduziam as motocicletas e o "felizardo" seria eu. Não que fosse novidade eu dirigir uma viatura, pois isso ocorria desde o primeiro plantão, considerando qua saímos "capacitados" do curso de formação para fazê-lo e, diferentemente de outras instituições, não tem um motorista fixo/exclusivo ad eternum nas equipes; mas nesse caso o que acabou acontecendo foi uma espécie de "comitiva", em que seguiam os 2 motociclistas na frente abrindo caminho e eu vindo com a jangada, digo, Blazer atrás. Saímos da cidade e começou a passar um filme pela cabeça. Ora, eu já estava há alguns meses na PRF e ainda não tinha me dado conta de que aquele sonho que contei no início da publicação tinha virado uma realidade.
Não sei se conseguem ver o paralelismo, mas escrevendo isso aqui agora eu revejo a situação e não deixo de me emocionar. Foi exatamente isso que aconteceu ontem voltando do plantão, quando levávamos uma viatura para entregar à equipe de outra unidade operacional que divide o trecho com a unidade em que trabalho. De repente olhei pelo retrovisor e vi a nossa maravilhosa Nissan/Frontier caracterizada, com "cara" de viatura policial, apesar de não ser mais do que um carro comum "adaptado" para o serviço policial (uma coisa absurda, inconcebível) e resolvi tirar essa foto abaixo, meio que como se um registro da história fosse e está eternizada, agora publicada para que eu possa compartilhar como todos vocês, fiéis leitores, a satisfação que tenho em fazer parte dessa maravilhosa polícia que, apesar dos pesares (e são muitos), era meu sonho e agora é minha realidade, mesmo ainda estando todos os dias nos meus sonhos a ideia de que ela poderá e será melhor do que já é.



PRFoxxx

quarta-feira, 20 de março de 2013

Apreensão de 6Kg de pasta-base e veículo roubado

Amigos leitores, é com grande satisfação que venho publicar o vídeo de uma reportagem sobre a apreensão de 6Kg de pasta-base de cocaína realizada no último dia 19 por colegas de delegacia. Não por estar puxando a brasa para a nossa sardinha, mas a principal motivação em fazer essa divulgação é enaltecer o empenho de muitos policiais que trabalham incessantemente todos os dias, apesar das inúmeras limitações desse órgão. Policiais que gostam do que fazem e por isso estudam, persistem, insistem, contrariam por vezes a lógica de muitos outros (que se recusam a fiscalizar estando em número reduzido), mas que acreditam na finalidade da nossa atividade, que é essencialmente preventiva (mesmo que a sociedade clame por repressão), portanto, em função da preservação de vidas, seja quando retiramos de circulação entorpecentes/armas/demais produtos de ilícito, seja quando combatemos os crimes ambientais, que é o carro-chefe da fiscalização da 6ª Delegacia da PRF em Sorriso/MT.
Trabalhar corriqueiramente com um tipo de crime não significa fechar os olhos para os demais, bem como sermos uma polícia inicialmente de trânsito, não quer dizer que não possamos e devemos lidar com a criminalidade em sentido amplo. É por essa e outras que a PRF vem crescendo a cada dia e sendo reconhecida como uma polícia completa, de excelência.
Algumas coisas a serem observadas da ocorrência:
- Policiais trabalhando durante a madrugada (ao contrário do que a maioria pensa)
- Policiais com conhecimentos multidisciplinares (ao mesmo tempo que não são especialistas em um ou outro crime, são especializados em todos ao mesmo tempo, ampliando a possibilidade de atuação)
- Uso de todos recursos tecnológicos disponíveis
- Trabalho em conjunto com outras forças de segurança e reconhecimento pela eficiência e dedicação
- Serviço realizado "sem preguiça", ou seja, fiscalização não se resume a realizar o básico/trivial


Observações:
1- Desculpem a precariedade do texto da repórter ("quantia" de drogas)
2- Delegado fã da PRF (rs)

sábado, 16 de março de 2013

Concurso PRF 2013 está próximo

Um novo concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal (PRF) está se concretizando. O objetivo é criar 1.500 novas vagas, para isso, o Departamento de Policia Rodoviária Federal (DPRF) espera que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) autorize o mais breve possível a abertura da seleção, tendo em vista o tempo necessário para realizar todas as etapas do concurso. Além disso, após a autorização do MPOG, o DPRF também precisa respeitar o intervalo de 60 dias entre a divulgação do edital e as provas, previsto no Decreto 6.944/09, que regulamenta os concursos do governo federal. As provas serão aplicadas em todas as capitais do país.

O cargo de Policial Rodoviário Federal é aberto àqueles que possuem o ensino superior completo em qualquer área, além da carteira de habilitação, na categoria B em diante. Atualmente, a remuneração no início da carreira é de R$6.479,81 (incluindo auxílio-alimentação, de R$373), mas já há reajuste acertado em 2014 e 2015.

A Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) apoia a realização do concurso e vem trabalhando nos bastidores para que o concurso seja realizado o mais breve possível, pois o baixo número de policiais rodoviários federais é uma grave realidade da Policia Rodoviária Federal, consideradas a grande variedade de atribuições do cargo e a vasta malha rodoviária federal (cerca de 70 mil km).

PRFs empossados no último concurso - 2012


Fonte: Agência FenaPRF (Clique aqui)

(As)segure o choro

Assegure o seu choro por toda sua existência quando cometer um ato de insanidade que levará a vida de quem você mais ama.

Explicando: a foto a seguir mostra os 2 veículos envolvidos num acidente do tipo Colisão Frontal ocorrido há algum tempo, cujas fotos visualizei aqui hoje dando uma olhada nuns arquivos de acidentes. O acidente em questão foi resultado de uma ultrapassagem mal sucedida pelo Vw/Gol em que viajava, além do condutor, sua esposa. Um segundo veículo atingido foi o Fiat/Pálio com apenas um ocupante.
A dinâmica do acidente em si não convém detalhar aqui; o mote da publicação é o evento causa x consequência cruel e certeiro da vida.
Estava eu trabalhando na minha unidade operacional, já bem próximo do horário de deixar o plantão, quando percebi a chegada de 3 pessoas num veículo que ostentava adesivos de uma "funerária". O primeiro deles, que foi quem se identificou como interlocutor daquela família (ou pelo menos o RESTO que ali se fazia presente) era um representante da funerária que prestara os serviços de remoção do corpo da esposa/mãe daqueles 2 outros homens que ali estavam. O primeiro deles, semblante de não sei explicar o que, era o condutor do veículo e esposo da vítima fatal do acidente do dia anterior. O segundo, um jovem ainda com mochila escolar nas costas, já com olhos marejados de um choro que foi contido imediatamente ao chegar àquela unidade policial. Sem pronunciarem uma palavra sequer, acompanharam o agente da funerária até o veículo de sua propriedade que estava recolhido no pátio desse Posto PRF, que recebe veículos oriundos não só de apreensões, mas também acidentes.
Já diante do veículo, seu condutor não visualizava somente um monte de ferro retorcido, mas também o receptáculo que transportou sua esposa para a morte (ou será a vida em outro plano?). Debruçou-se sobre o veículo olhando para seu interior, como se a imagem de uma parte da sua vida tivesse se desintegrado ali. Chorou copiosamente, daqueles choros de soluçar. O filho só observou, talvez por ter força, talvez por sentir-se impotente de mudar o passado.

Segure o choro, policial! Foi a única ideia que veio à minha cabeça; foi exatamente o que eu executei. Não é fácil estar diante de uma situação dessas e ser indiferente ao mesmo tempo que é preciso que alguém saiba se portar (e suportar) a dura realidade. Eu não sou/era familiar, não tinha a obrigação de me emocionar (talvez seja por isso mais fácil conter o choro, inclusive), mas dentro desse uniforme tem um ser humano qualquer, que tem emoções, que tem sangue correndo nas veias, ao contrário do que muitos pensam. Não me senti frio por aquilo, porém não posso dizer que eu estava confortável ao ver a cena daquele pedaço de família sofrendo. Sofrendo o condutor, talvez, pelo peso da consciência de ter gerado essa história que acabo de narrar, que foi fruto única e exclusivamente de sua CONDUTA, uma ultrapassagem do tipo "acho que dá" num local sem perspectiva plena, com faixa dupla contínua, período noturno, mas que não cabe à mim julgar, que resultou numa colisão frontal que, por obra divina, não foi uma tragédia maior, já que no outro veículo viajava um senhor de meia idade recém saído de processo cirúrgico no tronco e que NÃO UTILIZAVA CINTO DE SEGURANÇA, vindo a ser projetado contra o volante e parabrisa, milagrosamente atendido à unidade médica apresentando somente lesões leves.

Mais uma história de rodovia que trago com a finalidade de mostrar que se os "acidentes acontecem", é porque eles tem causa e essa causa deriva em grande parte das vezes de erros de conduta, de desobediência aos princípios de direção defensiva, em desobediência às regras de trânsito, que muito embora muitos condutores desconsiderem, são resultado de estudo por parte das autoridades e profissionais competentes, ainda que apresentem falhas. A sinalização não existe por acaso, os princípios da direção defensiva devem ser aplicados concomitantemente, pois a desobediência a um deles isoladamente por si só pode causar acidente. Fora isso, tudo vira história, vira números, vira saudade.


PRFoxxx

sexta-feira, 15 de março de 2013

Flagras de Março #3

Condutor apressado/impaciente + velocidade incompatível + não guardar distância de segurança = um dos 3 acidentes que ocorreram hoje no nosso trecho.


Felizmente não houve vítima lesionada/morta, dadas as circunstâncias em que ocorreu (pista escorregadia/tepo chuvoso + fluxo intenso de veículos), considerando ainda que o condutor narrou ter realizado a saída de pista para evitar acidente mais grave (colisão frontal com veículos que seguiam em comboio no sentido oposto. Prejuízo material: 37,5 t de Soja em grãos que iam para Rondonópolis/MT. Antes soja do que vidas (apesar de um universo de produtores rurais pensarem o contrário).

PRFoxxx

Por falar em cinto de segurança

Estava aqui agora procurando umas fotos e acabei encontrando essa, que é o carro (ou pelo menos o resto dele) do primeiro acidente com vítima fatal. O 1º a gente nunca esquece... e nenhum outro, pois a cena não é nada agradável. É nessa hora que a gente vem se aproximando e de Dentro da Viatura já pensa: o que foi isso, meu Deus?
Mas como é serviço é fora da viatura, lá fomos nós a "desenrolar" a ocorrência, como um policial padrão deve fazer.


"Nossa, como o veículo se acabou, seu guarda!"
Sim, o veículo teve danos de grande monta depois de ter saído de pista, muito provavelmente por um "cochilo" do motorista, que ao se assustar, tentou trazer o veículo para o leito da rodovia, vindo a perder o controle da direção e foi atingido em cheio por uma carreta que transitava no sentido oposto.
Não é possível observar na foto, mas a célula do condutor não foi deformada significativamente a ponto de haver esmagamento de corpo por exemplo, o que seria crucial para o resultado morte. Ocorre que o condutor estava SEM CINTO DE SEGURANÇA e estava no banco traseiro quando foi retirado do veículo. Morreu em detrimento de múltiplas fraturas/traumas, que poderiam ter sido evitados se o dispositivo de segurança de uso obrigatório tivesse sido utilizado.
Para a sociedade: virou número; para a família, saudade!

PRFoxxx

Placas Curiosas #1

Em averiguação de um QRU hoje no serviço, eis que num estacionamento de uma faculdade qualquer no município de Lucas do Rio Verde, a cidade que tem a renda per capita 3x maior que a média nacional (e por isso um reduto de bandidos de todo gênero), eis que encontro mais uma daquelas "inovações" trazidas por "gênios" ainda não revelados pela humanidade.
A placa a seguir é a publicação inaugural da série Placas Curiosas somente pelo fato de ter sido hoje no plantão e ter sido possível a sua divulgação de imediato, mas não que seja a mais inusitada que já vi nessas andanças por aí. Pretendo publicar em breve algumas outras que tenho clicado por aí.


Pode parecer meio óbvio, ou então eu estava com os miolos fervendo depois de trabalhar sob o sol escaldante aqui na mãe-preta. Mas se é estacionamento, então é para veículos; ou seria para nave espacial? Se bem que um OVNI também é um veículo...

http://www.dicio.com.br/estacionamento/

PRFoxxx

quinta-feira, 14 de março de 2013

Flagras de Março #2

Não estou querendo mostrar a fumaça da poluição somada à inversão térmica; dêem uma olhadinha para a parte inferior da foto. Conseguiu notar a faixa dupla contínua amarela? O condutor da caminhonete pelo visto não; ou pelo menos ele ignorou que essa simbologia significa separação fluxos opostos (amarela), além de ser contínua, que proibe a sua transposição para a faixa de fluxo oposto, independente de qual seja a finalidade da manobra.


Lorota #1: "Ah seu guarda, mas isso é exigir muito de um pobre agricultor que utiliza sua humilde caminhoneta (é, aqui todo mundo fala assim) para trabalhar, ele não é bandido; vai prender bandido".
 > Acontece que além de prender bandido, a gente trabalha em prol da vida em sentido amplo. O "prender bandido" é medida repressiva; a fiscalização de trânsito é preventiva e repressiva ao mesmo tempo. A partir do momento em que coibimos infrações de trânsito, pontencializamos a prevenção de acidentes.

Lorota #2: "Esse dinheiro que ele vai gastar para pagar a multa, poderia estar usando para manter sua família". 
> O infrator deve pensar nisso antes de cometer o deslize. Mais do que o dinheiro para pagar a multa, ele deve pensar num dinheiro que eventualmente sua família gastaria para realizar seu enterro. Uma outra ótica, mais amena, é que ele poderia gastar esse dinheiro pagando tratamento médico (seu ou da vítima de um outro veículo atingido), além de custear o reparo mecânico dos veículos envolvidos no acidente.

No fim das contas, ser autuado por infração ao Art. 203 Inciso V da Lei 9503/97, nosso falho mas ainda válido Código de Trânsito Brasileiro, sai até barato se pensarmos nas consequências dessa Gravíssima infração de trânsito. Prefiro mil vezes gerar um auto de infração do que ter que lavrar um Boletim de Acidente de Trânsito - BAT.

OBS: talvez o coitadinho do infrator alegue ainda que realizou a manobra pelo fato de não conhecer a sinalização por NÃO TER CNH, fato que é bem comum aqui na região, lamentavelmente. Aí é que a "porrada" é bem dada quando a gente flagra, pois além do auto de infração pela ultrapassagem irregular, a gente lavra mais um ou dois autos de infração (Art. 162 e 164 do CTB), deixando o serviço bem arrematado, bem do jeito PRF de ser. Caneta na Caveira!

PRFoxxx

Flagras de Março #1

Indo para o serviço, ainda dentro do ônibus, tive o prazer de ver a cena de uma viatura PRF realizando a fiscalização de estacionamento irregular sobre a pista de rolamento.
O fato se deu no perímetro urbano de Sorriso, norte do estado do Mato Grosso, conhecida como "Capital do Agronegócio", onde circula um número colossal de caminhões que realizam o escoamento da safra de grãos, algodão e produtos florestais.
Nas proximidades de um grande posto de combustíveis, que inclusive tem um enorme estacionamentopara veículos de grande porte com gratuidade para quem realiza abastecimento ou consome seus produtos, vários caminhoneiros se acham no direito (hoje o mundo é dos "direitos", ninguém tem "deveres") de estacionar seus veículos de quase 20 metros de comprimento sobre o leito da rodovia. Acontece ainda que há vias marginais, que aliviam o fluxo na pista de rolamento da BR 163, mas cuja autoridade com circunscrição sobre ela proibiu o estacionamento desses veículos. Alegam então os motoristas que não lhes resta alternativa e acabam cometendo as infrações de trânsito. Isso "cola"? Obviamente que não, pois não trabalhamos com um talão de "bom senso", como os infratores gostariam, mas sim um bloco de Autos de Infração de Trânsito, que é um documento que expressa a redução a termo de um Ato Administrativo Vinculado. Para quem não conhece, isso a grosso modo significa: Infração constatada é auto gerado, sem caber juízo de valor do agente que averigua a infração.
É nessa hora que o caminhoneiro dá seu "xilique": ô autoridade, tenha bom senso. Como nos pedir bom senso se em ambos os lados da rodovia há estacionamentos GRATUITOS para que eles possam deixar seus veículos e realizar quaisquer demandas que tenham?
Isso é mais do que Tolerância Zero, é a lei ser cumprida para que seus efeitos estejam a contento quando o legislador a fez pensando no bem coletivo.
Pela segurança viária: Caneta na Caveira. PRF Brasil!


Carimbo de parabrisa

Soa estranho o termo, não é? É como de Dentro da Viatura eu vejo um dos primeiros sinais de acidente de trânsito com vítimas sem cinto de segurança.

Aproveitando o gancho da publicação anterior que fala da falta de cinto de segurança, especificamente em ônibus (mas que não tem como ser tratado isoladamente), venho hoje tentar explanar sobre um gargalo imenso na prevenção de acidentes de trânsito e a correlação com a gravidade das lesões e resultado morte com as vítimas. O estranho termo "carimbo de parabrisa" que eu inventei na minha cabeça desde os primeiros atendimentos de acidente há quase 4 anos atrás, é um eufemismo para tratar da imagem que vejo ao chegar num local de acidente, seja ele de qual tipo for, e constatar que o condutor ou o passageiro NÃO UTILIZAVA O CINTO DE SEGURANÇA.
Leitores, em nenhum, absolutamente nenhum caso de atendimento de acidente em que havia pessoas sem cinto de segurança consta nos meus boletins um status de vítima como "ilesa". Todas elas de uma forma ou de outra saem lesionadas, umas mais gravemente que as outras a depender do tipo de colisão (frontal, transversal, traseira e etc), capotamento com projeção de corpo ou a velocidade desenvolvida. É uma coisa gritante aqui na minha área de atuação (trecho de quase 500 Km) a ocorrência de acidentes envolvendo vítimas que não usavam esse precioso dispositivo. Resultado de uma cultura de trânsito distorcida, onde os atores do trânsito (de pedestre a caminhoneiro) trazem consigo a mentalidade de estarem vivendo numa colônia de 10 mil habitantes do sul do país (RS/PR/SC + MS colonizaram essas "bandas" do MT), mas na verdade estamos falando de municípios com média de 100 mil habitantes e com crescimento anual a taxas próximas a 10%; para termos uma dimensão, o município de Sinop tem média de 1 veículo registrado para cada 2 habitantes (população fixa de 140 mil), isso sem contar os milhares de veículos registrados em cidades vizinhas e uma grande parte no PR (onde o licenciamento é mais o barato do país). A conduta/mentalidade não acompanhou a evolução do trânsito e sua dinâmica cada vez mais intensa; resultado disso é o crescente aumento no número de acidentes e da gravidade dos mesmos, de acordo com estatísticas oficiais (ainda que algumas delas distorcidas por "conveniência" de alguns chefes do poder executivo municipais).

Os números não mentem, mas a mim o que importa é que no meu empirismo do dia a dia tenho presenciado um verdadeiro show de horrores no trecho. Os hipócritas gestores tentam colocar a culpa nas péssimas condições da rodovia (que tem sim pequena parte das causas), mas nós que estamos aqui com a mão no sangue, digo, na massa é que sabemos como funciona essa mazela. Posso garantir, sem sombra de dúvidas, que a maioria dos acidentes de trânsito são derivados de má conduta.

Causas de acidente: Abro agora um parêntese para falar das causas de acidentes elencadas na legislação e que vincula a lavratura dos boletins de acidente de trânsito - BAT. Vejo umas estatísticas da PRF apontando como o maior percentual das causas de acidente a "falta de atenção". Hora da navalha cortar na própria carne: isso é resultado da imperícia e da falta de compromisso de alguns agentes em tentar examinar a dinâmica do acidente, realizar uma avaliação mais apurada dos fatos para compreender como se deu o evento. Um exemplo: 2 veículos que seguem fluxo no mesmo sentido quando um deles reduz a velocidade para transpor uma lombada; o veículo que segue imediatamente atrás vem a colidir no da frente. Pergunta: por que ele de fato colidiu? Tem policial que coloca no BAT como causa "falta de atenção" e pronto. Errado! A causa do acidente foi o descumprimento de uma regra básica de conduta, que é guardar distância de segurança para o outro veículo (inclusive bicicletas, coisa que tem gente que nem sabe existir), cabendo inclusive a autuação na ocasião do atendimento de acidente. Há controvérsias, pois alguns teóricos dizem que pode ser resultado de uma falha mecânica e blablabla. 1º: como não somos peritos (de direito), não teríamos como avaliar; 2º: até hoje nenhum condutor sequer alegou na Declaração De Condutor (documento gerado na lavratura do BAT) quaisquer outros motivos senão o próprio erro em não ter reagido a tempo de evitar a colisão, inclusive por ter deixado de avaliar todos os princípios de Direção Defensiva.

O longo parágrafo anterior foi para chegar exatamente onde eu queria: ACIDENTES DE TRÂNSITO SÃO EVITÁVEIS, em sua maioria; bem como são derivados predominantemente de má conduta no trânsito. Emendando o raciocínio inicial, quero dizer que ainda que o acidente não tenha sido evitado, que pelo menos todos tenham a consciência de que é possível minimizar seus efeitos, seja evitando morte, evitando lesões ou reduzindo a gravidade delas. O intuito da publicação é atentar a todos para o uso do cinto de segurança (e equivalente, como a cadeirinha/bebê conforto/booster/assento de elevação) e fazer um apelo para que a ideia de prevenção seja divulgada por você, leitor, que tem importante papel na sociedade em que vive.

A seguir deixo uns vídeos (dos milhares relativos ao tema facilmente encontrados no Youtube) que creio serem de necessidade urgente que cheguem ao máximo de pessoas possível, para que tenhamos um trânsito mais seguro. Aproveito o ensejo para pontuar uma questão fundamental: a proteção das crianças.
Não consigo imaginar uma viv'alma sequer que tenha pretendido um dia ter um filho sem ter o desejo de ver esse filho crescer, completar seu ciclo de vida. Então, baseado nessa lógica, fico a me perguntar: o que se passa na cabeça de uma mãe (ou de um pai) que transporta um filho desprotegido num veículo? É necesário correr e oferecer esse risco? A vida do seu filho custa mais do que uma cadeirinha (em torno de R$ 150,00 em lojas do ramo)? Ela vale mais do que uma multa (R$ 191)? Consegue imaginar o parabrisa do seu carro com o "carimbo" do rosto do seu filho? Pior, consegue imaginar aquele "corpinho" no chão, já mole e pálido em meio a uma poça de sangue?
O peso de um caixão infantil no cortejo é leve, mas a carga para o resto da vida é pesada, e como é! É inaceitável que um genitor, seja ele que condição financeira tiver, transportar seu filho no colo ou solto dentro do veículo, mesmo no banco traseiro, com o pretexto de "só estava indo ali, seu guaRRRda", como se isso fosse justificável, uma vez que todos sabemos que um veículo onde quer que esteja a circular está passível de se acidentar. Como digo sempre: não compensa pagar para ver! Chega a ser uma covardia, pois os pais tem a responsabilidade plena sobre tudo o que ocorrer com aquele ser que está a começar sua vida e ainda não sabe se gerir.

Enfim, como dizem os antigos: "sua alma, sua palma". Quem tem coração, que reflita. Quem tem consciência, que difunda essa ideia. É o apelo de um simples "guarda" rodoviário que nunca atendeu a um acidente com criança como vítima fatal, mas que já prepara o espírito para quando tiver que fazê-lo ao tempo em que reza para que não aconteça.


Mais 2 vídeos interessantes:
- http://www.youtube.com/watch?v=UKk-3VarxHI
- http://www.youtube.com/watch?v=gx70YQXoy-Q


PRFoxxx

sábado, 9 de março de 2013

Cinto Muito

Tudo bem que tenho um português ainda longe do perfeito, mas tento considerar que é pelo menos razoável/aceitável e por isso resolvi fazer o trocadilho sem peso na consciência de ser mal interpretado.

Falemos hoje do uso do Cinto de Segurança nos ônibus. Estava eu a viajar no ônibus rumo ao plantão (2 horas de viagem) e nesse meio tempo muitas coisas se passam por essa mente nunca vazia, sempre inquieta. Olhei para a poltrona da frente e fiz o que um pequeno percentual da população faz: considerei um alerta. Em todos os forros de encosto de cabeça no ônibus vem estampado, além da logomarca da empresa, um aviso sobre o USO OBRIGATÓRIO do Cinto de Segurança. Fiquei então a filosofar: são diversos os motivos que levam as pessoas a não utilizar esse dispositivo que eu chamo de limiar entre a vida e a morte.

1- Banalização da informação massificada: a gente, o ser humano e me incluo nesse rol, tem a estranha mania de ignorar algo que julgamos óbvio, uma espécie de relaxamento natural, chega a ser um excesso de confiança diante de avisos taxativos que dizem respeito à nossa segurança. Isso acontece com as placas de velocidade máxima permitida, as proibições (ultrapassagem e etc), enfim, algumas diretrizes básicas de condutas a serem seguidas para vivermos seguros. Deve ser por essas e outras é que tanta gente tem sua morte considerada "uma morte besta", ou seja, plenamente evitável.

2- O gosto pela transgressão: não sei se é só impressão minha, mas as pessoas a cada dia ficam mais ávidas a transgredir as regras pelo simples prazer pessoal, ou ainda para "tirar uma onda" de que fez o proibido e não arcou com as consequências. Não sou psicólogo (e tenho inclusive medo deles), mas tenho certeza de que devem haver teses/teorias que explicam essa compulsão pelo proibido.

3- Um terceiro ponto de vista poderia ser o fato de que o brasileiro NÃO SABE LER. Sim, algumas pessoas sabem emendar letras, outras nem isso, ou seja, os analfabetos funcionais e os formais (acho que é esse o termo). Considerado o fato de que grande parte dos usuários do transporte coletivo do tipo ônibus é gente de menor poder aquisitivo, não há nada de novidade para mim que grande parte deles não saiba sequer o que quer dizer a logomarca ou aquelas letrinhas que a acompanha.

Nesses longos anos de viagem de "busão", sempre usei o cinto de segurança (quando os veículos dispunham do mesmo) por entender que aquilo não estava ali pora caso. Hoje tenho plena certeza de que os engenheiros não passam uma vida desenvolvendo dispositivos de segurança à toa. A indústria automobilística tem, dentre as mentes mais brilhantes do mundo, engenheiros de altíssima capacidade em trabalhar pensando na vida. O cinto de segurança não é nenhuma reinvenção da roda, mas é um invento que tem sua importância subestimada pelos usuários de veículos.

Inúmeros são os acidentes que já atendi até hoje e afirmo com propriedade (diferente de perícia, pois os PRFs ainda não são peritos na lei) que uma maior parte deles teriam menor impacto na estatística se os "inteligentes" estivessem usando o cinto de segurança. Obviamente que alguns casos isso não se aplica, por exemplo, no caso de uma colisão com esmagamento de um veículo, um incêndio, dentre outros casos; porém, em colisões simples, daquelas que ocorrem em baixas velocidade, inclusive, o cinto tem se mostrado decisivo naquele tênue limite entre a vida e a morte.

É preciso ser um PRF ou um Bombeiro Militar para entender isso? Óbvio que não. Chego a falar que basta que as pessoas assistam televisão e verão como tem morrido gente num volume colossal pela simples falta de uso do cinto de segurança. AINDA QUE para uma parte da imprensa irresponsável não seja útil divulgar que o uso cinto foi crucial no resultado morte, um ser humano médio tem (ou devia ter) a capacidade de avaliar um acidente com projeção de corpo, por exemplo, para estimar que se a vítima estivesse usando o dispositivo, teria pelo menos a chance de estar viva, o que na falta dele necessariamente ela morre.

Uma exceção: até hoje somente em 1 atendimento de acidente em que o condutor não utilizava cinto de segurança eu fiz o atendimento com a vítima viva. Como dizemos sempre: ninguém morre de véspera, aquele não era "o dia" do sujeito. Aconteceu em Catanduvas/PR, quando ao perder o controle de sua VW/Saveiro em uma curva com pavimento molhado (detalhe para os pneus traseiros lisos), ao sair de pista e colidir com um primeiro obstáculo, o corpo foi projetado para fora pela janela traseira, tendo caído ainda na vegetação às margens da rodovia, enquanto o veículo na sua inércia despencou num desnível de aproximadamente 8 metros. Com pequenas lesões, ele consegui chegar até a pista de rolamento, onde acenou para um veículo que passava e coincidentemente era seu primo, que prestou primeiros socorros.
Evidente que essa sucessão de eventos sorte não acontece com todo mundo e o caso explicitado foi a exceção da exceção, ou seja, via de regra ninguém deve contar com a sorte quando circula num veículo sem utilizar o cinto de segurança. Melhor não pagar pra ver, pois "lá do outro lado", não há espaço nem tempo para se lamentar.

A escolha entre a vida e a morte está literalmente na sua mão, condutor e passageiro, basta pensar. E na hora de passar em frente a um posto policial ou uma blitz, não adianta se enganar quando coloca o cinto somente para essa situação, pois lá quando acontecer o acidente, não apareceremos "do nada" naquela fração de segundo para mandá-lo apresilhar o dispositivo e manter-se vivo.
Ao ser flagrado na infração do Art. 167 do CTB, não adianta ainda falar "Sinto muito, seu guarda, vou colocar o Cinto", pois infração constatada é auto gerado (Ato Administrativo Vinculado). Prefiro mil vezes fazer esse auto de uma infração grave (valor de R$ 127,69 + 5 pontos na CNH) do que ter que atender seu acidente e recolher pedaços para entregar para a família fazer o enterro...



PRFoxxx

Interdição de Rodovia

Sorriso, 07 de Março de 2013. Não foi a primeira e nem será a última interdição pela qual passarei, mas resolvi fazer essa publicação para despertar no leitor uma crítica sobre a problemática das rodovias federais do nosso país.

Estamos num dos principais eixos de escoamento da produção agrícola do país; uma rodovia que praticamente cruza o país, vem desde o Rio Grande do Sul e vai até o Pará, mais precisamente a cidade-polo de Santarém. Pontuando o Mato Grosso, a rodovia atualmente tem fluxo do norte para o sul do estado, indo do município de Guarantá do Norte (Serra do Cachimbo, lá onde caiu o avião da Gol) até Itiquira, divisa com o Mato Grosso do Sul. Nesse trajeto, recebe a sobreposição da BR 364 (de Diamantino até Rondonópolis), mas mais do que isso, recebe toda uma carga de centenas, milhares de caminhões transportando o que o Mato Grosso tem a oferecer para o Brasil e o mundo: Soja, Algodão, Milho e Madeira. Saem daqui até Santos e Paranaguá, além de abastecer o mercado nacional, principalmente as regiões sudeste e sul (o mesmo sul que já teve sua madeira esgotada pelos "superiores" descendentes de europeus, os mesmos ainda que esgotaram o solo e praticamente inviabilizaram a agricultura sustentável naquela região, mas que agora ocupam o norte com o pretexto de abrir fronteiras agrícolas para "sustentar o país", como eles dizem).

Um adendo: esse eixo da BR 163 só tem o fluxo apontado para o sul/sudeste porque a rodovia NÃO EXISTE dentro do estado do Pará, incrivelmente, em pleno século XXI a BR 163 ainda é uma ESTRADA (não pavimentada) federal em grande parte de sua extensão nesse estado. Obviamente que se fosse pavimentada, a produção com fim exportação do médio norte e norte do MT seria mais facilmente escoada para o porto de Santarém, reduzindo custos significativos de frete e gerando aumento de competitividade da produção agrícola das citadas regiões, que já é vantajosa em relação a outros polos de commodities (sul de MT, GO, MS, etc). Aí vem a 1ª pergunta: com que interesse (ou desinteresse) a BR 163 ainda não foi pavimentada dentro do PA?

Para emendar o assunto, uma segunda pergunta: em sendo essa rodovia um ponto estratégico para os produtores rurais e (infelizmente) os madeireiros, porque tem subestimada sua importância perante o governo federal? Sinal disso é a interdição da rodovia ocorrida no último dia 07 nos municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso; sendo que neste último o movimento "BR 163 - Parada Pela Vida" tomou corpo e teve até repercussão na imprensa nacional.

Apesar de o nome ser "parada pela vida", o movimento (capitaneado por associações empresariais) teve fins puramente político-financeiros. Utilizaram estatísticas catastróficas de acidentes, metralharam a imprensa com números de mortes em acidentes que acontecem no nosso trecho para justificar a mobilização. A seguir, farei uma breve explanação para que possam entender o que é preocupação com a vida e o que é ganância.

2009 Em 2009 a rodovia BR 163 no norte do estado era apenas um resquício de pavimentação mal feita (como todas as vias brasileiras) que teve um início de reforma.
Lamentavalmente no final do ano de 2010 não havia sequer um trecho concluído a contento (cada trecho de aproximadamente 100 Km era feito por empreiteiras diferentes = tramóia).
2011 considerávamos que havia uma "conclusão", mesmo tendo trechos que ainda hoje permanecem sequer sem sinalização horizontal (perímetro urbano de Sorriso, por exemplo). Neste ano observamos o aumento assustador no número de acidentes. Ora, quando não havia uma pavimentação decente, reclamavam que a principal causa de acidentes era a má condição da rodovia; agora quando asfaltada, culpariam a boa condição do pavimento ser favorável a alta velocidade e, por conseguinte, acidentes? Não há um meio termo para uma região onde os condutores deveriam ser de carroça ou charrete, tamanha ignorância que apresentam.
2012 aumento em Progressão Aritimética no número de acidentes (e na gravidade deles) e mortes; aumento do fluxo de caminhões (predominantemente Bitrens de 7 e 9 eixos) para atendimento da demanda no escoamento da produção, redução de efetivo da PRF em função de uma série de erros primários da administração superior, aumento na cobrança por medidas preventivas e repressivas por parte do nobres guerreiros da pista, mas sem impacto significativo.
2013 caos no trânsito somado à degradação total do pavimento (inclusive em função do excesso de peso dos "monstros" de 74 toneladas de PBT - Peso bruto Total), aumento em Progressão Geométrica no número de acidentes. Efetivo residual PRF resultado de uma sequência de erros da administração, nem sempre suficiente para compor uma equipe de ronda para fiscalização ou atendimento de acidentes.

Nesse intervalo de tempo a frota de automóveis e motocicletas aumentou, a de caminhões cresceu, mas ainda assim é insuficiente para atendimento da demanda, ao passo que o plantel de fiscais é inversamente proporcional. Sem agentes atuando de forma pesada na fiscalização, crescem a transgressão às regras de trânsito, bem como a criminalidade (essa merece uma publicação à parte).

A mentira - Em sendo assim, já que o movimento Parada Pela Vida diz-se motivado pela preservação da vida, como os farsantes líderes proferiram nas entrevistas (pois eles só estavam em busca de holofotes políticos), por que eles não se moveram anteriormente, quando em 2012 por exemplo, houve um salto gigantesco no número de acidentes no trecho da BR 163 em questão? Por que eles não investiram essa fortuna (que gastaram em banners, camisas, adesivos veiculares, gruas, palanques e etc) em uma campanha maciça de educação para o trânsito aqui na região onde ninguém sequer tem CNH, usa cinto de segurança e faz demais atrocidades no trânsito? Por que não usaram esse "ânimo" político para pressionar os governos municipal/estadual/federal para implementar uma fiscalização criteriosa e rigorosa tanto no trânsito urbano como na rodovia?
Que a verdade seja dita, doa a quem doer, esse showzinho que durou 4 horas e mobilizou efetivo da Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros Militar, Imprensa e uma infinidade de entidades, teve única e exclusiva motivação: fazer alarde para o aumento do valor do frete, que está sendo repassado para os produtores pelos transportadores (que já sofrem com mais um aumento de 4% do valor do óleo diesel).
Enquanto vidas estavam escoando pelo ralo, predominantemente os mais pobres, que andam de motocicleta (sem CNH, com licenciamento vencido, lâmpadas queimadas e etc), ninguém saiu do seu gabinete com ar condicionado. Enquanto a PRF enviava um ou dois agentes para fazer um atendimento de acidente com interdição de rodovia que chegava a durar 7 horas, não tinha sequer um recebe por saca de Soja, resolvem se mover e fazer drama para a TV. Esse R$ 1,00 a menos, no montante, faz com que ele demore 1 mês a mais na expectativa que ele tinha de trocar sua Toyota Hilux SRV 4x4 ano 2012 por uma 2013/14. Produtor rural/madeireiro é o tipo de gente que mata e morre quando tem sequer uma ameaça ao seu poderio econômico e foi por isso e somente por isso é que depois da desobstrução do show na rodovia que enfrentamos um colapso no fluxo.
Ao ser feita a liberação da pista em ambos os sentidos, presenciamos um show de horrores: veículos de passeio realizando ultrapassagens forçadas para vencer os "comboios" de bitrens; bem como os caminhões vazios ultrapassando os carregados e daí por diante; um absurdo que durou aproximadamente 1 hora. Absurdo esse que não pode ser atribuído somente à obstrução da rodovia, mas principalmente é fruto de uma postura imediatista e ignorante do condutor de veículo, que não têm o mínimo de apreço pela sua vida, quem dirá a alheia.
Um estresse só, isso que nem entra na conta os telefones do Posto PRF tocando incessantemente o dia todo; o atendimento de acidente do tipo incêndio que houve na fila de veículos (engarrafamento) e as diversas ocorrências conexas ao "evento".

Para concluir, como a gente costuma dizer: nada é tão ruim que não possa piorar: poderia ter sido uma obstrução de rodovia causada por índios (os de verdade, não esses do sul de quem falei nesse longo texto). Essa fica para outro dia. Já me alonguei demais (mais uma vez), mas é que fica difícil narrar/descrever cada situação que a gente passa no dia a dia.

#CadaPlantãoÉUmaHistória

Link reportagem - Parada pela vida: Clique aqui

Link reportagem - Incêndio da Kombi: Clique aqui

Foto: Rádio Sorriso

PRFoxxx