quinta-feira, 14 de março de 2013

Carimbo de parabrisa

Soa estranho o termo, não é? É como de Dentro da Viatura eu vejo um dos primeiros sinais de acidente de trânsito com vítimas sem cinto de segurança.

Aproveitando o gancho da publicação anterior que fala da falta de cinto de segurança, especificamente em ônibus (mas que não tem como ser tratado isoladamente), venho hoje tentar explanar sobre um gargalo imenso na prevenção de acidentes de trânsito e a correlação com a gravidade das lesões e resultado morte com as vítimas. O estranho termo "carimbo de parabrisa" que eu inventei na minha cabeça desde os primeiros atendimentos de acidente há quase 4 anos atrás, é um eufemismo para tratar da imagem que vejo ao chegar num local de acidente, seja ele de qual tipo for, e constatar que o condutor ou o passageiro NÃO UTILIZAVA O CINTO DE SEGURANÇA.
Leitores, em nenhum, absolutamente nenhum caso de atendimento de acidente em que havia pessoas sem cinto de segurança consta nos meus boletins um status de vítima como "ilesa". Todas elas de uma forma ou de outra saem lesionadas, umas mais gravemente que as outras a depender do tipo de colisão (frontal, transversal, traseira e etc), capotamento com projeção de corpo ou a velocidade desenvolvida. É uma coisa gritante aqui na minha área de atuação (trecho de quase 500 Km) a ocorrência de acidentes envolvendo vítimas que não usavam esse precioso dispositivo. Resultado de uma cultura de trânsito distorcida, onde os atores do trânsito (de pedestre a caminhoneiro) trazem consigo a mentalidade de estarem vivendo numa colônia de 10 mil habitantes do sul do país (RS/PR/SC + MS colonizaram essas "bandas" do MT), mas na verdade estamos falando de municípios com média de 100 mil habitantes e com crescimento anual a taxas próximas a 10%; para termos uma dimensão, o município de Sinop tem média de 1 veículo registrado para cada 2 habitantes (população fixa de 140 mil), isso sem contar os milhares de veículos registrados em cidades vizinhas e uma grande parte no PR (onde o licenciamento é mais o barato do país). A conduta/mentalidade não acompanhou a evolução do trânsito e sua dinâmica cada vez mais intensa; resultado disso é o crescente aumento no número de acidentes e da gravidade dos mesmos, de acordo com estatísticas oficiais (ainda que algumas delas distorcidas por "conveniência" de alguns chefes do poder executivo municipais).

Os números não mentem, mas a mim o que importa é que no meu empirismo do dia a dia tenho presenciado um verdadeiro show de horrores no trecho. Os hipócritas gestores tentam colocar a culpa nas péssimas condições da rodovia (que tem sim pequena parte das causas), mas nós que estamos aqui com a mão no sangue, digo, na massa é que sabemos como funciona essa mazela. Posso garantir, sem sombra de dúvidas, que a maioria dos acidentes de trânsito são derivados de má conduta.

Causas de acidente: Abro agora um parêntese para falar das causas de acidentes elencadas na legislação e que vincula a lavratura dos boletins de acidente de trânsito - BAT. Vejo umas estatísticas da PRF apontando como o maior percentual das causas de acidente a "falta de atenção". Hora da navalha cortar na própria carne: isso é resultado da imperícia e da falta de compromisso de alguns agentes em tentar examinar a dinâmica do acidente, realizar uma avaliação mais apurada dos fatos para compreender como se deu o evento. Um exemplo: 2 veículos que seguem fluxo no mesmo sentido quando um deles reduz a velocidade para transpor uma lombada; o veículo que segue imediatamente atrás vem a colidir no da frente. Pergunta: por que ele de fato colidiu? Tem policial que coloca no BAT como causa "falta de atenção" e pronto. Errado! A causa do acidente foi o descumprimento de uma regra básica de conduta, que é guardar distância de segurança para o outro veículo (inclusive bicicletas, coisa que tem gente que nem sabe existir), cabendo inclusive a autuação na ocasião do atendimento de acidente. Há controvérsias, pois alguns teóricos dizem que pode ser resultado de uma falha mecânica e blablabla. 1º: como não somos peritos (de direito), não teríamos como avaliar; 2º: até hoje nenhum condutor sequer alegou na Declaração De Condutor (documento gerado na lavratura do BAT) quaisquer outros motivos senão o próprio erro em não ter reagido a tempo de evitar a colisão, inclusive por ter deixado de avaliar todos os princípios de Direção Defensiva.

O longo parágrafo anterior foi para chegar exatamente onde eu queria: ACIDENTES DE TRÂNSITO SÃO EVITÁVEIS, em sua maioria; bem como são derivados predominantemente de má conduta no trânsito. Emendando o raciocínio inicial, quero dizer que ainda que o acidente não tenha sido evitado, que pelo menos todos tenham a consciência de que é possível minimizar seus efeitos, seja evitando morte, evitando lesões ou reduzindo a gravidade delas. O intuito da publicação é atentar a todos para o uso do cinto de segurança (e equivalente, como a cadeirinha/bebê conforto/booster/assento de elevação) e fazer um apelo para que a ideia de prevenção seja divulgada por você, leitor, que tem importante papel na sociedade em que vive.

A seguir deixo uns vídeos (dos milhares relativos ao tema facilmente encontrados no Youtube) que creio serem de necessidade urgente que cheguem ao máximo de pessoas possível, para que tenhamos um trânsito mais seguro. Aproveito o ensejo para pontuar uma questão fundamental: a proteção das crianças.
Não consigo imaginar uma viv'alma sequer que tenha pretendido um dia ter um filho sem ter o desejo de ver esse filho crescer, completar seu ciclo de vida. Então, baseado nessa lógica, fico a me perguntar: o que se passa na cabeça de uma mãe (ou de um pai) que transporta um filho desprotegido num veículo? É necesário correr e oferecer esse risco? A vida do seu filho custa mais do que uma cadeirinha (em torno de R$ 150,00 em lojas do ramo)? Ela vale mais do que uma multa (R$ 191)? Consegue imaginar o parabrisa do seu carro com o "carimbo" do rosto do seu filho? Pior, consegue imaginar aquele "corpinho" no chão, já mole e pálido em meio a uma poça de sangue?
O peso de um caixão infantil no cortejo é leve, mas a carga para o resto da vida é pesada, e como é! É inaceitável que um genitor, seja ele que condição financeira tiver, transportar seu filho no colo ou solto dentro do veículo, mesmo no banco traseiro, com o pretexto de "só estava indo ali, seu guaRRRda", como se isso fosse justificável, uma vez que todos sabemos que um veículo onde quer que esteja a circular está passível de se acidentar. Como digo sempre: não compensa pagar para ver! Chega a ser uma covardia, pois os pais tem a responsabilidade plena sobre tudo o que ocorrer com aquele ser que está a começar sua vida e ainda não sabe se gerir.

Enfim, como dizem os antigos: "sua alma, sua palma". Quem tem coração, que reflita. Quem tem consciência, que difunda essa ideia. É o apelo de um simples "guarda" rodoviário que nunca atendeu a um acidente com criança como vítima fatal, mas que já prepara o espírito para quando tiver que fazê-lo ao tempo em que reza para que não aconteça.


Mais 2 vídeos interessantes:
- http://www.youtube.com/watch?v=UKk-3VarxHI
- http://www.youtube.com/watch?v=gx70YQXoy-Q


PRFoxxx

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