sábado, 9 de março de 2013

Cinto Muito

Tudo bem que tenho um português ainda longe do perfeito, mas tento considerar que é pelo menos razoável/aceitável e por isso resolvi fazer o trocadilho sem peso na consciência de ser mal interpretado.

Falemos hoje do uso do Cinto de Segurança nos ônibus. Estava eu a viajar no ônibus rumo ao plantão (2 horas de viagem) e nesse meio tempo muitas coisas se passam por essa mente nunca vazia, sempre inquieta. Olhei para a poltrona da frente e fiz o que um pequeno percentual da população faz: considerei um alerta. Em todos os forros de encosto de cabeça no ônibus vem estampado, além da logomarca da empresa, um aviso sobre o USO OBRIGATÓRIO do Cinto de Segurança. Fiquei então a filosofar: são diversos os motivos que levam as pessoas a não utilizar esse dispositivo que eu chamo de limiar entre a vida e a morte.

1- Banalização da informação massificada: a gente, o ser humano e me incluo nesse rol, tem a estranha mania de ignorar algo que julgamos óbvio, uma espécie de relaxamento natural, chega a ser um excesso de confiança diante de avisos taxativos que dizem respeito à nossa segurança. Isso acontece com as placas de velocidade máxima permitida, as proibições (ultrapassagem e etc), enfim, algumas diretrizes básicas de condutas a serem seguidas para vivermos seguros. Deve ser por essas e outras é que tanta gente tem sua morte considerada "uma morte besta", ou seja, plenamente evitável.

2- O gosto pela transgressão: não sei se é só impressão minha, mas as pessoas a cada dia ficam mais ávidas a transgredir as regras pelo simples prazer pessoal, ou ainda para "tirar uma onda" de que fez o proibido e não arcou com as consequências. Não sou psicólogo (e tenho inclusive medo deles), mas tenho certeza de que devem haver teses/teorias que explicam essa compulsão pelo proibido.

3- Um terceiro ponto de vista poderia ser o fato de que o brasileiro NÃO SABE LER. Sim, algumas pessoas sabem emendar letras, outras nem isso, ou seja, os analfabetos funcionais e os formais (acho que é esse o termo). Considerado o fato de que grande parte dos usuários do transporte coletivo do tipo ônibus é gente de menor poder aquisitivo, não há nada de novidade para mim que grande parte deles não saiba sequer o que quer dizer a logomarca ou aquelas letrinhas que a acompanha.

Nesses longos anos de viagem de "busão", sempre usei o cinto de segurança (quando os veículos dispunham do mesmo) por entender que aquilo não estava ali pora caso. Hoje tenho plena certeza de que os engenheiros não passam uma vida desenvolvendo dispositivos de segurança à toa. A indústria automobilística tem, dentre as mentes mais brilhantes do mundo, engenheiros de altíssima capacidade em trabalhar pensando na vida. O cinto de segurança não é nenhuma reinvenção da roda, mas é um invento que tem sua importância subestimada pelos usuários de veículos.

Inúmeros são os acidentes que já atendi até hoje e afirmo com propriedade (diferente de perícia, pois os PRFs ainda não são peritos na lei) que uma maior parte deles teriam menor impacto na estatística se os "inteligentes" estivessem usando o cinto de segurança. Obviamente que alguns casos isso não se aplica, por exemplo, no caso de uma colisão com esmagamento de um veículo, um incêndio, dentre outros casos; porém, em colisões simples, daquelas que ocorrem em baixas velocidade, inclusive, o cinto tem se mostrado decisivo naquele tênue limite entre a vida e a morte.

É preciso ser um PRF ou um Bombeiro Militar para entender isso? Óbvio que não. Chego a falar que basta que as pessoas assistam televisão e verão como tem morrido gente num volume colossal pela simples falta de uso do cinto de segurança. AINDA QUE para uma parte da imprensa irresponsável não seja útil divulgar que o uso cinto foi crucial no resultado morte, um ser humano médio tem (ou devia ter) a capacidade de avaliar um acidente com projeção de corpo, por exemplo, para estimar que se a vítima estivesse usando o dispositivo, teria pelo menos a chance de estar viva, o que na falta dele necessariamente ela morre.

Uma exceção: até hoje somente em 1 atendimento de acidente em que o condutor não utilizava cinto de segurança eu fiz o atendimento com a vítima viva. Como dizemos sempre: ninguém morre de véspera, aquele não era "o dia" do sujeito. Aconteceu em Catanduvas/PR, quando ao perder o controle de sua VW/Saveiro em uma curva com pavimento molhado (detalhe para os pneus traseiros lisos), ao sair de pista e colidir com um primeiro obstáculo, o corpo foi projetado para fora pela janela traseira, tendo caído ainda na vegetação às margens da rodovia, enquanto o veículo na sua inércia despencou num desnível de aproximadamente 8 metros. Com pequenas lesões, ele consegui chegar até a pista de rolamento, onde acenou para um veículo que passava e coincidentemente era seu primo, que prestou primeiros socorros.
Evidente que essa sucessão de eventos sorte não acontece com todo mundo e o caso explicitado foi a exceção da exceção, ou seja, via de regra ninguém deve contar com a sorte quando circula num veículo sem utilizar o cinto de segurança. Melhor não pagar pra ver, pois "lá do outro lado", não há espaço nem tempo para se lamentar.

A escolha entre a vida e a morte está literalmente na sua mão, condutor e passageiro, basta pensar. E na hora de passar em frente a um posto policial ou uma blitz, não adianta se enganar quando coloca o cinto somente para essa situação, pois lá quando acontecer o acidente, não apareceremos "do nada" naquela fração de segundo para mandá-lo apresilhar o dispositivo e manter-se vivo.
Ao ser flagrado na infração do Art. 167 do CTB, não adianta ainda falar "Sinto muito, seu guarda, vou colocar o Cinto", pois infração constatada é auto gerado (Ato Administrativo Vinculado). Prefiro mil vezes fazer esse auto de uma infração grave (valor de R$ 127,69 + 5 pontos na CNH) do que ter que atender seu acidente e recolher pedaços para entregar para a família fazer o enterro...



PRFoxxx

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Amigo PRFoxxx,

    Essa questão é de suma importância. Já tratei dela algumas vezes no meu Twitter(@SagaFederal) inclusive ressaltando também não só o uso do cinto mas também da Cadeirinha para as Crianças(outro tema importantíssimo que gostaria que abordasse).

    É lamentável que a grande maioria das pessoas só aprendem depois que o sofrimento bate à porta.

    Excelente post. Parabéns.

    Abraços,

    @SagaFedearal

    ResponderExcluir